terça-feira, outubro 27, 2009

Banco Imobiliario



Quando eu comeco um post raramente eu sei onde ele vai dar. Algumas vezes eu tenho uma ideia sobre o que eu quero escrever, e quase sempre eu termino falando de outra coisa. Foi assim com um dos meus ultimo posts que comecou falando da dificuldade do inicio da minha viagem e do meu voluntariado e terminou longissimo de onde eu tinha pensado que iria terminar quando eu comecei a escreve-lo. Naquele post eu queria contar uma coisa meio tola, eu queria contar dos recreios na escola onde eu voluntariei.

Em Ban Nongan, o vilarejo onde eu voluntariei fazia um calor, mas um calor assim desses que se le em livro, que se ve em filme, que quando lembrado ja nao parece mais tao quente. Calor desses que quando voce chega voce fica desesperado para vence-lo, para sobreviver, e com o tempo vai percebendo, ou simplesmente se adaptando a ficar imovel, numa imobilidade interna, letargica, olhando o mundo passar a volta devagar. Em casa eu me sentia, como ja descrevi antes, a perfeita heroina fresca de filme europeu que tenta sobreviver letargicamente, enquanto a volta enxerga os trabalhores rurais, senhores e senhoras trabalhando nos arrozais. Aqui em Londres, eu até sinto falta desse calor. Um calor vazio, que me deixava quase que num vacuo morno, sem muitas agitacoes, tormentos internos, esperando no principio ansiosamente mas eventualmente pacientemente a inevitavel tempestade.

Nesses dias em que a tempestade demorava mais a chegar, nem as criancas conseguiam ficar alheias ao tempo. Elas voltavam para classe na hora do almoco para brincar. E eu ia me juntar a elas pois era sem duvida muito mais interessante e divertido que ficar com os professores. Sentar no chao de azulejo azul esverdeado da classe refrescava fisica e psicologicamente. Eu sentava e assistia as criancas brincarem. Nesses dias tao quentes eu nao fazia muito mais que isso.

E eles jogavam damas, jogos com as maos, e muitos de inventar coisas assim meio que na hora. Jogos de cantar, de gritar, aquela eterna bagunca. Sempre me convidavam para brincar, e eu sempre me espantava com a habilidade que eles tinham de se divertir por tao longo tempo com tao pouco. Eu nunca vi nenhuma crianca da minha escola dizer que tava "bored". A alegria deles cantando era super contagiante.

Um dia tiraram la do canto da sala um caixa do "banco imobiliario". Tanoy e Pai com o eterno sorriso nos labios olharam para mim " Krum Kru Chu play?". Eu aceitei e me sentei ao lados delas. Logo percebi que o jogo na iria seguir as regras convencionais. NInguem tinha dinheiro. Como eu nao falo Lao ou Thai, e nem eles ingles e a essas alturas eu ja tinha aprendido a comunicacao nao falada esperei. E hoje eu ja nao sei mais explicar como é que nos comunicavamos, pois hoje em dia eu me lembro apenas é que nos nos comunicavamos". O fato é que o jogo comecou, e a primeira diferenca da maneira dos meus alunos jogarem se tornou evidente. Quem sempre tinha que pagar era o banco! Portanto todos nos comecamos sem dinheiro, e quando paravamos numa propriedade o banco tinha que nos pagar aquele valor. Jogamos varias rodadas fazendo isso, ate todo mundo ganhar bastante dinheiro. Entao cada crianca comprou uma propriedade, oque significava que a partir de entao quem parasse na propriedade comprada nao receberia mais do banco e ao inves teria que pagar ao novo proprietario. Eu gananciosa comprei 2 propriedades. Niguem disse nada. E eu percebi que ninguem alem de mim comprou mais de uma. E naturalmente eu logo fiquei sem dinheiro pois ao parar na propriedade da Nook nao tinha dinheiro para pagar. Olhei para a Tanoy e ela juntou dinheiro dela e do Pote para que eu pagasse minha divida. Depois eu devolveria a eles. Eu tentei explicar que isso nao era justo, que eu devia sair do jogo, ou pagar um multa. Eles insisitiram que nao. Que continuassemos a jogar. E assim eu percebi que o objetivo do jogo nao era eliminar jogadores, nao era ganhar ou perder, nao era enriquecer mas simplesmente se divertir. E em Ban Nonpho para se divertir todo mundo tinha continuar la.


2 comentários:

Anônimo disse...

Sensacional, Ju!
Em tempo: os comentaristas chineses não largam do seu pe hein...
Bjs!

Julieta de Toledo Piza Falavina disse...

Pois é! Muito engracado isso! Um monte. Eu preciso encontrar un chines para me dizer do que sao esses provaveis anuncios :)

Eu ia apagar...mas ai fica escrito "deletado pela moderadora" ou qualquer coisa do tipo..e fica muito "censura" para o meu gosto :) Afinal deletar so porque eu nao entendo o comentario deles e eles o meu texto, very unreasonable!!! ;)