domingo, fevereiro 20, 2011

Pensamentos no trem: De Jean Rouch ao Mundo Arabe

Mais uma vez estou em movimento. Mas nao estamos sempre em movimento? Em movimento na minha mente quer dizer cruzando alguma fronteira imaginada, e sabendo disso, esperando que isso de alguma forma mude algo. Essa cruzada nem se quer é muito cruzada. So vou até ali, até Paris, só por uns dias. De certa maneira tão mais perto que muito lugar na Inglaterra. E com o tanto de frances que se ouve nas ruas de Londres…. Nao chega nem sequer a realmente ser uma grande mudança :)

Depois de receber pessoas por quase um mes sem parar pelo Couch Surfing, paramos. Paramos depois da doce Severine, francesa, que vive num vilarejo de mil pessoas em Devon. Severine que morou na Eslovaquia, e Croacia, e que tao pouco se imagina vivendo em lugar nenhum.

Chorei de rir ouvindo as estorias da vida no country side britanico. Ela nos contou que participa quase de tudo que acontece, encontros, bingos e até do book club das senhoras da cidade. Contou que sempre se surpreende com os pensamentos dessas senhoras que ficam a maior parte do tempo em casa, e que moram num vilarejo de 1000 pessoas. Como ela colocou… “quando vc para para ouvir todo mundo é interessante :)”

Nem preciso dizer que meu encontro com Severine foi inspirador né? Encontrar pessoas assim que acham beleza nesses pequenos detalhes sempre me encanta. E só de pensar que eu que estava em meio a uma tempestade de Couch Surfing requests quase não a recebi....

A mensagem no Couch Surfing de Severine começava “ Fancy a tea talking about Jean Rouch”. Achei aquilo intrigante,Jean Rouch , é pouco conhecido , um cineasta do cinema verite de quem alias eu ja escrevi antes aqui. Jean Rouch tinha sido seu professor. Segundo ela, uma dessas pessoas que é melhor conhecer pelos filmes que ao vivo. Um pouco arrogante, e desiludido com a nova geração. "A grande geração ja passara". Nos perguntamos o que ele acharia dos Egipcios que não só demoveram o Mubarak do poder mas depois todo o governo.

Eu que assisti pelo Democracy Now, e Al Jazeera a noticia da queda do Mubarak …e vi as pessoas na praça fiquei tão emocionada. Não sei se vcs viram nos dias que se seguiram… Algumas centenas de pessoas ainda na praça Tahrir… e os militares vindo remove-los. Os egipcios sentaram no chão. Não atacaram ninguem. Sentaram. E ao ouvir a noticia milhares de pessoas sairam de suas casas e foram se juntar aos protestantes nas ruas. E assim o governo inteiro caiu!

Eu não sei o que acontecerá agora. Não sou especialista em questões egipcias. O que parece nao ter sido uma desvantagem em prever o futuro :) Sei que dependendo do jornal que se le NY times, Guardian, Al Jazeera, Haaretz ( e note que eu me mantive nos mais “de esquerda”) a perpectiva muda muito.

Enfim, esse post vai de lugar nenhum, a lugar algum. Vai como meus pensamentos pelo trem. Quanta coisa acontecendo nesse comeco de millenio.

Esse post começou na terca dia 15 quando eu estava no trem vindo a Paris. E agora eu volto a escrever nele da Gare du Nord. Ao rele-lo vi o tanto de coisa que eu ainda tenho para dizer. Coisas que aconteceram em Paris e que se ligam tanto a tudo que eu tinha escrito antes. Para que este post nao fique enorme so vou falar de uma das muitas coisas. Queria falar do meu jantar com meu querido professor Maurice Bloch, que tbm falou do Jean Rouch. Queria falar do Argelino que eu encontrei na rua. Mas eu so vou terminar falando da Leila.

Leila, minha querida amiga marroquina, com quem morei em NY e de quem tambem ja tanto falei estara na noite do dia 20 fazendo parte dos protestos no Marrocos. Esses protestos que se espalham. Toda essa volatilidade do mundo arabe agora. Na sua pagina do Facebook vi que eles marroquinos da classe alta nao sabiam muito bem do que se tratava o protesto, e nem tao pouco onde era. Todos pediam a ela, Leila, que tomasse cuidado.

Leila, minha querida Leila, explicava que eles que podiam fazer alguma coisa de diferente na sociedade marroquina tinham que ir. Tinham que ouvir, que assitir que protestar que pelo menos realmente entender o que estava acontecendo. Eu escrevi a ela que tomasse cuidado. E eu que as vezes vou la naqueles protestos das ruas europeias… naqueles protestos que ja nos causam furia ficar kettled… mas que no fundo sabemos que nao muda nada, e nada realmente nos acontece nao pude deixar de ficar emocionada em pensar na coragem dos egipcios, dos tunisiamos… no povo da libia sendo morto a queima roupa, nos 30 mil soldados na argelia, e na minha amiga que eh de mundo divido… da classe alta francesa marroquina… mas que nao deixa nunca de tentar entender o mundo mais a fundo, mais de perto.

Entao eu termino esse post mais uma vez sem ponto final. Apenas com meu pensamento nessas pessoas que tem a coragem de ir a rua. QUe estao exausta dos abusos. E cansa é claro ver as revolucoes serem roubadas do povo e o poder ser sempre restabelecido para continuar satisfazendo os interesses das elites do ocidente. Ainda assim eu termino pensando que o Jean Rouch estava errado…

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