sexta-feira, março 19, 2004

Gharbzadegi

Gharbzadegi eh um termo persa criado no comeco dos anos 60 por Jalal Al-E Ahmad, um escritor Iraniano que se opunha ao Xa. A traducao seria mais ou menos "uma contaminacao ocidental" ou como diria um amigo meu uma Occidentosis.

Gharbzadegi eh uma doenca que causa aos contaminados uma obsessao com o ocidente. ( arte, politica, capitalismo e especialmente o fascinio pelo ocidente e sua concebida grandeza) nesse processo os afetados por gharbzadegi perdem sua propria identidade e se conformam a coisas estrangeiras espirita e culturalmente destrutivas.Escreveu-se sobre os Iranianos estarem infetados, eu concordo com meu amigo Brian, acho que todos nos estamos infetados, Ocidente e Oriente.

terça-feira, março 16, 2004

Rabbit Proof Fence



Dirigido pelo australiano Phillip Noyce Rabbit Proof Fence conta a estoria real de Molly Craig uma menina aborigene que conduz a prima e a irma na fuga de uma instituicao governamental australiana.

Western Australia,1931. A constituicao dava direito ao governo australiano de retirar todas as criancas mesticas das reservas aborigines. Essas criancas eram mandadas a um campo do governo para serem ocidentalizadas e treinadas e assim virarem servicais. Um dos objetivos do campo era o de eliminar uma terceira raca. Essas criancas mesticas eram casadas com brancos para que os tracos aborigenes desaparecessem.

O filme comeca com Molly, sua prima Gracie e sua irma Daisy cacando e andando com a avo e mae por Jigalong ( lugar onde moram e tambem nome do povo e lingua). Logo em seguida somos introduzidos a Neville, chefe de assuntos aborigenes que explica a politica empregada. Vemos tambem um oficial examinando a aldeia e procurando criancas mesticas. A cena seguinte eh terrivel, jah com o mandato o policial volta para levar as meninas embora.



Molly Craig, sua prima Gracie e sua irma Daisy sao arrancadas de sua familia e levadas a um campo ha mais ou menos 2400 km de distancia de Jigalong.





Freiras tomam conta do campo e as criancas sao proibidas de falarem outra lingua que nao o ingles. Sao acordadas para irem a igreja e no caminho veem uma menina trazida pelo "rastreador". A menina eh colocada num quartinho escuro e nao se sabe direito o que acontece com ela. Ainda assim Molly resolve fugir e levar consigo sua prima e irma.



Para se orientar Molly segue a rabbit Proof fence uma cerca que cruza o pais.



O filme eh interessantissimo alem de ser muito bonito. Essa geracao de pessoas retiradas de suas aldeias eh conhecida como a geracao roubada.

segunda-feira, março 15, 2004

School days



Patrick Chamoiseau em seu livro "Chemin D'ecole" escreve sobre um menino que luta para manter sua individualidade e cultura em uma escola que faz tudo para destrui-la. O livro se refere aos seus proprios "school days" na Martinica colonizada.

Na primeira parte do livro "o pequeno menino negro" enlouquece a mae para que ela o deixe ir a escola. Tudo que eh valioso vem de la. Ele observa os irmaos mais velhos e o ritual que se origina da ida a escola.Na segunda parte do livro ele se arrepende.

O livro eh escrito liricamente num estilo magico realista. A escola mais do que nunca eh uma instituicao que desvaloriza a cultura local. O "creole" aos poucos perde seu valor como lingua e ganha um carater pejorativo. Tudo que eh imporatnate eh dito em frances, o resto eh relegado ao creole. Tudo que eh nativo e local passa a ser mal visto. Tudo que eh europeu e "civilizado" passa a ser o objetivo.

O livro eh duro e belo. Belo pela maneira poetica, visual e quase ingenua que eh escrito. Duro pela total destruicao da cultura caribenha e pela aceitacao do sistema. Mais duro ainda pela disseminacao da ideia de que ocidentalizacao do mundo eh o bem maior.

Faz pensar em Aime Cesaire e o seu "discurso sobre colonialismo" faz pensar em "Things Fall Apart" do Nigeriano Chinua Achebe. Faz pensar em Said e Fanon. Se jah nao eh violencia suficiente uma intervencao militar, a cultural e linguistica eh aniquiladora. Faz pensar no Oriente Medio, No Brasil... enfim no mundo em que vivemos



Patrick Chamoiseau nasceu em 1953 em Fort de France, Martinica, onde ele agora vive. Estudou direito em Paris e eh tambem autor de um livro historico sobre as Antilhas e tambem " In Praise of Creoleness" e " To Write in a Dominated Country". Seus romances sao "Chronique des sept miseres" , "Solibo le magnifique" e "Texaco". Ele tambem publicou um volume de memorias folcloricas caribenhas e memorias da sua infancia. Em 1992 Patrick Chamoiseau recebeu o premio Goncourt por Texaco.

quarta-feira, março 10, 2004

Nao conheco os passos dessa estrada...




Comeco hoje mais um Blog. Longe de casa estah la abandonado as moscas. Algumas pessoas me escrevem perguntando quando eu volto a escrever e eu respondo que volto nao. Longe de casa fez parte de mim e ironicamente me parece que na verdade que mais longe de casa estou agora sem as pessoas que faziam a minha casa aqui. Leila no Marrocos, Jocelyne no Texas...

Assisti algumas semanas atras a uma palestra da Azar Nafisi, escritora Iraniana que escreveu "Reading Lolita in Tehran". Muito do que eu li e ouvi dela me marcou no entanto, uma frase me marcou mais e eu continuamente a repito..

' Nao ha nada mais perigoso do que se sentir em casa, em casa."

Segundo Nafisi, quando nos sentimos em casa na nossa casa deixamos de questionar valores, conceitos, aceitamos tudo sem nos questionarmos. Quando longe de casa, somos obrigados a criar nossa propria casa, nosso proprio lar, com nossos valores, conceitos e duvidas. Longe de casa por tanto sempre sera esse meu lar.

Mas aqui comeca "descolonizando a mente" pois longe de casa sou um novo eu. Esse novo eu tem a cada dia mais duvidas e se percebe cada dia mais colonizada. Enfim, essa nova Julieta usa tambem oculos. Ainda pretendo escrever aqui a importancia que esses oculos adquiriram para mim. Nao apenas por ser capaz agora de enxergar matizes antes esquecidas mas por estar aos poucos atras deles desenvolvendo uma nova personalidade.

Sejam portanto todos benvindos...