quarta-feira, novembro 10, 2010

Gal

Esses dias eu ouvi Maria, minha amiga Grega que também faz doutorado comigo explicar que nos (eu e ela) navegamos o mundo atraves dos nossos sentidos. O jovem, Philip, que aos 21 anos tbm está fazendo doutorado conosco explicou que nos precisavamos compreender que eles os jovens britanicos navegavam o mundo "through their own insecurity." Nao era uma resposta que eu ou a Maria esperavamos ouvir do Philip. É engraçado como essas expressoes ditas meio ao acaso, as vezes ficam. Hoje li um Israelense explicando no Couch Surfing que ele se sente uma esponja ambulante.

E a combinação de me sentir uma esponja ambulante guiada por meus sentidos me fez pensar é claro em viajar. Talvez a estimulação mais forte a todos os meus sentidos tenha acontecido na India. No entanto, ainda que eu me lembre dos momentos sublimes, e desesperadores na India, a alguma coisa em Israel que penetrou ainda mais. Talvez seja o simples fato de que ali, o berço das religioes do livro, que é tao parte da nossa sociedade, eu conseguisse compreender a incompreensibilidade das coisas um pouco melhor. Nao sei. Só sei que eu tinha dito que aqui escreveria sobre a minha viagem, e por uma ou outra razão sempre evito.

Cheguei no aeroporto Ben Gurion, querendo ser esponja, querendo entender, ver, sentir tudo que ouvesse para sentir. Nao sei, se faria alguma diferenca eu nao querer. Parece-me que por la nao há jeito. É tudo ao extremo, é tudo forte, é tudo demais. Como tinha chegado tarde, achei melhor ir com o Mexicano que eu tinha conhecido no voo para o hostel. Quando liguei para dizer isso a Omri, meu primeiro host, ele disse que nao havia problema ser tarde, que ele tinha que trabalhar mas seu melhor amigo,Gal, que tinha vindo de Tel Aviv, me receberia em Jerusalem.

Entao, eu peguei a van, e fui parar en Nahlaot, um bairro muito antigo de Jerusalem. Assim que cheguei na esquina indicada, de mochila nas costas para minha primeira aventura como CS num lugar TOTALMENTE desconhecido, fiquei empolgada. "Nossa, eu estou em Jerusalem!!!". Minutos depois apareceram Gal e Omri de moto. Eu nao sabia quem era quem. Disse um breve ola para Omri, que tinha que ir trabalhar, e fiquei com Gal.

Gal nunca tinha ouvido falar em Couch Surfing. Entao, eu que nunca tinha de fato couchsurfed tive um encontro especial. Nos dois ali descobrindo como é que isso acontece. Me levou para casa do Omri, e sentamos para conversar. Ele queria saber porque eu estava la, sobre o que seria minha pesquisa, porque Israel etc..

Como a minha pesquisa envolve Palestinos, e eu ainda nao sabia muito bem o que isso significava em Israel, eu comecei como sempre começo explicando que eu apesar de nao nacionalista, e de achar que fronteiras sao arbitrarias, e quanto mais eu viajo mais eu acho que nos somos parecidos no mundo todo, por ser do brasil nao estava muito acostumada com todas essas divisoes etnicas. Ele ouviu em silencio. Expliquei que acima de tudo eu era uma idealista, que eu esperava que pudessemos viver num mundo que passassemos por cima dessas diferenças meta-representacionais. Ele continuou me olhando em silencio. Expliquei, mecanismos cognitivos, teorias antropologicas, e a minha muito modesta opiniao. Ele continuou em silencio.

"Gal, are you offended? or bored? should I stop?"

Ele me olhou de um jeito so dele. E disse " I am sad for Omri. Amanha quando ele te fizer essas perguntas vc vai dar a versao editada. Eu tive a sorte de ouvir tudo que voce tem para dizer. Eu passei a semana procurando uma coisa inspiradora. Um projeto, um livro. E agora eu sei, que era isso que eu precisava ouvir."

Eu fiquei desconcertada. Nao esperava ouvir isso de um engenheiro israelense. E depois de toda essa introducao fui aprender tudo e mais um pouco sobre o Gal. Que voluntaria ensinando crianas pobres alem de trabalhar em um milhao de projetos diferentes. Quando era mais ou menos meia noite eu percebi que precisava comer. Saimos por Jerusalem. E eu que achava que tudo estaria fechado me surpreendi ao encontrar varios locais abertos. Ele escolheu um bar de tapas espanholas. Nao era exatamente o meu plano. Haveria muitos outros dias para comer a comida local. Entao ali, naquele bar eu conheci a vida noturna, pouco convencional de Israel. O casal gay ao meu lado, a ameixa preparada com queijo e molho oriental, o bartender que tinha viajado o mundo e queria me fazer beber alguma bebida de aniz que eu nao me lembro o nome. Ali na primeira noite eu conheci quem se tornaria o meu melhor amigo em Israel. O CS me daria muitos outros amigos, e muitas outras estorias inspiradoras. No entanto, o meu melhor amigo, foi ali, na primeira noite, por causa do CS mas sem nem nunca ter ouvido falar disso.

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