segunda-feira, fevereiro 25, 2008

10 dias no Hospital

Estou no Hospital faz 10 dias. Estar no hospital nem eh tao ruim assim. Em outubro um dia antes de voltar do Marrocos, senti um choque na mão. senti de novo no avião, em casa e ai acabei indo ao hospital. La chegando achando que eu tinha uma nervo pinçado me fizeram ir fazer uma tomografia. Saindo da tomografia ainda tranqüila, vi o neurologista chegando com cara de pesar e me informando que eu tinha uma assimetria no cérebro. Quis me jogar pela janela. Eu que nunca tomei nem aspirina. Medrosa. Fui mandada para fazer ressonância... usei todos os exercícios de respiração que eu conhecia para me acalmar. Fui internada. Queriam que eu fizesse uma punção (exame onde se tira um liquido da espinha), e eu que morro de medo disse que não. Fugi do hospital e joguei o meu ateísmo pela janela para ir procurar todas as pessoas religiosas e templos que eu conhecia.

Haiko, ateu, e Juliana agnóstica, me acompanharam em tudo. Apesar de terem opiniões distintas eles respeitaram as minha decisões. Por isso serei eternamente grata! . Conheci um Yogi, que falou comigo, e disse que eu precisava mudar minha vida. Ele,um homem moderado, me falou para continuar tomando os anti-convulsivos que me tinham sido dados e mudar a minha vida. Eu que não estava estudando, nem trabalhando meio que definhando e arrumando um milhão de viagens para fugir da minha vida tinha que mudar. Mudei radicalmente no começo, e me lembro do Yogi me dizer que moderação e longevidade seria mais importante do que radicalismo a curto prazo. Foi categórico: senão isso desaparece nesse lugar e aparece em outro.

Então, eu que não gosto nem de tomar aspirina fui procurar um medico que me mandasse parar de tomar o remédio. O encontrei.Parei. Passou outubro, novembro, dezembro, janeiro, e no dia 15 de fevereiro enquanto eu falava com minha mãe no telefone perdi a fala. Não o pensamento, não a voz, mas a articulação. Eu que estava ansiosa há 4 meses, soube na hora que nao havia mais desculpa eu precisava entra ir ao medico.

Sem articular muito bem consegui contatar o Haiko que em 20 minutos estava em casa. Fomos ao GP (clinico geral), que a 1 da tarde me mandou voltar as 3:50. Esperei ate as 3:50 e ao ver meu histórico a GP achou melhor marcar uma consulta com o neurologista. Quanto tempo?? perguntei. Dentro de 3 semanas. E se eu tiver outros ataques??? Ao que ela respondeu 1 por dia tudo bem, mas se tiver mais que isso vá ao Hospital.

Quando relatei isso aos meus pais, eles me mandaram pegar o avião imediatamente. Encontro meu pai comprava uma passagem para 4 horas depois, eu jogava umas coisas na mala. saímos direto para o aeroporto. E mais uma vez a Juliana e o Haiko foram me apoiar la.

Cheguei em são paulo no sábado de manha e vim direto para o hospital. Como minha mãe já havia falado com o medico, já me esperavam aqui. O primeiro achou meus sintomas meio difusos parecia mais uma coisa psicológica . De qualquer jeito imediatamente me mandou para ressonância. 2 horas depois estava la meu resultado e de fato com uma anomalia. Não tinha mais jeito, eu ia ter que fazer a punção. Todo o meu medo tinha sido injustificado. O medico um artista, tirou licor da minha espinha sem eu sentir NADA!

Ai veio o time de neurologistas. Eu tenho 4. E me contaram que eu tinha 2 lesões do lado esquerdo. Fiquei em estado de choque.. Como esquerdo, em Londres era no direito?? Os médicos acharam que eu estava enganada, mas eh claro que não me disseram isso. Haiko no entanto, conseguiu mandar os exames.... e um por um ficou perplexo. Fui mandada ate ao Sao Jose, novo hospital da Beneficiencia Portuguesa para que um outro medico avaliasse. La passei 1 hora e 50 minutos dentro da melhor maquina de ressonância de sao paulo.

Quando sai de la. Os médicos tinham um diagnostico. Nao totalmente claro, pois eu tenho algumas contradições. O que eu tenho são lesões causadas por desmielinação ( em termos simples a perda das capas dos fios do cérebro). Bom, isso pode ser causado por Adem (ACUTE DISSEMINATED ENCEPHALOMYELITIS), uma doença aguda que acontece uma vez por contato com vírus ou bactéria. Ou Múltipla Esclerose uma doença cronica que não se sabe porque acontece. De qualquer maneira são doenças auto-imunes, ou seja ou meu corpo reagindo contra meu corpo.

Das ironias da vida, meu Yogi deu esse diagnostico sem nem ver nenhum exame. Para ele eh de fundo psicosomatico , mas que eu preciso tratar do orgânico e depois e junto do resto. Do lado positivo eu fui aceita para fazer mestrado na LSE de Antropologia da Aprendizado e da cognição.

A equipe aqui eh um doce. E eu serei eternamente grata a cada enfermeiro, assistente de enfermeiro, faxineiro, medico, nutricionista que não apenas me atenderam mas que me fizeram sentir da melhor forma possível num hospital sem saber o que eu tinha.O choque eh você entrar achando que não tem nada e ter. Depois eh torcer pelo menos pior. Coloca-se as coisas em perspectiva, e faz repensar a vida. Aceitei e sou grata a cada prece e pensamento positivo que tenho recebido de muçulmanos, espiritas, católicos, budistas, yogues, adventistas, agnosticos e ateus. Hoje sou capaz de compreender não só intelectualmente mas emocionalmente por que os dervixes viram, porque os muçulmanos se abaixam 5 vezes, porque tem que vá a missa. Indepentemente de se acreditar em deus ou não, nesse momentos da uma forca enorme pensar no seu poder próprio de mudar as coisas, e da mais conforto ainda saber que os que crêem um pouquinho e ate os que nao creem se manifestam.

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Carnaval em Maastricht



Passamos o carnaval em Maastricht, cidade onde o Haiko cresceu. Maastricht eh uma cidade medieval no sul da holanda. Holanda, ou melhor, Paises Baixos que sao divididos em sul catolico e norte protestante, no sul celebra-se o carnaval.

A primeira vez que o Haiko me falou para irmos passar o carnaval la, fiquei um pouco apreensiva imaginando como seria o carnaval holandês... Dessa vez levei um casal de amigos com o filho e uma amiga... todos brasileiros. O Haiko nao se cansava de explicar a eles as maravilhas do carnaval de Maastricht e eu imagino que eles devam ter ficado como eu no passado: meio na duvida.

E assim como eu, eles se encantaram. Cada um com seu motivo. O meu encanto eh ver todo mundo fantasiado na rua. Da para ver que as pessoas planejam, fazem a mao, se preparam. E o resultado eh um mar de cores, de idéias, de lirismo.

As criancas, os velhinhos, os adultos todos vao para rua cantar e dancar. Cantam musicas carnavalescas que parecem as nossas marchinhas de antigamente, as vezes em ritmo meio de valsa, noutras um pouco mais alegrinha. Em meio a festa ouvimos ate hilarie em holandes!



Meus amigos acharam surpreendente perceber que com toda essas gente na rua, toda a cerveja, toda a musica nao vimos sequer uma briga, um desentendimento, ou um policial. Chama a atencao. Nao so chamou a nossa mas também de uma outra brasileira que conhecemos no aviao.

E eh incrível perceber o poder desses 3 dias na vida das pessoas. Tres dias onde ha troca de papeis e todo mundo volta a criar. Volta a pintar o rosto, dancar, rir, dividir, cantar. E eh bonito de ver as pessoas criando. Criando fantasias, personagens, ideias, pinturas, atos. E percebe-se que dentro do ambiente 'certo' todo mundo volta a brincar.