quinta-feira, março 10, 2011

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Tenho estado meio deprimida. Quase que todos os dias eu reconsidero meu doutorado, faço planos de ir trabalhar na Tailandia, dar aula na China, voltar para o conforto da minha casa no Brasil. Faz 10 anos que eu moro direto fora do Brasil. Eu na verdade, nem sei direito como seria morar em sao paulo. Fica assim quase que tão vago como morar na Tailandia, ou na China. Minha suposta pesquisa em Israel é muito interessante, mas as vezes confesso, da uma preguica. Começar tudo de novo, num outro pais, numa outra lingua. Quantas vezes eu ja fiz isso mesmo? 6 paises, 7 cidades, e Ja nem sei mais em quantas casas. Quantos ola, quantos adeus.

Esses dias eu estava conversando com minha amiga Sabrina. Que ta la em Boston fazendo pos doutorado em fisica. Ela que tbm mudou tanto. Tambem estava exausta. Cansada de tanta mudanca. Tanta instabilidade. Nao que a vida de todo mundo não seja sempre instável. Mas nos nos especializamos nisso: ficar mudando de país atras sei lá do que. Os encontros vao ficando cada vez mais valiosos, porque a solidão existencial tbm aumenta... ainda mais assim quando nos nao temos a ilusao, nem a realidade de ser parte de um grupo fisico que tenha raiz em algum lugar.

Acho que seria hora de voltar a fazer vipassana. Lembrar me mais uma vez de manter equanimidade diante de tanta mudança. As vezes tenho a impressão que por nos fazermos responsáveis por essas escolhas de ficar cruzando tantas fronteiras nos dá essa enorme angústia. Sempre imaginando onde será o lugar mais adequado. Num lugar a familia, no outro o sol, no outro a comunidade academica e intelectual a qual nos acostumamos. Tudo espalhado. E fazer escolha é ter que escolher que parte sua faz mais sentido. IMpossivel, no reconhecimento de toda nossa incoerencia humana.

Como mostram as pesquisas psicologicas escolha demais aumenta e muito a angustia.... no entanto, given the option, acho que ninguem escolhe ter menos escolhas. Quando eu sento toda segunda-feira com meu grupo de doutorandos fico pensando nisso. Todas essas nossas escolhas. Sentamos a volta de uma mesa, na Selgiman Library, na mesma sala onde Malinowski comecou a tradicao dos seminarios de sexta feira no departamento da LSE.

Segunda-feira nos sentamos para falar das nossas pesquisas. Nunca penso muito nessa conexao dessa sala com a tradicao da antropologia britanica. Nao. Eu olho a minha volta e vejo uma grega que vai para amazonia peruana, uma colobiana que vai para o ecuador, uma holandesa que vai a India, uma alemã, um americano, e um italiano que vão para a China, um americano que vai para Jamaica, um russo que vai para Siberia, 3 ingleses, um que vai para a Siria, outro para as Filipinas, e um para Amazonia, e eu uma brasileira que quer se meter entre Palestinos e Israelenses. Tirando os 3 ingleses, todos nos ja somos estrangeiros aqui, e ainda assim escolhemos ir fazer trabalho de campo num outro lugar distante.

O que será no fundo que buscamos encontrar? Eu sei todas as nossas explicacoes antropologicas, filosoficas, politicas, cognitivas. Essas que nos colocamos nos formularios, nos nossos proposals. O que eu nao sei muito bem, é oque no fundo de cada uma dessas pessoas incriveis que eu encontro toda segudna feira, faz com que elas queiram ir parar no meio de uma tribo na amzonia, ou numa fabrica chinesa. Nem eu sei direito o que me faz ir a Israel.

Sem dúvida acho que vamos buscando sentido. No entanto, se sentido já nos falta agora, me pergunto o que acontecerá na volta. Depois de dois anos vivendo de observar uma sociedade alien. O que acontece quando de repente tudo comeca parecer fazer sentido e esse é o sinal que é hora de voltar. Como se alguem viesse mais uma vez e arrancasse o tapete por debaixo dos nossos pés. Eu sei que eu ja escrevi aqui antes, que acho importante cultivar o estranhamento das coisas. Não sei se é idade, o frio, ou simplesmente um momento passageiro. So sei que chega uma hora que o estranhamento de tudo cansa. E dá uma saudade, uma vontade de voltar ao principio onde tudo era familiar. Mas assim como as escolhas.... sabendo que elas existem, ainda que eu saiba que ter muitas delas me faz infeliz, eu acabo sempre.... cruzando mais uma fronteira.

6 comentários:

Aleksander Aguilar disse...

Eu acho que tu escrevestes este texto, também, pra mim :)
beijos

Khipukamayoq disse...

Oi Ju,

Legal o texto como sempre!

Ju, vc sabe se tem algum professor no LSE que trabalha com indígenas da Amazonia Peruana?

Beijos e obrigada,
Cris

Julieta de Toledo Piza Falavina disse...

Aleks,

Como esta a vida de volta ao brasil? Esse mesmo sentimento? xxx

Cris,
Obrigada. Na LSE tem o Harry Walker. http://www2.lse.ac.uk/anthropology/people/walker.aspx

Beijos

Aleksander Aguilar disse...

Toma um chá comigo que eu te conto!
todos os beijos!

Georgeumbrasileiro disse...

É...

Anônimo disse...

Lindo, lindo, lindo!!

Luli