quarta-feira, dezembro 23, 2009

Richard- II

Pergunto ao Rcihard se ele tinha estado na Guerra. Ele confirma com a cebeça e um sim mais para dentro que para fora. E eu sei dentro de mim que ele nao quer realmente falar sobre o Vietna, mas que ele estava sozinho e que queria simplesmente conversar. Quem me conhece sabe, que eu converso com todo mundo. Entao começo uma conversa longa com Richard, fazendo perguntas sobre a vida dele, sobre a viagem dele, sobre seus aviões, seus curativos na perna. No começo confesso que por caridade, mas eventualmente, eu passei de fato a querer o Richard muito bem.

Ele beirava um pouco o autismo. Todas suas camisas eram iguais. Compradas na Tailandia na sua quarta viagem, tinha pago não sei quantos Bhats. Ele sabia. Eram boas pois eram do tipo que ele lavava na pia torcia e secava. Ele me explicava com sua voz quebrada, grave, lenta, e os gestos que acompanhavam algumas palavras de ação (torcer, lavar). Richard gostava de aeromodelos e andava sempre com sua revista sobre avioes na mão. As sete da noite ia num bar beber sua cerveja e conversar com suas “ladies friends” me convidaria mas o lugar nao era de fino trato. As 8:30 usava a internet por uma hora, as 9:30 voltava a um outro bar para tomar a segunda e ultima cerveja do dia. Com Richard tudo era assim, ritualístico e explicado. De maneira muito educada.

E eu fui aprendendo tudo sobre a vida dele. Mora sozinho en Darwin na Australia numa boarding house. Constroi tudo que ele precisa, tudo no quarto dele eh em cima de rodas. Faz 12 minutos de abdominais, descansa um e meio depois mais 9 minutos e descansa um e meio, entao 20 flexoes, e descansa 1 minuto. Para poder fazer tudo isso, no quarto quarto minusculo onde ele mora Richard empurra todos os moveis para um lado ( e eu vejo mais uma vez ele fazer a mimica da operacao), levanta a cama, para fazer seus exercicios, empura os moveis para o lado oposto. Nao é muito o que ele tem: Uma comoda, uma banco, uma estante e a cama. Foi piloto na guerra. Pergunto se ele tem amigos, e ele responde que tem as pessoas do boarding house, mas nao sao exatamente amigos, vivem bebados. E o Richard so bebe quando vem a Tailandia prefere economizar esse dinheiro o ano todo.

Convido-o para se juntar a nos para jantar. Ele fica confuso tem que ir beber sua cerveja as 7. Gavin diz a ele que ele pode ir beber depois do jantar, nos o acompanharíamos. Ned faz perguntas sobre o aeromodelos, todos meus amigos de Mut Mee se empenham como eu em faze-lo sentir se bem-vindo. Ele vem. E me agradece muito. E quer no levar no bar. Aceitamos. Assisto ele fazer elogios as “mocas” do bar. Galanteador, um gentleman. Quer pagar todas as nossas bebidas. Ele nao tem muito mora numa boarding house. Junta dinheiro o ano inteiro para vir a Tailândia. No dia seguinte toma café conosco, e pelos próximos 12 dias que eu fico ele se junta a nos. Não como imposição, sempre como convidado que vai ficando mais querido por todos.

sexta-feira, dezembro 18, 2009

Richard- I



Ja que eu mencionei o Hans, deixe me contar sobre o Richard. Na Mut Mee pousada onde eu passei muito tempo em Nong Khai ha mesas num jardim de onde se ve o rio Mekong. Sao cobertas por “cabaninhas” de palha e ali sentam se todos os guests. O sistema é para la de informal. Cada quarto tem seu caderninho. Quando voce quer beber alguma coisa, pega na geladeira e anota no caderninho. Quando quer comer escreve no caderninho e leva a mesa da cozinha. Ai voce senta e umas das mocas que trabalham na cozinha vem trazer. O sistema é informal, o lugar é pequeno, e eu falo muito. O que resultou em eu conhecer quase que todo mundo hospedado. Algumas pessoas como eu, vinham para passar um dia e iam ficando, cativado pelo charme do jardim, pelo Mekong e pelos outros viajantes. A Mut mee é tão aconchegante que um pequeno vilarejo de viajantes que ficaram se formou atras da guesthouse. Todo dia tem meditacao as duas da tarde, tem uma livraria, bicletas, e uma bar barco cheio de almofadas flutuando no Mekong. Nada disso faria muita diferença para mim se não fossem as pessoas. As pessoas que trabalham na Mut Mee, que se mudaram ha anos para as casas de tras, e os viajantes são pessoas com quem eu me identifiquei muito.

Quem nunca viajou por um longo tempo talvez nao saiba, mas quando vc fica vaijando por meses de repente encontrar lugares que parecem “casa” é o que há de mais valioso. No sentido, de que como tem-se tempo ja nao viaja-se naquela sangria desatada de ver um milhao de coisas todos os dias. Para-se e contempla-se o presente, as pessoas, seus costumes. Isso aconteceu para mim primeiro em Nong Khai. Nong Khai cidade de passagem para os turista. Parada entre quem ta saindo da Tailandia para entrar no Laos. Eu, e muitos ficamos.

Assim, que todas as manhas quando eu ia me sentar na longa mesa de Madeira para pedir meu musli tropical eu encontrava outros viajantes. Começavamos conversas infidaveis, sobre destinos, pessoas, politica, musica… e um certo dia enquanto eu ouvia o Gavin, meu amigo canadense, contar sobre seu encontro com o “Sultao de Brunei” no Vietnã, um senhor velho de camisa azul e shorts, curativo na perna, disse de uma maneira meio estranha ( uma fala meio devagar, meio quebrada) mas enfatica que ele nunca iria ao Vietnã. Eu olhei para o lado, para o seu rosto e soube de cara, o Richard tinha estado na guerra.

sexta-feira, dezembro 11, 2009

Pitanga em Pé De Amora



Eu continuo em Sao Paulo e ontem foi a festa surpresa do meu quase primo. Quase porque na verdade ele é primo do meus primos, mas ele cresceu comigo, entao " it feels like" primo mesmo :) Enfim, minha quase tia, mãe dele, organizou a festa. Festa que deixou os dois muito emocionados. E sabe como é, relacionamentos são sempre dificeis. Pais e filhos então. Nos esperamos por lá, 65 pessoas, sem saber se ele apareceria. E se no caso dele aparecer se ele odiaria. Mas ele apareceu e ficou de fato surpreso, chocado, estarrecido, emocionado. Bem no final da noite, ele ainda parecia flutuar meio perdido.

Minha quase tia, chamou um grupo que ela gosta muito para tocar. O Pitanga em Pé de Amora. Eu já moro fora tempo o suficiente para não conhecer ninguem. Então não me surpreendeu nunca ter ouvido falar deles. Ela tinha me dito que seria uma roda de samba, entao eu fui mentalmente pensando em outra coisa. Eis que chega um grupo composto por 4 meninos e 1 menina, todos jovens. E os instrumentos em display ja mostravam que a minha ideia pre concebida estava errada.

E eles comecaram a misturar samba, choror, jazz valsa, xotes, frevo, clarineta, flauta, escaleta, violao, tambor, trumpete e eu senti aquela saudade que só a música é capaz de causar em mim. Assim como no ano passado quando eu passei noites ouvindo no Bip Bip em Copacabana, a velha e nova geração do rio tocando samba, choro, chico. Uma saudade que vem de lugares inexplicaveis dentro de mim. Eu acho que é a musica o que me faz mais brasileira. Eu não sou nacionalista. Não acho que eu me identifique mais com um brasielrio do que um turco, um chines, ou uma eslovaca. Acho que as pessoas sao iguais no mundo, em toda sua diferenca sao capazes dos mesmos atos de altruismo e crueldade, dos mesmos sentimentos. E oque me liga a uma pessoa é o sentimento que eu sinto em relação a ela, e este não é definido por nação. Mas a música, talvez ainda mais que a lingua, me faça me perceber mais brasileira.

Não que eu não sinta saudade de ir no Smalls em NY ouvir Jazz, passar tardes a fio tocando, ouvindo meus amigos do mundo a fora tocando a musica deles. Eu sinto saudade do meu ano de faculdade de música, de ouvir meus talentosos amigos musicos de NY, eu me emociono quando ouco musica do Mali, ou classica, ou um milhao de outras coisas. No entanto, tem alguma coisa que acontece quando o ritmo é sincopado de maneira brasileira. Tem alguma coisa internalizada dentro de mim, é como assistir um senhor argentino dançar tango, sem grandes acrobacias, mas aquele amor, aquele ritmo internalizado na respiracao.

Eu ja viajei muito. Eu ja morei em muitos lugares e eu posso dizer que eu me sinto em casa e fora de casa quase que em todo canto. É um sentimento comum a alguns dos meus amigos que tiveram o mesmo tipo de vida. Meus grandes amigos, as pessoas que eu sinto que dividem o que é de precioso estão espalhados por continentes. Eu nunca morei numa casa o tempo suficiente para criar vinculos com o material. Agora a música. A música é outra coisa. Ela toca no amago. E ela desliza dentro de mim, visitando todos os cantos, e vai fazendo um caminho so dela. E quando eu encontro essa musica que me é estranhamente familiar, a musica brasileira, ainda que misturada com a musica do mundo, tocada de maneira tao brasileira, ai nao da, ai ela tem acesso a lugares que as outras nao tem. Os lugares privados dentro de mim. E aí me dá uma saudade. Dessas de quem se sente assim um pouco "Pitanga em Pé de Amora."

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Concurso de Ingles- II

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No famigerado dia da "speech competition", meu segundo dia no vilarejo, acordei e me arrumei com roupas locais ( uma vendedora apareceu na minha escola no dia anterior com blusas tailandesas), e me preparei para ir ao tal concurso. Nesse dia eu ainda nao tinha minha rotina, eu ainda nao estava adaptada o suficiente para prestar atencao no todo. Eu estava ainda muito mais centrada em mim. So com a minha catarse no funeral da mãe da professora que eu sairia de fato de mim para poder observar o tempo, e ver o vilarejo passar. Nesse dia, eu ainda nao sabia o que fazer, o que estava errado, que linhas invisiveis de regras eu estava quebrando, e quão sério isso seria. Olhando para tras eu percebo que eu ainda não sabia nada. Nada sobre as crianças, nada sobre a Horm, ou Ban Nonpho, e de certa fomar, eu estava em "total denial" disso. Em "total denial" que era tudo diferente, que apesar de eu ser de pais tropical, apesar de eu ter estudado antropologia, toda aquela mudança me afetava. Como é engraçado isso. A sensação concreta que eu ja os conhecia. Eu olho para o passado, para esse segundo dia, com o que eu sei de todos eles hoje, e é tão dificil realmente saber o que eu pensei, porque minha categorias estão formadas. Eu penso nessas lembranças do passado com o carinho que eu sinto hoje. Eu tentarei no entanto, sabendo que é impossivel, escrever como eu me senti naquele dia.

Fazia calor, como quase todos os dias, e nem o calor eu consigo realmente lembrar. Ele fica teorico na memoria. Quando eu penso no ar oco e solido e parado ao mesmo tempo. Eu lembro do calor melhor. So a palavra "calor" é vaga. Enfim, eu que tinha pavor de motos, subi numa pequena scooter junto com Horm, Tangmo e Tanoy, e no maior estilo sudeste asiatico nos transportamos para escola do distrito de Khon Kaen para a famosa competicao. Senti meio que desespero naquela rodovia, 4 pessoas numa lambretinha, carros e caminhoes passando a volta. Cheguei a uma escola muito grande, muito diferente da minha escolinha primaria rural que abrigava 50 alunos. Essa devia ter centenas de alunos. Fui levada a sala onde seria a inauguracao e apresentada a dezenas de professores de ingles. Alguns falavam inlges bem, uma professora da escola mais chique do distrito era uma perfeita britanica. Outros mal conseguiam se comunicar. Logo percebi que em matéria de entusiasmo e alegria ninguém chegava aos pés da Horm.

Todos quiseram tirar fotos comigo. Eu sentei por horas a fio sem entender nada. Tanoy, 12 anos, mais comportada. Tangmo, 9, pegou minha mão. Eu que não sabia que issso não era tão comum, fiz carinho nela. Ela colocou a cabeça no meu colo, e eu percebi que todas as pessoas a volta me olhavam. Depois de muita e muita espera, discursos em Thai era hora do almoço. Eu não quis comer. Eu era Jeh ( vegetariana), então as crianças que em dois dias já sabiam disso nao me trouxeram comida. Trouxeram frutas. Eu agradeci. E na tamanha confusao, eu acabei nem vendo a Tangmo fazer o discurso dela que tanto praticamos. Vi Tanoy, vi ela me olhar meio perdida quando nao lembrava de uma palavra. Tudo tao desorganizado. Tudo informal.

De repente, como quem nao diz nada de importante, Horm, me conta que Tangmo tinha sido segunda na competicao. O que para minha minuscula escola era o equivalente a um nigeriano ganhar medalha nas olimpiadas de inverno. Eu fiquei super feliz. Tiramos fotos dela recebendo o diploma. A Tangmo, que tinha so 9 anos, que morava com os avos, que era super pobre. Eu pensei na Tanoy. Estaria ela desapontada? Perguntei a Horm, e ela me responderia a frase que ficaria claro para mim que eu tinha escolhido o lugar certo. Que por sorte eu tinha caido na casa de alguem que tinha valores que eu admirava.

"Non Chu, Claro que nao. Ela sabe que é muito dificil. Ela fica feliz de vir aqui, de passar tempo com voce. E eu não estou preocupada se elas ganham ou não, eu só quero que elas tenham momentos de alegria. A vida deles é dura sabe?"

Eu não sabia naquele dia. Aquela frase era emblemática de como seria o meu tempo lá. De como a Horm, vivia a vida dela. De como toda a bagunça da escola, ou as regras incompreensiveis para mim eram reflexo dessa filosofia. Os momentos de alegria na vida das criancas eram fundamentais. E a alegria não vinha de momentos muito especiais, mas do banal, do dia-a-dia. Não de ganhar a competição, mas de ir até lá, de passar a noite na casa da professora aprendendo coisas com a Farang ( estrangeira), de jogar banco imobiliário sem ter nenhum vencedor ou perdedor.

terça-feira, dezembro 08, 2009

A Máquina

Faz exatamente uma semana que eu cheguei a sao paulo. Cheguei e fui direto ao hospital para fazer meu exame. Uma ressonancia magnetica do meu cerebro. Ha dois anos eu cheguei e fui direto para ficar la internada. Eu confesso que já não me lembro tão bem. Quando eu me esforço eu lembro de não querer mais que a enfermeira na minha segunda ressonancia injetasse mais contraste em mim. Doia. Eu lembro de pensar, chega nao quero mais fazer isso. Do meu olho encher de lágrimas. Querer parar. E perceber que ao contrário de tudo na vida que eu podia simplesmente ir embora, dessa vez eu tinha que ficar. Eu lembro de acordar no meio de uma noite me sentindo envenenada por tanto remedio sendo injetado dentro de mim. Lembro ouvir zunido enlouquecedor na minha cabeça, tocar o cabelo e sentir um som metalico, dormir sentido que meu cerebro revirava. Lembro de chamar a enfermeira e falar para ela parar com aquilo. De insistir para eles falarem com o medico. Me esforçando agora, eu me lembro claramente de pensar " nossa, será que é isso. isso é ser doente? será que eu vou ter que aprender a viver assim? Lembro deles voltarem e desligarem o aparelho, e de eu esperar que parando o remedio eu melhorasse. Melhorou.

Depois eu lembro só de coisas melhores. Do monte de visitas. Da doçura das enfermeiras e enfermeiros. De ver em seus olhos pena de me ver ali no andar de neurologia. Um andar cheio de pessoas uns 40 anos mais velhas que eu. E logo em seguida de me sentir tao bem que eu fazia yoga e deixava os medicos e enfermeiras perplexos com os meu asanas. Ter que esperar por dias eles descobrirem o que eu tinha. E partir de la sabendo que eu tinha tido um processo de desmielinizacao. Tendo que torcer para que isso não acontecesse mais. Que fosse um episodio unico e isolado, e não cronico. Se meu sistema imunologico continuasse a lutar contra meu cerebro, caracterizaria-se entao, esclerose multipla.

Esse ano eu voltei pela terceira vez ao mesmo hospital, para fazer a ressonancia com a mesma senhora, no mesmo lugar. O ano passado meu exame tinha mostrado otimos resultados. Este ano eu estava com mais medo. Afinal eu tinha tido aquele pequeno curto circuito :) E demora uma eternidade esse exame. Especialmente dentro de mim. Sabendo que aquela maquina esta olhando dentro para ver o que eu nao vejo. Aquela maquina que vai decidir se eu to bem ou nao. Ainda que eu me sinta pessima, ou otima, é aquela maquina que vai dar o veredito. Entao, eu fico la dentro e enquanto eu fico imovel o mundo passa dentro de mim. Oscilando entre a total calma e o total desespero desencadeado por nao lembrar o nome do monge budista, ou melhor o bodisatva tibetano que eu conheci na India. Sua Santidade o Karmapa. Incrivel como um pensamento desencadeia uma serie de reacoes dentro do meu corpo. E eu vou da total imobilidade interna, a um verdadeiro desespero. E entao eu foco no meu amigo Maciek, polones yogi, o simbolo para mim da paz. E eu paro. E vou para minha casa. Sem nem saber como me sinto. Tenho que esperar 3 dias para pergar o resultado.

E quando chega o dia eu vou la. Pego meu exame para levar ao meu medico. E como sempre abro imediatamente. Ouvindo os protestos dos que estao ao meu lado. Mas ninguem, ninguem tem mais direito a ver esses resultados do que eu. Ninguem. E eu olho tudo, e meu olho ja desliza sabendo onde buscar. No final, na conclusao eu leio depois de muito bla bla bla que eu nao entendo, que meu exame nao mostrava nova alteração. Eu choro. Nao desesperado. Um choro de alivio. De quem nem sabe direito que essa faca pendurada em cima da cabeça causa tanta ansiedade. Um choro de alivio de quem sabe que a faca continua lá mas mais distante. De quem quer viver a vida, conhecer o mundo, de quem quer descobrir e explorar todos os seus limites. Encontrar-se de verdade. E eu agradeco a maquina por convencer a todos que eu posso fazer tudo que eu quero. E percebo que ironicamente sou eu quem mais precisa da confirmacao da máquina.

sexta-feira, dezembro 04, 2009

ADD

O concurso de Ingles- I



Logo no primeiro dia que eu cheguei a Ban Nonpho ( a escola que eu voluntariei no pequeno vilarejo rural da Tailandia), Horm, minha anfitria me pediu para ajudar duas meninas, Tanoy e Tangmo se prepararem para o concurso de ingles. Deixa eu começar do começo afinal muitos que vem aqui nesse blog não receberam todos os e-mails que eu mandei da Asia. O meu vilarejo tinha mais ou menos 100 casas. Da minha casa, eu nao via nenhuma dessas outras 100. A casa era de madeira, simples, não havia agua corrente, nem ventiladores, os banhos eram de cuia, o calor desesperador, e eu nao entendia absolutamente nada do que ninguem alem do Hans, e um pouco a Horm falavam.

Logo no meu segundo dia eu cheguei a Ban Nonpho. A pequena escola rodeada por arrozais, assim como o resto das casas. A pequena escola aberta para quem quisesse entrar ou cruza-la por qualquer razao, e a qualquer hora. A escola onde a minha ideia de "disciplina asiatica" se desmoranaria. Nesse primeiro dia, eu ainda nao sabia nada disso. Nao sabia que seria tudo uma grande bagunça entao quando Horm veio me pedir para praticar com Tangmo eu peguei o papel e fui praticar. Um pequano texto. Ou melhor 4 pequenos textos. "Me" "My family" " My school" "Food". Eram pequenos "speeches" escritos pela propria HOrm, que apesar de ser professora de ingles fazia varios erros.

O papel me foi entregue, e Tangmo veio comigo. Comecou a recitar o tal texto que tinha em algumas partes coisas escritas em Tailandes. Ela 9 anos, sem falar quase nada de ingles. Eu 27 com um texto que eu mal entendia sem falar nada de Thai, ou Lao. Sentamos e ela comecou a repetir, uma vez atras da outra, fazendo sempre os mesmos erros, eu sempre perguntando o que era as mesmas palavras em Tailandes, esperando que Horm reaparecesse alguma hora para dizer que ja estava bom. Nesse altura eu ainda nao sabia que as classes de alunos eram abandonadas ao deus dara de acordo com a vontade do professor. Entao, fiquei la com Tangmo espeando que logo, logo a Horm voltasse.

Nao sei quanto tempo se passou, mas o calor desesperador ajudou a aumentar a sensacao de exaustao. E eu queria perguntar a Tangmo se ela nao queria descansar. Ela nao me entendia. Eu nao a entendia. Entao ela comecava tudo de novo. Os mesmos erros, as mesmas palavras que eu nao sabia o que eram por horas a fio. Quando de repente eu achei que eu ia matar a menina de cansaço resolvi ir procurar a Horm que estava praticando com a Tanoy. Para minha surpresa elas nao estavam na classe, a classe estava abandonada com os alunos dentro fazendo sei la o que. Procureu numa outra sala. Ainda nao me sentindo muito dona dos meus passos, ainda nao sabendo o meu caminho, sendo olhada sem parar por todas as pessoas, ainda sem saber que atos meus poderiam estar transgredindo as normas.

Encontrei a sala da frente. E dentro vi Horm e Tanoy deitadas no chao debaixo do ventilador rindo, gargalhando. Era assim que elas estavam praticando. Brincando. Descansando. Nao hesitei, exausta que estava fui até elas e me deitei, tive um acesso de riso. E lá ficamos um bom tempo.

"Non Chu, the girls will come sleep over tonight so that you can help them practice!" me disse a Horm.

"Como assim? Elas ja nao estao exaustas? "

"Que isso Non Chu, elas adoraram poder vir dormir na minha casa e passar mais tempo com voce."

Naquele dia eu ainda achava que para Horm elas deviam vir porque eu ia auda-las com o ingles. Depois eu compreenderia que as prioridades de Horm eram bem diferentes!


terça-feira, dezembro 01, 2009

Hans- parte III

Eis que um dia, muitos dias depois da nossa viagem ao Laos para trocar o visto do Hans, ele vem me confidenciar que nao iria mais pagar os 15 mil Bhat. Sua ex-mulher, estava cobrando 40mil Bhat para dar o divorcio e ele nao tinha dinheiro.

Horm ficou furiosa. Segundo ela, isso nao se faz, “ if you love someone, you must support her.” Tentei de varias formas perguntar a ela se isso nao era prostituicao, mas ela me explicou que nao que nao tinha nada a ver. “If you love someone you must support them.”

Para falar bem a verdade, enquanto o Hans estava pagando a Ooum, eu na minha praticidade entendia. Afinal, a vida é dura num vilarejo rural na Tailandia. Para minha, surpresa , no entanto, quando ele deixou de paga-la e explicou que eles precisavam terminar, Ooum disse que nao, que gostava dele, que queria continuar com ele mesmo sem o dinheiro.

Esse foi o primeiro encontro que eu tive com essas relacoes, dificeis para mim de categorizar. Na verdade, as coisas sao muito mais complexas. Eu no comeco ficava totalmente irritada com os homens europeus com meninas tailandesas. Penetrando aos poucos tanto o mundo dos homens ( um mundo muitas vezes de homens solitarios, as vezes crapulas as vezes vitimas, as vezes os dois, as vezes nenhum), como os das mulheres Tailandesas (que muitas vezes tem muitos “maridos ocidentais” e que falam disso numa boa..as vezes crapulas, as vezes vitimas as vezes os dois, ou nenhum…:) fiquei menos “judgamental”. Quem sou eu para saber quais sao as necessidades de uma pessoa? Não é nunca tão claro assim. A necessidade financeira as vezes se mistura com verdadeiro carinho, ou quem sabe com uma maneira menos judeo-crista de experienciar sexualdiade.

Eu não quero fingir aqui que o turismo sexual em Bangkok, Pattaya, Phuket etc..não seja depre, e que nao deva ter mil vertentes de abusos. Por esses lugares ve se de tudo. Alias foi a primeira vez que eu achei que era mais facil viajar sozinha como mulher do que como homem. Os homens sao literalmente agarrados pelas ruas. Ha tambem os famosos shows de ping pong e sexo, as massagens com “happy ending”, e sem duvida nenhuma um milhao de abusos.

Mas há tb um outro lado. Os das pessoas que estao buscando uma vida melhor. Que estao buscando amor. Ou como meu amigo, Richard, um senhor de 73 anos que eu conheci em NK, estao procurando se sentirem mais humanos. Mas essa é uma outra estória.

sábado, novembro 28, 2009

Hans- parte II

Fiquei morrendo de pena da Oum. Ela é uma dessas pessoas que não dá para imaginar o que está pensando. Quieta, reservada, e por não falar ingles, ficava dificil de saber o quanto ela entendia das nossas conversas. Um riso escapado aqui e ali mostrava que um pouco ela entendia mas o quanto era esse pouco nao dava para saber. Nesse dia, ela não fez cara de nada, meio que inalterada, nao demonstrou tristeza, nem alegria. E na verdade veio para o nosso ( meu e Horm) quarto conversar. Nao sei como conversamos, rimos muito, eu fiquei fazendo minha yoga enquanto elas conversavam, e de repente o que para mim pareceu do nada, Ooum levantou, me disse boa noite, e saiu.

No dia seguinte, no cafe da manha, (os Thai comem comida mesmo de manha. Sempre arroz e mais alguma carne) nao notei nenhuma diferença na maneira como Hans e ela se tratavam. Nao eram mais afetuosos, nem intimos. Entao aliviada decidi que nada tinha acontecido. Quando chegamos a proxima cidade, Non Khai ( cidade que eu considero minha casa na Tailandia, onde eu acabaria voltando mais 3 vezes!!!) na recepcao da Mut Mee ( a guesthouse onde eu sempre fiquei) Horm fez uma confusao louca ( o recepcionista era americano), e acabou por me pedir para falar com ele, e dizer que eu tava no quarto do Hans. Tudo isso assim, na frente do cara.


Não sei quanto tempo passou, mas de repente, Hans veio me contar que estava junto com a Ooum. "Hans, mas como assim? e toda nossa conversa????" Ela me explicou, que depois de alguns dias, "totally in love" ele resolveu contar para a Horm, e que a Horm contou para a Ooum, e que aparentemente a Ooum " tbm estava in love". Eu fiquei em choque de imaginar que minha anfitria, uma professora de escola, mais velha, trabalhando de cupido, numa estoria onde envolvia duas crianas pequenas, mais um policial! A estoria culminou quando ele me disse que porque ele estava "in love" ele agora tinha que sustentar a Ooum pagando 15000 Bhat ( mais ou menos 300 libras, salario de um professor na Tailandia) por mes.

"Hans, deixa eu ver se eu entendi, voce paga para dormir com ela?"

"I support her becuase I am in love with her"

"Ta, mas se ela nao dormisse com voce, voce nao pagaria?"

Meio quieto, ele concordou. "So that is basically prostitution?".

Deixa eu abrir um parenteses aqui para explicar, que eu nao tenho NADA contra prostituicao em si. Ou melhor, que eu nao tenho nada contra adultos que decidam prostituir-se, ou adultos que resolvam ir a prostitutas. Inclusive tenho amigos dos dois lados da moeda. A questao chave para mim é que as pessoas envolvidas o facam por que querem, e nao porque sao obrigadas por terceiros ( no caso de trafico humano). Veja, que eu nao incluo aqui nem se quer as causas economicas porque eu acho que autonomia, e empoderamento são questões para lá de complexas. As minhas perguntas ao Hans, eram portanto puramente de carater antropologico, e para tentar entender um pouco melhor o lugar onde eu estava vivendo.

"Yes. I guess so."

A segunda razao pela qual eu estava curiosa era mais egoista. Era porque eu queria saber se nos estavamos correndo o risco do marido descobrir e aparecer com revolver e espada la em casa. Para descobrir isso, fui perguntar a Horm.

"Horm, o marido da Ooum sabe?" ela disse que nao. Eu ainda sem conseguir acreditar como isso era possivel perguntei a ela de onde o marido da Ooum ia achar que ela estava ganhando 15 mil!!! Bhat!!! ( muito dinheiro para um/a Tailandesa no campo) de repente do nada. E entao veio a resposta que me chocou:

"De voce!"

segunda-feira, novembro 23, 2009

Hans- parte I

Assim que eu cheguei a Chumpae, a cidadezinha mais proxima do vilarejo onde fui voluntariar, eu fui recebida por Horm, minha anfitriã, Hans, um dinamarques, Nari, uma advogada Tailandesa, e Neem, uma menina de 15 anos que era a coisa mais fofa que eu ja vi! Assim que eu cheguei eu nao entendi muito bem,a que titulo o Hans ali. Eventualmente me foi explicado que ele e Horm eram amigos de longa data. Como tinham se conhecido? Por um site de relacionamentos. O romance nunca rolou mas ficaram amigos.

Hans chegou a Tailandia, acho que uns dois meses antes de mim, e logo no aeroporto encontrou a sua futura esposa. Assim de um futuro muito breve, nao levou nem uma semana para eles se casarem. Quando eu o conheci ele estava se separando. Eu achei a estoria meio patetica, e ja fui formando na minha cabeca a ideia " tipico europeu meia idade que vem procurar mulher novinha na Tailandia". Hans era meio fechadao, meio resmungao, mas acabou se abrindo e me contando que na Dinamarca ele era sozinho. Bebia todos os dias, e que queria ser um homem feliz, e achou que tinha encontrado a mulher da vida dele. Eu ouvi tudo respetiosamente, e com uma certa pena. Entao ele me explicou que a a Nari a advogada, uma mulher jovem e bonita, estava apixonada por ele. Ele nao estava entao nao podia engana-la. Eu fiquei totalmente perplexa nao conseguindo imaginar como uma mulher super bacana, bem sucedida, inteligente e bonita como a Nari pudesse estar apaixonada pelo Hans. Das muitas coisas que eu nunca entenderia na Tailandia!

Os dias se passaram e eu fui ficando cada vez mais proxima do Hans afinal de contas ele era a unica pessoa que falava ingles de fato. Um dia, na cumplicidade que foi nascendo Hans resolveu me fazer uma confissao: "Jules, I have to tell this to someone or I will burst!!! I am in love with Oum!!!"

Bom, eu quase cai pra tras. A Oum era a secretaria da Horm, minha anfitria. Uma moca que fazia de tudo para a nossa casa. A Ooum, tinha 28 anos, 2 filhas e era casada com o policial do vilarejo! Quando o Hans me disse isso, eu meio que perdi o folego e disse muito calmamente: " Hans, PESSIMA ideia. Isso nao eh amor, voce nao consegue nem falar com ela.. E ela eh casada com o POLICIAL!!! Pelo amor de deus esquece isso. Alem do mais voce passou horas me contando quao traumatizado vc tinha estado com seu nem se quer acabado casamento. Take your time." Diante das minhas sabias palavras Hans nao teve muita opcao a nao ser concordar. E a vida seguiu calmamente no meu vilarejinho.

Eis que um dia, fui informada que teriamos que ir ao Laos para que Hans trocasse de visto. Achei otimo, e sem perguntar muitos detalhes arrumei minha mochila. Como iriamos? De carro! Que carro? o do marido da Ooum. Quem dirijiria?A propria Ooum. Assim que entrei percebi que no banco de tras havia uma enorme espada estilo "ninja". Perguntei o que era aquilo e eme explicaram que pertencia ao policial. Me deu um certo arrepio na espinha sentar ali com aquela espada, mas sem muita opcao sentei, e a viagem comecou. Uma longa viagem ate o norte da Tailandia. Assim que chegamos a primeira cidade onde dormiriamos, fomos informadas pela Horm que eu dormiria com ela, e a Oum.... dormiria o o Hans.

sábado, novembro 21, 2009

Um Encontro Inesperado

Perdemos o trem em Bruxelas. Essa é a primeira vez na minha vida que perco um meio de transporte afinal todo mundo sabe que eu adoro "me transportar" :) Estavamos voltando de Maastricht onde fui passar meu aniversario. E como todo mundo que me conhece, ou acompanha esse blog sabe eu ADORO fazer aniverario! Nao vou explicar mais uma vez pois ja expliquei o porque nesse post aqui e nesse outro aqui.

Este ano, como nos outros, parei, confesso que uns minutos atrasada, mas parei numa curta e breve meditacao porque nos tinhamos que buscar o irmão do Haiko na estação de trem. Normalmente, eu gosto de parar mais tempo, refletir no ano que passou, ou simplesmente parar numa meditacao de agredicmento. Dessa vez nao deu. Tudo corrido demais, tudo muito diferente do que eu queria para o meu aniversario. Eu queria mais silencio, mais calma. Fomos ate a estacao, buscamos e Titus, e juntos, Haiko, Titus, minha sogra, e Amanda, uma amiga de infancia, andamos pela cidade. Confesso que eu nao estava gostando tanto do meu aniversario este ano. Paramos entao num café onde eu secretamente nao queria parar, eu morrendo de fome pedi uma sopa que veio cheia de alecrim a erva que eu mais detesto. Sabe quando tudo ta dando meio errado?? Nada de extraordinariamente errado, mas tudo meio fora de lugar, tudo meio fora de como eu tinha imaginado, e funeral de imaginacao é sempre o mais duro. Enfim, eventualmente resolvi ir ao banheiro, e assim que eu estava saindo uma senhora de meia idade, veio me perguntar de onde eu era. Eu expliquei que era brasileira, conversamos um pouquinho e sai do banheiro.

Desci, e quando a senhora reapareceu eu curiosa perguntei a ela "de onde a senhora achou que eu fosse?" Ela hesitou um pouco e eu contei a ela que sempre acham que eu sou Russa. Que na Turquia achavam que eu era turca, na Asia achavam que eu era Israelense, em londres muitas vezes francesa. Ja acharam que eu sou Italiana, polonesa, do leste europeu, e até indiana! "Isso é otimo vc pode viajar muito se mesclando com o povo." Contei a ela entao que eu adorava viajar. Ela me contou que ela tinha viajado o mundo. E nao sei como foi a senhora parou ao meu lado numa alegria contagiante, e todo o meu mau-humor foi desaparecendo. Ela foi contando da vida dela, das viagens, dos paises onde morou, e eu via o marido na mesa ao lado de cabeca bem branca olhando meio fascinado, e em silencio.

"Viaje muito, viaje o mundo, veja tudo que voce tem para ver, porque eu sinto que esse é o seu espirito. Assim meio como o meu. Nao deixe de viajar e ver tudo que vc tem sede de ver, e so pare quando vc sentir que é hora. Tudo tem seu tempo. A maioria das pessoas nao entendem mas quem tem essa sede de mundo quando forcada a parar enlouquece! Eu nao sei quantos anos voce tem, mas eu sei que voce tem todo o tempo!"

Nisso, eu me lembrei na hora " Sabe de uma coisa, hoje é meu aniversario!" Ao que ela explodiu em um sorriso e numa alegria transbordante dizendo

"O meu tambem!!!!"

Nossa eu nao conseguia acreditar. Eu senti como se fosse um presentinho do universo. Aquela senhora holandesa meio esoterica comecou a dizer da personalidade de uma escorpiana. Ela então segurou as minhas maos, olhou profundamente nos meus olhos e me desejou feliz aniversario. E eu desejei a ela. Foi um momento especial para mim. Tudo meio que parou. E eu sai de la transformada. Sem perceber uma coisa meio estranha aconteceu, eu ali abri mão das minhas ideias pre-concebidas de celebrar o meu aniversario. O encontro com essa senhora, me fez lembrar que eu quero celebrar o meu espirito! Tao incompreendido por tantos. E eu lembrei que eu nao preciso lutar contra essa minha busca por liberdade, nem contra as pessoas que nao a entendem. Eu nao preciso fazer essa escolha. Tambem percebi que para celebrar a minha vida eu estava celebrando todos os que ali estavam. Entao resolvi celebra-los do jeito deles sem ficar fixa na minha ideia tao egocentrica do MEU aniversario!

E entao eu fiz o que eles queriam, e eu o fiz com prazer. O meu aniversario foi completamente diferente de como eu imaginava que ele seria. Os meus sogros ficaram muito felizes de nos ver, de ver o filho que ha anos mora longe, o Titus ficou feliz de poder passar mais tempo com o irmao, a Amanda, minha amiga de infancia, disse que esses ultimos dias foram os mais felizes dela desde que ela chegou na Europa. Eu confesso que meu aniversario nao foi exatamente como eu queria, mas as vezes é melhor assim. Um aniversario que cria tanta alegria em tantas pessoas é a melhor maneira de celebrar a vida. E do mue cunhado eu ganhei um presente muito especial. Um presente que celebra a vida de todos no planeta.

sexta-feira, novembro 13, 2009

O curto circuito

Semana passada eu tive uma crise parcial epilética. Parcial porque eu nao cheguei a fazer xixi e morder a língua. Depois de um dia ultra intenso, e de ter esquecido consistentemente de tomar meu remédio desde que voltei da Asia deitei na cama para so retomar consciência não sei quanto tempo depois. Nao, nao foi como uma outra noite qualquer. Eu deitei e lembro-me vagamente de sentir que tava começando um curto circuito dentro de mim. Eu já tive crises muito fracas antes. Mas normalmente eu sinto que preciso respirar mais e ai bebo água e me acalmo. Dessa vez nao, foi como se eletricidade de repente me tomasse por inteiro, rápido demais.

E ai é como se o tempo que ali passou nao existisse para mim. De repente, senti como se tivesse vindo de um outro planeta. Vindo bem de longe, nao como quem acorda, mas como quem nasce, ou quem muda de continente e na primeira noite, numa cama distante, onde tudo é desconhecido tem que aos poucos decifrar o local. Lembro de ver umas pessoas estranhas no meu quarto, e de ser informada que eram os paramédicos. Já consciente de ser levada de ambulância ao hospital e de ouvir de diversas pessoas estorias desses minutos que eu vivi e dos quais nao tenho nenhuma memória. Incrível isso. Aparentemente na minha eterna franqueza eu perguntei ao paramédico se ele era médico, e ao ouvir que ele era paramédico de ter dito " oh that is not that good". Dos preconceitos que quando vc nao esta ali consciente vem a tona.

Ironicamente, nas ultimas semanas na LSE na minha aula de antropologia da religião li sobre xamanismo, espiritismo, estados de mente alterados e consequentemente sobre epilepsia. Os Irmaos Karamazov me acompanharam na viagem a Asia e as crises epilépticas do Smerdyakov sempre me deixavam absolutamente horrorizadas. Eu gracas a deus nunca tinha tive uma crise assim dessas dostoyevskianas mas mesmo essa um pouco mais forte me deixou por lado aterrorizada e pelo outro fascinada.

Tao estranho esse conceito de estar aqui e não responder nada para ninguém. E ouvir de todos que te viram que você olhava através deles. Que eu parecia estar em outro lugar. E onde é será que eu estava? Depois a minha consciência foi voltando aos poucos, na descrição do Haiko, neuro-cientista é psicologo de desenvolvimento, fui voltando como uma criança, que raciocina simplesmente. Segundo o Marquinhos, um dos meus queridos housemates que tanto ajudaram nessa tumultuada noite, eu estava calma, serena. E de fato, depois de ter passado por toda a epopeia dessa crise percebi que o sofrimento maior é mesmo o de antes. É o de estar na eterna tentativa de estar em total controle, ou pelo menos na ilusão dele. O incrível de eventos como esse é perceber o quão fora de controle estamos quase que sempre e quase que sobre tudo. Eu não decido quando respiro ou paro de respirar na maior parte do dia, nem quando bate meu coração, nem como as sinapses acontecem no meu cérebro, nem que endorfinas são ou não liberadas. E por alguma razão eu tenho essa sensação de eterno controle. E esse necessidade de me sentir sempre em controle me desespera. Ironicamente a crise, ou melhor esse minutos perdidos de mim... sao os momentos mais tranquilos que eu tive em muito tempo. Acho que deve ser o que deve ser o sentimento de parar a mente em profunda meditação. Com a diferença que a meditação é total consciência é claro.

Pela terceira vez, pelo terceiro ano eu terei que fazer uma ressonância magnética do meu cérebro esperando que ele esteja bem, agora no dia 30. E por mais que eu tente ficar calma, vai chegando perto e eu vou ficando desesperada. Desesperada do meu jeito que não é nunca o mais óbvio para os outros, mas é sempre somatizado no meu corpo. E nessa épocas os pensamentos filosóficos, fenomenológicos, espirituais, cognitivos ficam mais presentes do que nunca. Onde será que eu estava naqueles minutos que existem só para todos que me viram? Seria a consciência puramente uma propriedade emergente do cérebro ( como defendem os neuro-cientistas), e que naquele curto-circuito ela simplesmente deixou de emergir? Ou sera que "eu" estive em algum outro lugar? Seja como for apesar de eu entender um pouco melhor a máxima budista que tudo é perfeito no presente, e que o sofrimento vem de estar fora dele, eu ainda limitada que sou, controladora que continuo, com menos medo desse lugar calmante que desapareceu no vácuo de mim, no mistério da existência, por enquanto, prefiro ainda ficar consciente por aqui. Ainda que isso seja uma ilusão.

terça-feira, novembro 03, 2009

The Travel Bug

"Como foi la na Asia?" É a pergunta que eu mais ouço quando eu encontro com alguem que eu nao vejo já faz um tempo. A segunda pergunta é " E ai como é estar de volta?". Essas duas perguntas sao as perguntas que eu tambem faço aos meus amigos viajantes, e que eu sei que não há como responder. Como colocar em uma frase todos esses sentimentos ambivalentes, todas as pessoas, gostos, cheiros, sensações e experiencias?

A segunda pergunta eu geralmente respondo dizendo que como eu ja estou acostumada com essas idas e vindas o meu retorno foi so mais um. E que eu ja estou adaptada de novo. Mentira. Acho que essa é a mentira que meu corpo quer acreditar. No entanto, toda a vez que eu vejo o status update de algum amigo viajante no Facebook dizendo "Tomorrow Myanmar" "Anyone in Vientiane? ", "Climbing in Railey..", "Stranded in Pak Ben", o meu coracao aperta. E eis que ontem, eu parei sozinha para olhar a minhas fotos. E meu deus como apertou. Que saudade das criancas da minha escola. Do cheiro de comida de rua nos night markets. As eternas massagens. As estorias, os sorrisos. Os perrengues. As jornadas exaustivas. Os dias pelo barco no Mekong. A enorme liberdade de poder decidir trocar de pais como quem troca de calcinha. Variar de roupa é um luxo maior do que de cidade pois a mochila carrega pouco.

Falando online agora com minha querida amiga Gabi que se mudou esse final de semana para Bangalore na India sem nunca ter antes estado la a minha saudade apertou ainda mais. Eu tentei alivia-la do stress do primeiro momento. Ele me contou dos banhos de cuia e eu lembrei dos meus. Da vontade de chorar no primeiro, do medo da agua ser muito suja, e de querer acima de tudo achar que tudo era normal. Lembro tambem que aos poucos comecei a achar que o banho de cuia era otimo para nao gastar muita agua. E eventualmente de em dias de calor achar o tal banho maravilhoso. Lembro do meu primeiro banho de chuveiro depois de ficar no vilarejo rural. Do enorme prazer que eu senti ao tomar um banho quente.

Essas lembrancas que sao pouco verbais sao dilacerantes. Parece que elas ficam gravadas no corpo. Como um cheiro que vem de repente a mente e te deixa um pouco desnorteado ate encontrar o lugar exato... o cheiro da madrugada meio aos templos do Camboja. E quando o lugar é encontrado vem tudo. E ai.... ai corta, aperta... da um medo de nunca mais poder voltar para a Asia. Nunca mais poder sair e ver o mundo.

Um americano sentado do meu lado numa lan house falava pelo skype com a familia. Depois de meses viajando tinha constatado que aquilo nao era para ele. Era muito. Era coisa demais. Muitos ois, e muitos tchaus. Ele era uma pessoa caseira. Achei bonito ele perceber isso. Ele provavelmente voltaria para casa e teria vontade de viajar de vez en quando. Sem ser atormentado pelo desejo de sair viajando o mundo o tempo todo. Outros como esses que populam minha lista de amigos no Facebook foram picados e contaminados de vez pelo "travel bug". Eu imagino "a travel bug" meio assim como Malaria. Que voce vai adquirindo com o tempo, com cada picada. Que a parasita vai se replicando no seu corpo ate seu sistema imunologico nao dar mais conta. E ai ela causa um episodio reincidente todo ano.

Quando eu cheguei e penei no meu vilarejo rural minha amiga de faculdade Sabina, que tinha feito trabalho de campo na Tunisia me disse " Enjoy the cultural shock, it will soon turn into an intoxication, and then , then it is much harder!" Como ela tinha razao.

sábado, outubro 31, 2009

A Assembléia

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Tudo que acontecia em Ban Nonpho ( a escola no vilarejo rural onde voluntariei) era assim para mim meio que um misterio. Como eu nao entenderia mesmo a explicacao as coisas aconteciam sem ninguem me explicar. Eu cheguei la meio que de paraquedas e me lembro de no primeiro dia, meio desorientada, ver todas as criancas no patio brincando. Lembro de assistir o professor dizer coisas em Tailandes. De ver as criancas foramarem umas filas completamente desorganizadas e passarem horas se arrumando. Lembro-me de ficar espantada, pois apesar da total zona, o professor permaneceu calmo o tempo todo. Nada batia como as minhas ideias de como seria uma escola asiatica. As criancas saiam das tais filas para colocar outras criancas no lugar certo o que consequentemente aumentava a desordem. Eventualmente uma logica foi aparecendo. Eles estavam tentando se organizar por idade. Essa ordem so ficou mesmo evidente para mim dias depois. Nesse dia, eu apenas assisti, me sentindo meio fora de lugar, e sem saber direito o que fazer. Horm , minha anfitria e professora da escola, desapareceu, e so reapareceu quando as tais filas estavam finalmente organizadas. A bandeira da tailandia foi erguida, enquanto eles provavelmente cantavam o hino. E entao todas as criancas se viraram para o pequeno Buda colocaram uma mao em cima da outra com as palmas para cima e fecharam os olhos numa pequena meditatcao. A Horm, minha anfitria, me explicaria depois que era uma pequena meditacao em agradecimento a todos que os ajudam. Meus olhos se encheram de lagrimas.

Essa pequena meditacao era o principio de todos os dias. Sexta feira no entanto, depois do almoco, todas as cirancas da escola ( +- 50 alunos entre 4 e 12 anos) se juntavam na sala do ano 5 e 6 para um evento so dos estudantes. Nenhum professor podia estar presente nessa ocasiao. Eu como nao era oficialmente uma professora fui permitida a entrar e ficar la. Ainda que eu nao soubesse o que estava se passando. No comeco vi que todas as criancas se sentaram no chao e começaram o que me parecia ser uma cerimonia budista. Budas foram colocados pelas criancas em frente a classe. Incensos acesos e eles comecaram , para meu espanto, rezar. Depois as criancas fecharam os olhos em meditacao. Ali sozinhas sem a supervisao de ninguem.

Quando tudo isso terminou percebi que a Tanoy, Nan e a Nook tomaram o lugar da frente da sala e comecaram a falar. Tinham uma lista na mao, e as criancas conforme elas iam falando iam dando palpite. Sem entender muito bem o que estava se passando resolvi ir procurar a Horm.

- "O que eles estao fazendo?" perguntei.
- Hoje é sexta, todas as sexta é dia de assembleia.
- Mas o que acontece nessa assembleia ?

Hom me olhou espantada e como quem explica a coisa mais obvia do mundo me disse : "Na assembleia os alunos decidem tudo que eles precisam decidir". Perguntei o que isso significava e entao Horm me explicou que sexta feira os alunos se encontram para conversar sobre assuntos dele. Explicou que as meninas tinham sido votadas responsaveis por aquele ano. E que todas as sextas as criancas se juntavam na assembleia para votarem e decidirem todos os assuntos pertinentes a escola. Como quem vai limpar o banheiro, quem vai dar aula de educacao fisica, quem vai lavar os pratos, quem eh responsavel pela biblioteca. Problemas que tem acontecido com eles, brigas, discordias. Enfim, tudo!

Eu fiquei absolutamente em choque. Fascinada. Ali na minha frente estavam criancas entre 4 e 12 anos que meditavam as sexta feiras. Que tinham a responsabilidade de tomar conta da escola e dos seus probelmas sociais, e que ao contrario do que é pensado no mundo ocidental que essa responsabilidade nao roubava nenhum pouco da infancia delas. Aquelas criancas eram criancas, dessas que brincam de ciranda, de pular elastico, de jogar damas, de dar tapa na cabeca um do outro, de rir o tempo todo e ao mesmo tempo eram criancas que sabem que é o cuidado delas que mantem a escola bonita. Que na falta de um professor sao eles os de 12 que tem que ir ver o que esta acontecendo com os de 4. Que quando uma voluntaria vegetariana meio atrapalhada aparece que elas precisam "keep an eye on her". E a voluntaria fica assim para sempre grata. E aquela pequena meditacaozinha do primeiro dia "em agradecimento ao que nos ajudam" fica entao fazendo mais sentindo do que nunca.

terça-feira, outubro 27, 2009

Banco Imobiliario



Quando eu comeco um post raramente eu sei onde ele vai dar. Algumas vezes eu tenho uma ideia sobre o que eu quero escrever, e quase sempre eu termino falando de outra coisa. Foi assim com um dos meus ultimo posts que comecou falando da dificuldade do inicio da minha viagem e do meu voluntariado e terminou longissimo de onde eu tinha pensado que iria terminar quando eu comecei a escreve-lo. Naquele post eu queria contar uma coisa meio tola, eu queria contar dos recreios na escola onde eu voluntariei.

Em Ban Nongan, o vilarejo onde eu voluntariei fazia um calor, mas um calor assim desses que se le em livro, que se ve em filme, que quando lembrado ja nao parece mais tao quente. Calor desses que quando voce chega voce fica desesperado para vence-lo, para sobreviver, e com o tempo vai percebendo, ou simplesmente se adaptando a ficar imovel, numa imobilidade interna, letargica, olhando o mundo passar a volta devagar. Em casa eu me sentia, como ja descrevi antes, a perfeita heroina fresca de filme europeu que tenta sobreviver letargicamente, enquanto a volta enxerga os trabalhores rurais, senhores e senhoras trabalhando nos arrozais. Aqui em Londres, eu até sinto falta desse calor. Um calor vazio, que me deixava quase que num vacuo morno, sem muitas agitacoes, tormentos internos, esperando no principio ansiosamente mas eventualmente pacientemente a inevitavel tempestade.

Nesses dias em que a tempestade demorava mais a chegar, nem as criancas conseguiam ficar alheias ao tempo. Elas voltavam para classe na hora do almoco para brincar. E eu ia me juntar a elas pois era sem duvida muito mais interessante e divertido que ficar com os professores. Sentar no chao de azulejo azul esverdeado da classe refrescava fisica e psicologicamente. Eu sentava e assistia as criancas brincarem. Nesses dias tao quentes eu nao fazia muito mais que isso.

E eles jogavam damas, jogos com as maos, e muitos de inventar coisas assim meio que na hora. Jogos de cantar, de gritar, aquela eterna bagunca. Sempre me convidavam para brincar, e eu sempre me espantava com a habilidade que eles tinham de se divertir por tao longo tempo com tao pouco. Eu nunca vi nenhuma crianca da minha escola dizer que tava "bored". A alegria deles cantando era super contagiante.

Um dia tiraram la do canto da sala um caixa do "banco imobiliario". Tanoy e Pai com o eterno sorriso nos labios olharam para mim " Krum Kru Chu play?". Eu aceitei e me sentei ao lados delas. Logo percebi que o jogo na iria seguir as regras convencionais. NInguem tinha dinheiro. Como eu nao falo Lao ou Thai, e nem eles ingles e a essas alturas eu ja tinha aprendido a comunicacao nao falada esperei. E hoje eu ja nao sei mais explicar como é que nos comunicavamos, pois hoje em dia eu me lembro apenas é que nos nos comunicavamos". O fato é que o jogo comecou, e a primeira diferenca da maneira dos meus alunos jogarem se tornou evidente. Quem sempre tinha que pagar era o banco! Portanto todos nos comecamos sem dinheiro, e quando paravamos numa propriedade o banco tinha que nos pagar aquele valor. Jogamos varias rodadas fazendo isso, ate todo mundo ganhar bastante dinheiro. Entao cada crianca comprou uma propriedade, oque significava que a partir de entao quem parasse na propriedade comprada nao receberia mais do banco e ao inves teria que pagar ao novo proprietario. Eu gananciosa comprei 2 propriedades. Niguem disse nada. E eu percebi que ninguem alem de mim comprou mais de uma. E naturalmente eu logo fiquei sem dinheiro pois ao parar na propriedade da Nook nao tinha dinheiro para pagar. Olhei para a Tanoy e ela juntou dinheiro dela e do Pote para que eu pagasse minha divida. Depois eu devolveria a eles. Eu tentei explicar que isso nao era justo, que eu devia sair do jogo, ou pagar um multa. Eles insisitiram que nao. Que continuassemos a jogar. E assim eu percebi que o objetivo do jogo nao era eliminar jogadores, nao era ganhar ou perder, nao era enriquecer mas simplesmente se divertir. E em Ban Nonpho para se divertir todo mundo tinha continuar la.


sábado, outubro 17, 2009

A Minha Casa Na Asia

Durante o meu tempo no Sudeste Asiatio, Nong Khai, como eu ja disse antes se tornou a minha casa. Por isso que depois de cruzar o rio Mekong para chegar ao Laos, atravessar Laos, voltar de barco para o outro lado da Tailandia, visitar o noroeste tailandes descer para Bangkok, Voar para Phnon Penh, visitar as ruinas de Angkor, correr entre Bali , Malasia,, Phuket, Ko Phi Phi, Ko Phan Gan.. eu finalmente completei meu circulo voltando a Nong Khai. Cheguei la acabada. Fisica e emocionalmente. É coisa demais em tempo de menos.

E eu voltei para la desesperada. Nao passei nem se quer um dia em Bangkok. Eu cheguei a BKK de Ko Phang Gan, ilha no sul, e na mesma noite peguei um onibus por 12 horas para chegar a NK. Com o desespero daqueles dos que precisam chegar em casa. Na maior parte da minha viagem eu tomei bastante tempo nos lugares. Mas da cambodia, Indonesia, Malasia, e ilhas tailandesas eu corri, meio como o Gauguin procurando sempre aquele lugar mais "certo". E aquele lugar para mim de repente ficou claro era Nong Khai.

Peguei um daqueles onibus turisticos que saem de Khao San Road ( A rua de back packers de Bangkok. Kao quer dizer arroz, entao no passado era a rua onde vendia-se arroz) e levam os jovens ocidentais diretamente a Vang Vieng ou ate mesmo a Luang Prabang no Laos. Esses onibus tuisticos sao menos confortaveis que os OTIMOS onibus publicos tailandeses. No entanto, sao convenientes pois saem da rua onde as guesthouse ficam, sem vc ter que se deslocar ate o terminal Mochit, e portanto ou passar horas discutindo com um Taxi ( que eh sempre mais barato do que um Tuk Tuk em Bangkok), ou acabar pagando mais dinheiro entre passagem de onibus publico e taxi, do que os "um pouco mais caros" onibus de turistas.

Nong Khai fica no caminho, na fronteira entre Tailandia e Laos. Eu comprei minha passagem para ir a NK que era um pouco mais barata do que a passagem para Vientiane, e muito mais do que a Vang Vieng. Eu fui a unica no onibus inteiro que queria parar em NK. A viagem ate NK leva umas 12 horas, ate Vientiane do outro lado da fronteira umas 13, e ate VV umas 16. O motorista surpreso me disse na entrada "se voce quiser pode ir direto ate o Laos nao tem problema". Eu expliquei que nao era um engano eu queria parar em Nong Khai. Ele nao compreendeu assim como os tailandeses nao compreendem quando voce diz "sem pimenta." Eles entendem a frase mas imagino que achem que vc ta fora do seu perfeito juizo entao colocam um pouquinho. O motorista tbm colocou um pouquinho de pimenta e portanto as 5 da manha, eu acordei num posto no meio da estrada. Desci para perguntar onde estavamos. Ele me explicou que era para descermos e preenchermos os papeis para cruzar para o Laos. Eu expliquei que eu ficava em NK. Ele ainda meio chocado abriu o compartimento para eu pegar minha mala "are you sure, you dont have to pay extra i ll take you to laos". Eu estava "sure" peguei um tuk tuk, ja me preparando para ter que brigar por um preco certo, mas em NK o tuk tuk me deu o preco certo, carregou minha mal, e ainda me protegeu do temporal. De fato eu estava em casa.

Era cedo, umas 6 da manha. Eu sabia que a recepcao da Mut Mee nao estaria aberta. Chovia cantaros. E eu estava feliz. Entrei no meu jardim preferido de mala e cuia. Coloquei tudo no chao, no mesmo lugar que tinha colocado inumeras vezes antes, e sentei nas mesas debaixo de bungalows de palha. Sentei e lembrei da Liz Gilbert contando de como ela tinha chegado ao Ashram na India no meio da noite ( no livro eat, pray and love), que tinha se sentido como uma galinha que eh colocada ali no meio da noite, para que as outras galinhas ao acordarem nao percebam que a nova nunca tinha estado la. Eu sentei, ouvindo a tempestade, mas minha espera durou pouco, nao mais de 1 minuto. A Pao, dona da Mut Mee, estava na cozinha, e ao me ver sorriu e disse "Welcome Back! Ta muito frio ai fora, voce sabe que quarto voce quer? eu te coloco no quarto e depois vc faz o check in mais tarde" Entao eu escolhi o meu quarto favorito afinal depois de check in and out 6 vezes da ultima vez, eu conhecia muito. E fui dormir o que eu esperava ser o sono dos justos. A ansiedade nao meu deixou dormir e as 7 eu estava desesperada para descer e ver meus amigos.

As sete da manha, o Simion, que trabalhava na recepcao estava chegando mal-humorado, mas ao meu ver o mal humor virou um grande sorriso e um abraco. E entao apareceu a Poon, a massagista, que veio me abracar e carregar! E entao o Julian, marido da Pao e dono da Mut Mee, e pouco a pouco fui encontrando cada pessoa querida que eu tinha conhecido ha mais de um mes atras. Um mes que eu tinha feito tanta coisa.

Eu tinha queimado minha perna numa moto, e portanto estava com uma bandagem. Uma tosse daquelas de tuberculoso que nao para nunca. Mais magra, mais suja, mais queimada, mais cansada. Nao que eu tivesse percebido imediatamente tudo isso. Foram as perguntas que foram me dando essa ideia. "Are you eating well? " "What happened to your leg?" "How long have you been coughing like that?" E quando eu finalmente encontrei o professor de meditacao. Ele olhou para mim e disse
"We can tell how long a person has been travelling from by how worn out they look." Eu comecei a rir. "Is it that bad?". "Julieta voce precisa se cuidar. Isso tudo desgasta muito o corpo, a mente. Voce precisa descansar." Sim eu estava de volta em casa, tinha cruzado todo o sudeste asiatico para voltar onde minha viagem tinha comecado. Tinha voltado para ficar doente em casa, onde eu podia contar com os cuidados daqueles que na Asia se tornaram a minha familia.

terça-feira, outubro 13, 2009

O Teletransporte



Faz quase duas semanas que eu voltei do sudeste asiatico. Passei um pouco mais de 3 meses entre Tailandia, Camboja e Laos. Levou mais de uma semana para o meu horario se ajeitar. Como eu ja vivi em muitos paises, e desde os 15 anos vivo nessas eternas idas e vindas, minha volta a Londres foi menos traumatica do que a dos muito viajantes que conheci. A unica coisa mais dificil é que o facebook é um constante "reminder" do mundo dos viajantes que eu dexei para tras. Todo dia eu leio alguem que ta chegando em algum vilarejo de algum lugar remoto do mundo. E o mundo é tao grande e tão cheio de vilarejos...e viajantes.

Hoje eu tenho a impressao que foi tudo tao facil. O sudeste asiatico é muito facil de viajar. Ainda mais quando comparado a outros lugares que ja estive sozinha como o Marrocos ou a India. A verdade, no entanto, é que a minha viagem comecou para la de dificil. Eu ja comecei doente tendo que posterga-la por causa de uma infeccao urinaria. E ai cheguei num calor alarmante em Bangkok, sentindo uma letargia total. Lembro de pegar o taxi em direcao a Khao San Road pensando " onde eh que eu estava com a cabeca quando escolhi ir voluntariar num vilarejo rural na area mais pobre da Tailandia? ". Lembrei de uma amiga que sempre diz "essas coisas sao melhores pensadas".

Deitada numa rede meses depois, num dos lugares que visitei, conversando com dois alpinistas que planejavam a construcao de alguma coisa que a minha leiguice em engenharia e alpinismo nao permitiu entender eu propus que eles construissem uma maquina de teletransporte. O tal do teletransporte é uma ideia que ficou na minha cabeca gracas a um inesquecivel vendedor de cachorro quente em ubatuba. Consiste basicamente em voce pensar e se teletransportar para onde quer.

Brendan, o engenheiro alpinista, olhou para mim e disse " Can we focus on feasible plans?" Vencidos pelo meu desejo filosofico de discutir o teletransporte comecamos a pensar. Nos teletransportariamos para onde? Para a guesthouse. Direto da rede para a Maylin Guesthouse! Mas como ficariam as nocoes de privacidade? E as fronteiras? E se vc pensasse num quarto de hotel que esteve, e alguem que tbm la ja esteve tbm quisesse o mesmo quarto, no mesmo minuto? Afinal as memorias sao distintas, e infinitas mas os lugares nao! Entao, comecamos a pensar nas regulamentacoes que seriam necessarias com o advento do teletransporte. Os problemas eram infinitos. Tao infinitos que saimos do bar, andamos toda a cidade e eles nao acabavam.

Em meio a discussao o outro alpinista percebeu ter perdido sua chave. Brendan e eu sentamos na calcada. Iriamos espera-lo busca-la. Passaram por nos bebados perdidos. Gente que nao sabia em que guesthouse tinha ficado. Passaram bicicletas assim no meio da noite. Tendo que esperar olhamos para tudo que tava a volta. Os cachorros, o ceu que estava todo estrelado, as placas, as pessoas, tudo. Quando a chave foi reecontrada recomecamos a nossa caminhada. Chegamos a famosa ponte de Vang Vieng. A ponte que nos separava de todo aquele caos do outro lado. Cruzamos ainda falando do teletransporte.

Se ele existisse nos provavelmente nao cruzariamos essa ponte. Eu nao teria passado 2dias num barco no Mekong e mais um dia de onibus para cruzar do Laos a Tailandia. Eu nao teria pego os muito onibus porcaria, nas muitas estradas tortuosas. Consequentemente nao teriamos conhecido todas as pessoas que encontramos pelo caminho. Nao teriamos visto todos os vilarejos. E ficou evidente que o que importa é a jornada. Abandonamos o plano ali na ponte, nao porque ele era impraticavel. Simplesmente porque nao nos interessava. Andamos cansados as ruas enlamacadas, no escuro felizes por ter essa experiencia.

A minha amiga tinha razao. Alguma ideias sao melhores pensadas. Nao a ideia de viajar, ou de voluntariar num lugar remoto. Essas sao as que vividas valem sempre a pena. As ideias que sao melhores so pensadas sao as que reduzem os caminhos, as dificuldades, e os prazeres da jornada.

sexta-feira, outubro 09, 2009

Pensamentos Ciganos

Ontem a noite fui ao Goodenough College para assistir a London Gypsy Orchestra. Eu ja perdi a conta de quantas vezes eu fui ao Goodenough. Ja fui para visitar amigos morando la, para ouvir musica, palestras, churascos, pique niques, e para é claro as eternas despedidas. Portanto entrar la ontem na sala que a Sabrina se apresentou tantas vezes sem encontra-la, ou encontrar nenhum dos meus usuais amigos foi extremamente nostalgico. É sempre estranho andar por corredores que ja abrigaram tantas pessoas, que ja ouviram tantos murmurios de segredos, fofocas, ou incriveis "post graduate" insights :)

A orquestra era incrivel, daquele jeito que so orquestra cigana, ou klezmer, leste europeu consegue ser. Extremamente alegre e extremamente triste ao mesmo tempo. Com melodias que parecem cortar como faca enquanto te fazem dancar. Eles tocaram uma musica do Kusturica e essa musica ainda acordou em mim mais memorias. E é incrivel como o cerebro vai ligando as cores, aos sons, as memorias, numa ordem quase impossivel de ser retracada mas que flui naturalmente como se nenhuma outra linha de leve pensamento fosse plausivel.

E eu sentei la ouvindo os violinos, e as cantoras, os instrumentos de sopro viajando pela Turquia, Romenia, Hungria e a musica que la ouvi, olhando a sala onde a Sabrina tocou, vendo ao meu lado o Chris que eu conheco da LSE que nao faz parte de nenhum dos meus mundos ali ligados. Faz parte do mundo da LSE e mesmo totalmente fora de lugar, foi gracas a ele que eu fui assistir essa orquestra. Quando fui ao banheiro e andei pelo corredor lembrando que esse era o caminho que eu fazia para visitar a Marisa dei de cara com uma menina que saia do banheiro chorando. Hesitei por um segunto se devia perguntar a ela se ela estava bem. Esse segundo durou o suficiente para ela sair e eu entrar. No chao do banheiro estava um teste de gravidez. Positivo. Com as duas listras. Jogado ali por alguem que obviamente estava abalada demais para pensar em qualquer outra coisa. E um estranho pensamento passou pela minha mente. Eu, que nem conheco aquela moca, fui a primeira a saber de uma noticia assim tao importante. Porque o mundo eh assim meio ao acaso, as pessoas vao se encontrando, se conectando, e as memorias vao se formando fluidamente. Talvez a unica coisa que eu me lembre dessa noite seja esse evento, talvez eu me lembre da flautista mal-humorada. O caminho que tomarao meus futuros devaneios hao de ser, eu imagino, nomades e itinerantes como a musica da orquestra.

segunda-feira, outubro 05, 2009

O Sentido da Vida

Conheci Carlo num boteco de Luang Prabang no Laos. Em Luang Prabang todos os bares fecham as 11, e depois disso sobram os turistas desesperados para encontrar um lugar para beber, a discoteca que fica fora da cidade, e o BAO LING ( boliche) para onde todo mundo vai dancar e beber enquanto as bolas percorrem tortuosos caminhos. Eu conheci Carlo no bar Lao Lao, bar que tem o nome da pior bebida da Asia ( um whisky feito de arroz que segundo os que provaram tem efeitos colaterais mais graves que tomar gasolina) onde a maior atracao eh a sinuca de graça. Assistimos um lady boy e uma moca Lao jogarem contra dois ocidentais. Como o jogo nao terminava nunca comecamos a conversar.

Carlo tinha 33 anos. Aos 27 se tornou CEO de uma empresa americana da qual ja nem me lembro o nome, aos 31 estava ganhando muito dinheiro, "engajed" para casar e absolutamente infeliz. Resolveu partir. Sua mae que trabalha na ONU teve um ataque. Seu pai neurologista apoiou a ideia. A noiva, bem dessa eu achei melhor nao perguntar. E ele partiu para o que seriam 6 meses de viagem, e quando eu o encontrei no Lao Lao ja fazia 2 anos que ele viajava. No Laos voluntariava por um tempo numa reserva de protecaos aos elefantes. Pelo que ele me contou, o Laos é o pais no mundo que mais tem elefantes selvagens.

Perguntei onde no mundo ele tinha estado, e a lista eh tao extensa que eu ja nao me lembro. Quando ele no entanto me contou que viajou por dois meses a Mongolia, pedi mais detalhes. Eu morro de vontade de conhecer a Mongolia eu expliquei. Carlo tirou a camera do bolso e mostrou me uma foto de dois cavalos lindos. Nao compreendi exatamente o porque dos cavalos ate aparecer as proximas fotos. Eram da Mongolia. Vi as famosas casas/tendas nomades, as pessoas, o deserto, muito terreno inospito.

Entao Carlo contou me que viajou sozinho a cavalo. Comprou dois cavalos um para carregar as coisas, e outro para ele mesmo e cruzou a Mongolia. Sabendo dos riscos que incorrem visitar a Mongolia perguntei a ele. " I had an Axe and a knife, and the face of someone who is ready to use it." No mais, saindo das cidades as pessoas sao muito generosas. Sempre te convidam para entrar na tenda delas, para ficar."

Carlo cavalgou por semanas chegando a ficar ate 2 semanas sem falar com niguem. Falava com os cavalos nessa altura me explicou. E num certo dia no meio dessa cavalgada em silencio por muito tempo parou e pensou " Qual é o sentido da minha vida nesse segundo? " "Percebi que era apenas existir, sobreviver, e nesse dia eu soube que para mim isso era pouco, procurei um vilarejo, e encontrei um homem velho. Eu nao sabia falar a lingua dele, nem ele a minha, mas percebi que eu podia ajuda-lo no seu trabalho. Eu o ajudei. E ali a vida ganhou sentido. Faz so sentido existir quando voce se relaciona com outras pessoas." E essas palavras me fizeram lembrar claramente do final do filme Into the Wild "Happiness is only real when shared."

sexta-feira, outubro 02, 2009

Da primeira visita a Vang Vieng- Laos


Eu acabei indo ao Laos duas vezes. E acabei como todos me encantando com o Laos. A primeira vez eu confesso que detestei. Cheguei la depois de ter vindo de Isan, o nordeste pobre da Tailandia, onde eu tinha passado tempo voluntariando no meu pequeno vilarejo rural. De la fui parar na beira do Mekong, em Nong Khai, lugar que se tornou minha casa na Asia, para onde eu voltava todas as vezes que eu tava para desabar :) E na beira do Mekong, de um lugar tranquilissimo, eu enrolei, enrolei, enrolei para cruzar para o Laos. Do Gaia, o bar barco eu olhava para o Laos do outro lado com antecipacao, mas alguma coisa me prendia ali naquela pequena cidadezinha. Depois de 3 meses eu descobriria que eram as pessoas, a calma daquele lugar. Mas ainda nao sabendo eu antecipava todas as noites a minha partida, e todas as manhas eu desistia, por uma ou outra razao, abandonando companheiro atras de companheiro de viagem. Foram mais ou menos 12 dias que eu fiz isso. E quando eu finalmente resolvi partir, eu acordei bem cedo, antes que eu encontrasse qualquer pessoa conhecida e fui para fronteira para encontrar os italianos. Os italianos com quem eu nada tinha combinado, apenas ouvido eles combinarem que se encontrariam as 9 da manha na fronteira.

Os italianos eram: Lucca, uma magico profissional, Michaela e Elisa, bellissimas mae e filha viajando juntas. Tinham conhecido o expansivo Lucca na viagem, e se juntado a ele para cruzar a Asia. Na noite anterior, eu toquei violao no Gaia, e o Lucca fez um show de magica que misturava NLP e nos deixou a todos perplexos. Acabamos ficando no barco ate quase de manha. Na manha seguinte, portanto, no horario combinado Lucca como bom magico desapareceu. Como ele nao estava la horario combinado juntei me as belas italianas fluentes em portugues e juntas cruzamos a fronteira. Rimos muito, de quase tudo que encontramos pelo caminho pois Michaela era assim leve e engracada.

Pegamos uma pequena van para ir direto a Vang Vieng. 4 horas de viagem por tortuosas estradas. Campos verdes, arrozais, montanhas, pequenas casas de madeira, e quase nada. Dentro da Van muitos ocidentais meio mal-humorados. O tipo de ocidental que vai para Vang Vieng fazer o tal do Tubing. O tipo de ocidental que nao ta muito interessado no Laos. Nos rimos, de quase tudo, e principalmente de todo esse mal humor.

La chegando nos separamos. EU queria ficar na Maylin guesthouse. Guesthouse recomendada a mim por varias pessoas, e pelo Lonely Planet. As italianas nao queriam andar de mala e cuia. Entao la fui eu sozinha, rejeitando todas as opcoes que me eram oferecidas pelo caminho. E para chegar ate a Maylin cruzei a ponte privada pela primeira vez. A ponte que custava 4000 kip (£0.30) para indignacao de quase todos. Andei pelas ruas toda cheia de pedra e lama, e logo percebi que aquela ponte mantinha o outro lado intacto, totalmente diferente do lado onde eu tinha chegado. Continuei caminhando ate chegar a Maylin.

O dono, Joe, um Irlandes sarcastico, mal humorado, e rabugento estava tirando meio que sarro dos hospedes. Eu sentei, sem nem saber que ele era o dono e pedi alguma coisa para comer. Eventualmente o rapaz ao lado dele comecou a conversar comigo. Saxon. Um australiano que trabalha como poilicy advisor para o governo da australia. Ficamos amigos quase que imediatamente. Joe disse algumas coisas rudes, mas depois de eu solenemente ignorar a grosseria e ser sarcastica de volta ele virou meu amigo. E ficou por muito tempo na minha mente como a minha melhor memoria de Vang Vieng.

De noite, com Saxon cruzei para o outro lado da ponte para conhecer melhor a "cidade" de Vang Vieng. La chegando fiquei horrorizada. Um bar atras do outro de musica altissima. Ingleses, e australianos e outros ocidentais e israelenses jovens completamente bebados. Todos os bares passavam family guy ou friends. Ao mesmo tempo tocavam musica e a cacofonia era realmente insuportavel. Andei meio que em choque pelas ruas de Vang Vieng. Eu que tinha vindo do meu pequeno vilarejo, eu que tinha vindo do Gaia em Nong Khai nao conseguia acreditar no que tinha acontecido com aquele lugar em tao pouco tempo. Saxon a melhor coisa que tinha me acontecido em VV partia na manha seguinte.

Encontramos Lucca o magico e as italianas sentados num dos mil restaurantes iguais. Ja que era impossivel conversar pedi ao Lucca que fizesse magica ao menino Lao. O garcom que estava ali nos servindo. Lucca nao hesitou e em 3 segundos ja tinha cativado o menino. Eu sentei e olhei. NO meio a todo aquele caos, musica dos bares, as televisoes ligadas, os bebados, os em bad trip, tudo que eu via eram os olhos do pequeno menino Lao completamente desconcertado, enfeiticado, pelas magicas e pela docura do Lucca.

No dia seguinte convenci Saxon a perder sua passagem e ficar comigo em VV. Desta vez desistimos de ir para o outro lado e resolvemos ao invés explorar as cavernas, as trilhas, e a lagoa azul. O tempo nao estava dos melhores. Mas conversamos tanto que os 7km de caminhada pareceram minutos. Passamos em meio aos arrozais, as criancas, os vilarejos, as pontes, as pessoas, e eventualmente chegamos ao lugar certo. Subimos a montanha que nos levaria a caverna e la dentro caminhamos ate encontrar o "reclining Buddha" e as outras muitas formacoes geologicas. Sujos de lama dos pes a cabeca voltamos de tardezinha para a Maylin no dia seguinte partimos. Parti de Vang Vieng sem fazer o tube, esperando por la nunca mais voltar.

Um mes depois voltei. Com minha mae. O tempo lindo. Nenhum nuvem no ceu. Nenhum vestígio da lama que tinha sujado tudo que eu tinha usado em VV. Cruzei a ponte mais uma vez, paguei mais uma vez os 4000 kip e quando cheguei a Maylin senti-me em casa. Tudo daquele lado continuava intacto. E todas as vezes que eu paguei aquela ponte, eu paguei feliz sabendo, que aquele lado de mantem natural do jeito que se mantem por causa da ponte! E eu acabei afinal indo fazer o tal do tubing. E essa estoria fica para o proximo post. Para um dos muito posts que eu tenho que escrever sobre a asia.

sexta-feira, agosto 14, 2009

The Elephant Ride


I am still in Pai. On Sunday I make my way south first to Chiang Mai, then Bangkok and on Tuesday to Cambodia. After lots of changing of mind I am after all going to Angkor. It seems crazy to be soo close to a place I so wanted to visit and not do it. Pai is still relaxing. Well, apart from today when Maya, my Israeli friend, finally managed to convince me to go on an elephant ride. I did not want to go for numerous reasons, but she wanted so much that I gave into it. So Mickey, a 22 year old Israeli boy, Maya and I rode towards the elephant "farms". I disliked seeing the elephants tied by chains, did not feel like going, and when someone tried to explain me that riding tourists is nicer than "carrying wood" I was certain I should not do it. Elephants should just be in reservations I think. But Maya could not go alone, so we agreed to go. Neither Mickey or I were really into the elephant tourist trap experience, but Maya not only convinced us but managed to make us get the full experience " riding through the jungle and bathing in the river!"

We were given a guide that spoke not a single word of English, and led to to climb a platform from which we could get onto the elephant. The nice guide, carried a tool that had something like a hook made of iron to make sure the elephant obeyed him... As soon as we sat on the elephant we cracked up. I have ridden horses and camels, so I was prepared for the moving of the elephants. We did not have a proper seat like you usually see in films, but a blanket. I always sat on the back but Maya and Mickey alternated between middle and head. As soon as we entered the "jungle" the ride became increasingly scaring. I could not breathe so much I laughed. Our guide seemed to enjoy a lot the fact that I could not breathe from laughter. So he chose the most dangerous paths. Over trunks of trees, and land slides, and rocks, and narrow paths and so on. And as he could not speak English we could not explain him that a "reitred florida old couple" ride would be preferable. By the time we were getting close to the river I was convinced I did not want to go into it. So when I saw a big tree I literally jumped from the elephant into the tree and abandoned the ride. I stood in the perfect place to take pictures and and watch Maya and Mickey in total despair. Had I laughed any harder I would have fallen out of the tree.

The elephant did not seem to want to bathe. The guide did not seem to understand that Mickey and Maya did not mind. So he hit the elephant into the laying down. The elephant did not move. Then he lifted his tail and defecated. Still being pulled down he collapsed entirely immersing his head under water. All I could see was M and M scared, and Maya saying " I think the elephant died!" But then the elephant moved up and collapsed to one side dropping Maya out of his back into his shit. I could not breathe so much I laughed. The confusion was immense. The elephant collapsing, the guide not understanding English, M and M already done with the bathing experience, the guide making the elephant throw water with his trunk over the two of them. I watched from the tree quite relieved I had not joined them.

terça-feira, julho 21, 2009

The End of the Beginning

South East Asia 12

The time in rural Thailand passes slow. It is nice. The "littlest" things gain such an importance. Like observing the clouds pass, or the webbing of a spider, or the sounds of the rain. Slowly even a person coming from an enormous concrete city with millions of inhabitants suddenly feels at ease with life around. It is strange how we from big cities are so used to other people, but so afraid of other creatures. Now I am no longer frightened of the geckos, or beetles, or spiders, if I do not want to share room with them, i take them out. That is all.

This weekend, had a very slow pace. I could say I did nothing really, but it felt like so many things happened. No light when the storm broke out, many stars in the sky when there was no rain, and the eternal passing clouds. Brain ( Horm's 17 year old son), brought his girlfriend over, and I could only tell she was his girlfriend because he combed her hair. The Thai are very very discrete in love matters. Brain usually avoids talking to me all together, this weekend he brought me sweets. He did not give them to me, he gave them to Non Nan who was in front of me, and she passed them on to me. But he had bought them for me! So when I later said "thank you" and he replied " you are welcome" I was bewildered. Then I said I was hot, and he brought me the fan. I was not saying it to him, of to anyone, just saying something to Non Nan, something she could understand. I was surprised again. He understood me, and was relating to me. See the little things in rural Thailand suddenly mean much more. And in fact it is not so little. It is huge, it is getting closer to someone who is there, and is shy and takes his time, but in fact is always very aware of you. It is huge :) We from the big cities have lost that.

Sunday night ended with Hom, Oh ( masseuse) and I laughing in the porch. Horm and I were having massage, and talking about the silliest things. Laying down on the floor, looking at the sky. They were laughing at my shaved legs. Thais do not shave. Th'e like their hair. "Well, Asians barely have hair" I replied. They laughed! Oh shared with us the details of shaving practices of all countries she had worked in. Those were Malaysia, Thailand, Turkey, Korea, and Hungary. It was hilarious. She told us about all situations a masseuse can get into. We laughed, and laughed, and laughed.

Today in school I was left alone the whole day. Horm was enormously busy planning for the English Camp. Most of the day went fine. I even joined the kids in cleaning the school. Can you believe that ? I have the most beautiful pictures ever of Ben washing up plates. I will hopefully post them soon. I have not mentioned before, but Thai kids hit each other a lot!!! I tried to implement the "no hitting" policy in my class, but it was piratically a complete loss of time. They are simply soooo used to hitting each other, and kicking, and using the ruler over each others head, and screaming that even while I was saying no hitting, not nice to one, someone else was already kicking someone else. Well... again no one cries....So one side of me, who wants to respect their cultural ways feels I should say nothing, but when I see a kid with an enormous ruler smashing someone else s head, I cant take it. So I spent enormous time just stopping hitting. And being me, I did it in a totally calm, pacifist and eventually dismayed way.

Then there was game time, which was a total disaster, as Pai started crying, and I could not figure out why. And obviously she could not explain me even if she wanted to. This 12 year old, who is usually super helpful, just sat down, lowered her head, and did not want to play, or lift her head up. I sat next to her, asking " why are you crying ?" and caressing her for about 10 minutes to no avail. In the end, Non Nan was able to explain me it was because she did not want to be in Tawit's ( a little fat boy who is hipper active) team. When things were finally resolved Horm, showed up to invite me to come talk to the supervisor ( or as she calls it " the super advisor") of the region. He wanted to meet me, and take pictures and ask me questions such as " What do yo think about Thailand? ANd how about Thai Culture? Thai students? Thai teachers?" and so on. He also had more elaborate questions which his very poor English made it impossible for me to understand, and even harder for me to answer. You have to remember, all of this is happening with people understanding only a few words of what you say. And you having to speak slowly, and clearly and simply. And lots of what they are saying is just lost. Lost in translation, in pronounciation, in smiles. It is lot of guessing. But he was kind, he told me he would like to take me to visit the region, and that when i return to Thailand he would show me all around. He said he could see in the eyes of the kids how happy they were. I "way-ed" saying "kop kum ka" ( thank you)

The principal of my school, who wants to take me to karaoke this week, decided to make a garden behind the volleyball court. Horm was super unhappy about it, as she thinks it not only reduces the playing area for the kids ( being therefore a bad idea), but also that no flowers would grow being hit by balls all the time. And let me tell you Horm has a beautiful garden and loves plants!!! I agreed with her, but as I was invited to plant, I did. The gardeners were completely amused at my farang performance:) They were nice thought. And they took cell pictures of me -planting :). Horm, said to me in English " what a stupid idea, don't u think?" She was delighted she could curse their plan in a language they cant understand. We laughed. And then we rode home. We stopped by the rice fields, the market, and as everybody knows me now, and as I know them as well, time passes slow, but I notice much more things then ever.

South East Asia 13

As a complete tiger balm lover ( that little camphor mentol ointment) I could not be in a better place. Thais love that stuff even more than I do. They use it for it all. So I can totally indulge myself on it without being frowned upon like back home. I use it for headaches, muscles aches, sinusitis, to relax and even to cool of when it is too hot. As I have been feeling a bit "flu-ish" I have been using tiger balm more than ever. I dont feel anything severe or serious, just mild flue symptoms such as fatigue, headache, and a bit of sinus irritation. Enough for Horm to want to take me to the doctor in case I have swine flu! I of course completely reject the idea, as I am sure if that is a place I could get swine flue that might be the hospital.

Today I was left alone again with year 3 and 4. But now it is lots of fun. I actually came up with a way to FINALLY learn their nicknames. Yesterday I did it with year 5 and 6. Basically I ask them to tell me their nicknames, I write it down as it phonetically sounds to me, and I ask them to hold the paper while I take a picture of their faces and name. It was great by today I knew everybody in year 5 and 6! Today I decided to do the same with year 3 and 4 and it was soooooooo funny... because I realized they actually were copying from me what their names were. As obviously they write their names in Thai, they dont really know how to spell them in English... and I who was writing them down in a mixture of portuguese and french had to half way change them to what it would sound in English.... For instance AI in portuguese had to become EYE while Aí had to become AEE!

It was not long before Horm came by saying we had to go back home to prepare for the camp. The camp will be this Thursday and Friday so we spent the whole day doing an worksheet with games, and exercises for the camp. Apparently even schools from the other district want to come to our camp! There are already 7 schools coming and Horm is having to reject all others. Too many people for our little school!

As usual the day finishes with OH coming for massage. Her daughter who is 1,5 has an allergy since I arrived here. I have no idea how many times she has been to the doctor in vain. Sometimes I wish I was a doctor and could help her, or take her to a good doctor. So much I like Oh. But the doctor just makes her wait and wait. This little 1,5 who cries in agony with this spots in her skin can barely sleep!, Oh does not even know what they are. Today as she massaged me she gave me a gentle kiss on my back. She said she would miss me. So will I. It is amazing how we can become fond of people who we barely understand and who are sooo different but at the same time just soo alike. When my massage finished I decided to giver one. This lady works like 10 hours a day giving massages she deserves one the most I thought!. It was a bold thing to do, to give a massage to an internationally trained masseuse. I just meant to help. She said I was very good, that I must have learned from receiving massages. She is kind, and tired I guess.

I must go now, apparently we are having vegetarian vietnamese food!

South East Asia 14

Thailand is known as the land of smiles and I have never seen as many smiles together as I did yesterday during the first day of the English Camp. I was sooooooooooooo tired when i came back home that I had to really work hard to remain awake till 8pm, then I subsided to my fatigue and slept till this morning. The camp was really a big deal, not only the principals of the neighbouring schools came by, and the education supervisor, but even the director of education of the Kon Khaen province. And as you might imagine that meant me being on hundreds of pictures :)

First the kids arrived, being brought by their own principals in the back of pick up trucks. Just imagine the sight, many pick ups driving inside the school, with tons of 10, 11, and 12 year old kids in the back, suddenly jumping out on the football field behind our school, and walking towards us like little ants. Tables were put on the volleyball court for the kids to sign in and after a bit of mess, excitement, and confusion all kids were led to sit on the floor, in front of the stage built for the Opening ceremony.

Nothing starts here before paying respect to the Buddha, a little prayer, and a short mediation. So that is what happened. Then there were the speeches by the Principal of my school, and the provincial director of Education. Both written by me, and far too complicated for their level of ENglish. It was not that the speeches were difficult, simply that they could not read English! As yo might be used by now, as nothing here is never to strict, during both speeches piratically no one but me paid attention.

And then the camp started. First every siingle kid stood in line to shake hands with me and Hans ( who was there just for that moment then left :( and say " Hello my name is Kunkru Tchu, Hello my name is.... nice to meet you! ". The kids from my school were naturally super fine with that, but the others were quite shy. Apart from one or another more extroverted kid, they almost all spoke quite softly. I always said very good. Perfect, and helped the ones who couldnt but never insisting to much on the ones evidently too nervous. I could notice that these kids were also very poor. Some had some injuries like sacrs, a blind eye, some were wearing masks afraid of contracting the swine flue :)

There were 8 bases. Myself, my family, my school, culture, weather etc... I was allocated to Culture abnd was supposed to teach them about X-mas and Valentine's day. The bases were located in the garden, around the football field, under huge trees to protect us from the blasting sun. The kids were separated in different groups, with different colours, and had to move from base to base. Each base had about 3 teachers, and 40 students. In my base no one but me spoke English. So I had to count in the enormous help of Ban Nonpho ( my little school) students! And quite proudly and "bias-ly" I thought they were by far the best :) Well, they also know me and are not shy.

I had myself written this little texts about X-mas and Valentines day. How can I still be so removed from reality? I had written it was a Christian Holiday, and that it celebrated the birth of Jesus. And of course about Santa Claus and trees. As my first group arrived and I started explaining and looking at their completely blank faces.... I realized "of course they have no idea.." So by group 4 we were only learning to say X-mas, 25th of December. Santa Claus, Christmas trees, and making them draw which ever holiday they liked best. Yes it was way more fun and realistic!

Between groups I was made to sing in a Karaoke machine songs I had never never heard. It was hilarious. Little by little the other kids who do not know me, the less shy ones came by, we played, I asked them questions, they giggled and hid and laughed, but had lots of fun. HOrm is without a question the life of the whole event. She dances, and sings, and screams, and it just completely mazing to see how much eenrgy she has.

Anyway, I have to go now as one more camp day awaits me. And then I bid farewell to my very dear kids. I will definitely miss them. Year 3 was not there as the camp was supposedly for years 4,5,6 but Tangmo, and Neen, and Ta and many others from year 3 hung around the whole day. I played with them too.

My next stop is Nong Khai. From there I shall finally cross into Laos. With my heart still here. It is amazing It takes a while to feel entirely in place ... and then it is time

South East Asia 15

Latin Americans are known for being emotional people. Well, I even by Brazilian standards am considered "melted butter" (someone who gets emotional very, and I mean very very easily). So you can just begin to imagine how it was for me the end of the English Camp, and also my stay here at my little lovely Ban Nonpho school. I will start by telling about how the camp finished and then move to 3 episodes where I felt enormous pure joy during the camp.

This is going to be difficult to explain but I will try. In the end of them camp we all went to the big football field and made a circle. Not sure how to say that in English, in portuguese it is a "roda" ciranda. Anyway, basically everyone who was in the school joined this circle. And then the circle broke away next to me, so that this new beginning could "redo the way of the circle by greeting everyone. Which means that every single person was able to see everyone. As I was in the beginning I stood still while every single kid "way ed" me, shook my hand, and said good-bye. This was all happening while three teachers were singing a very sad tune with lyrics saying " goodbye my friends". I can say that I was fully present in every single hand I shoook. I looked attentively to each face. I observed the shy ones who avoided my look, the extroverted ones who shook my hand intensively, the smily ones who added kunkru Tchu after the goodbye, and I was doing quite well, for as long as no one from Ban Nonpho, my little school had arrived. But then the first one did, it was lovely Guem, and when I looked at him, with the same profound observation I had looked at the others my eyes started to overflow. I tried really hard not to cry and I was successful as the next kids were unknown to me. But then the kind teacher (who s mother had died), "Way ed" me and looked into my eyes for longer and with more kindness than I could take... and I started crying. I who had already cried in the funeral of her mother! So most of the time I was controlling my tears, trying to be present, but everytime I was fully present, and thought about the beauty of waying to everysingle kid, and especially saying goodbye to "my kids" I cried.

For lunch as usual I joined the kids. So much more fun than being with the adults. And most of Ban Nonpho students were inside of one classroom. They were playing so I joined in. And as they were turning upside down, I could not feel more at ease. I joined them in all kinds of acrobatics I knew. and they had sooooooooo much fun that the room got entirely packed from students from all of the other schoools. There were kids looking from the window outside, at the door, there was no room left whatsoever... which made it sliglhly dangerous... but well, these kids are so used to falling... and to playing and getting sometimes hurt... that it made me again think about how overly worried, and obsessive most of western countries have become... so we played........ getting hit sometimes by falling bums and legs. They showed things they could do like putting legs behind their heads, and we tried it all. They laughed, and clapped, and fell, and giggled, and it was soooooooo much fun then when lunch was over they all came to me to say. "Kunkru Tchu thank you very much!!!."

The day of camp itself was hilarious I had asked Non Nan to teach me a song in Thai the night before and I actually sang it to the whole school. In a microphone, while they all looked at me in total surprise ( just imagine how wrongly I probably sounded). They clapped in ecstasy! I was then made to dance with them, while the speakers played Thai pop music! we went wild!

As everything here begins with a meditation, so it ends. And to my complete surprise as all teachers know I am planning to go for vipassana, they ask ME to seat in meditation position in front of the kids. I first refused and said I would seat with them. But then as they were all so curious as to see how I was seating, i followed HOrn's request and sat on the stage. I sat in lotus position, as I am quite used to it, and realized the kids were amazed. They copied me. And then to my complete surprise I close my eyes amidst enormous noise from teachers and kids, and suddenly the place went silent, and I felt totally in peace. When I opened my eyes much later and I saw all these little kids, 200 of them meditating, I felt so much happiness. I could not really place it. It felt totally surreal to be me a westerner meditating in front of Buddhist Thais, but there I was, and I felt so much love for these kids.

And then time to go came. And I being Brazilian went to hug everyone. Tanoy said to me " I sad you are going" it was her way. They did not know very well the hugging thing. Ta, a little fat boy from year 4 gave me a kiss on the face. Most hugs were awkward. But they hang around and said bye many times, many, many times.... And then Tangmo who was not officially in the camp came, and she ran into me and totally hugged me. A real hug! A very strong hug... and then I being melted butter... well then I really cried....