sexta-feira, janeiro 25, 2008

What´s love got to do with it?

Depois que eu escrevi sobre a sociedade doente, adoeci. Nada grave, e mais fruto da minha exaustão do que qualquer outra coisa. Estive viajando nesse final de ano. Passei pela holanda, belgica, luxembourgo, espanha e irlanda. No final de noites mal dormidas e caminhadas sob a chuva eu fiquei doente. Mal estou me recuperando e ja embarco para Maastricht na sexta que vem.

Na espanha fiquei num apartamento de estudantes onde conheci um menino que me tocou com suas palavras. Um Venezuelano que pensa muitas coisas que eu nao penso, que viveu em Miami muitos anos e agora vive em Madrid.

Discutimos muitas coisas logo nos primeiros dias. Deixando de lado, tudo que eu discordei dele no principio vou direto a tal noite. Uma noite onde eu estava sentada rodeada por um brasileiro, uma francesa, uma espanhola, e o Venezuelano.

Nao sei do que falávamos, e como foi que chegamos ao tópico. Eventualmente, nao sei como, Carlos, o venezuelano, disse que tinha amigos neo nazistas. Eu, fiquei estarrecida. COMO??? Como ASSIM?? Ele explicou que nao concordava com a visao deles, mas que como eles o tratavam bem, não os destratava. Cada um tem sua opinião.

Quem me conhece pode imaginar o que isso me causou. Total desespero. ´Como assim???´ O cara propaga o ódio mas é legal com vc entao é seu amigo???? ~sim~ E se fosse um cara da KKK e te tratasse bem??? ~tbm trataria~ eu realmente nao sabia o que dizer. me senti tão revoltada. fraca. perplexa. como assim????? um cara que batesse aqui no nosso amigo que é gay?? ou estuprasse a sua amiga e te tratasse bem???

Carlos, dizia que ele o trataria bem. E eu dizia que precisamos de legislação para evitar isso. Carlos dizia que eu estaria fazendo o mesmo. Como o mesmo?? ~Sao diferenças de opinião~Como diferença de opinião?? Diferença de opinião é : eu gosto de amarelo e você de azul, não eu acho que você não deve existir!!!!

E eu argumentava, argumentava, e ele me explicava que não concordava com as opinioes do neo nazi, mas que os tratava bem. e de repente veio

`eu sei que voces não acreditam, mas eu sou evangélico, e acredito que só há mudança através do amor. eu os trato bem porque espero que assim eles reconsiderem seu comportamento. Isola-los não resolve.´

Me nocauteou. E eu nem sabia direito porque. E eu concordo com o Carlos que isolar, detestar não traz mudança positivas. No entanto, não podemos viver numa sociedade onde eu como mulher tenha que esperar o amor, a transformação dos outros para poder votar, ganhar o mesmo, não ser discriminada.Não podemos esperar o amor do do outro para o chico poder casar com quem ele quer. Para o Ahmed, ou Chinua, ou Severino serem bem tratados.

Me nocauteou porque toca num ponto polêmico. Eu reconheço que muitas das lutas por defesa dos direitos humanos, segue mais uma agenda política e econômica do que real interesse nos tais seres. Também reconheço que são muitas vezes coloniais. O que é mais difícil de reconhecer é que sim, respeitar os direitos humanos é um paradigma arbitrário como qualquer outro. Isso é mais difícil de aceitar. Assim como é difícil aceitar que não existe liberdade de expressão e que nem seria bom existir. Que alguns tem mais liberdade do que outros, dependendo de quem são, do que dizem de onde estão.

Frases como ~meu direito acaba onde o do outro começa~ são vazias. Não dizem quase nada e são mais para terminar discussões. O que toda essa discussão me faz perceber é que apesar de todo a minha luta por querer respeitar o outro, nela eu sempre ferirei o direito do que quer um mundo distinto.

Será que só há realmente mudança positiva através do amor altruísta e respeito?? Num mundo mais avançado, num outro zeitgeist eu até acredito que sim. Por enquanto, no entanto, acho imprescindível que nos que acreditamos na defesa dos direitos humanos os defendamos. Acho que é importante que nós, mesmo correndo o risco de sermos um pouco arbitrários continuemos advogando por respeito e mais igualdade.

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