sábado, março 27, 2010

Vivendo Nos Outros

Sempre me perguntam qual é meu lugar favorito no mundo. Antes de eu ir para o sudeste asiático eu sempre respondia que nao havia, cada lugar tem seu charme. E é verdade, eu continuo achando isso mas confesso que o sudeste asiatico se tornou o amor da minha vida. Já faz quase 6 meses que eu voltei e eu nao sei no meio de quantas noites eu já acordei sentindo um desespero enorme de pensar que talvez eu nunca mais voltasse a beira do rio do Mekong. É incrível, eu ainda me sinto tão proxima as pessoas que la conheci. Os locais e viajantes, as crianças, os donos de pousadas, os professores de yoga e meditacao. Assim que com e-mail e Facebook toda hora eu mando uma mensagem para um ou outro querendo saber um pouco da vida deles. Horm me mandou um e-mail super doce esses dias, tinha lido todo o meu blog em ingles, tudo que tinha escrito sobre a tailandia. Meu coracao deu um sobre-salto(?) ..meu deus, o que sera que eu escrevi? Faz tempo nem me lembro direito.

Faz umas semanas, fui jantar com mais uma palestrante da serie de Cultura e Congnicao da LSE. A mesa estava a palestrante Tanya Luuhrmann (professora de antropoogia de Stanford), e varios porfessores aposentados da LSE. Ao meu lado Chris Fuller e John Peel. Chris Fuller que é especialista no Sul da India, disse que para ele sempre foi bom estudar pessoas que pudessem ler o que ele escrevia, "afinal faz com que vc seja mais acurado no que escreve". Diferentemente disse ele " dessas pessoas que estudam uma tribo na melanesia, que podem dizer qualquer coisa". Ler a mensagem da Horm, me fez pensar isso. Sera que eu fui acurada, e ainda mais grave sera que eu escrevi alguma coisa ofensiva? Acho que nao, pois ela gostou, me convidou muito para voltar e disse que quando eu voltasse eu ia ficar triste por um motivo, minhas amigas aranha, aquelas as quais tinha dado nome ( e escrito no meu blog), nao estavam la quando ela foi procura-las :) Contou-me das criancas, do quanto elas ficam felizes quando eu escrevo, e de eu lembrar deles. LEMBRAR? Como assim, como eu poderia esquecer?

Fiorini, conta que os Nambiquara, quando alguem morre destroem tudo que pertence ou lembre aquela pessoa. Botam fogo nos pertences nao guardam nada. É porque para os Nambiquara eh necessario deixar com que o morto se esqueca, e enquanto ele existir em voce ele nao pode se esquecer. Entao, os que vivem queimam tudo, e colocam o morto numa gruta. La o morto vai aos poucos se esquecendo. E na hora que tudo que eh sua "consciencia" desaparece ele volta a ser "energia" ou espirito e vira uma estrela no ceu. Eu acho incrivelmente bonita essa ideia de existirmos no outro, e se de um lado precisamos esquece-los para eles poderem cessar de existir e partir, do outro, quando o outro parte, e deixa de existir eh como se alguma parte nossa deixasse de existir um pouquinho tambem. Como se morressemos um pouquinho.

Mas eu nao sou tao disciplinada quanto os Nambikwara e tudo que eu sou de desapegada de objetos eu nao sou de saber noticias de todos esses outros que contem pedacinhos meus. Entao eu mando mensagens e continuo visitando o facebook. E ele me avisando dos whereabouts de todos os meus companheiros de viagem nao me faz deixar de existir viajante o que torna a vida de sedentaria incrivelmente mais dificil.

3 comentários:

Anônimo disse...

Torna! :-)

Anônimo disse...

Lindo!

Ju

Julieta de Toledo Piza Falavina disse...

Pois é GIORGIU ....