sexta-feira, fevereiro 11, 2011

Galhos, Vacas e Antropologia

Eu que detesto despedidas acabei de arrumar um jeito de me meter ainda mais nelas.... couchsurfing. Hoje o Chi foi embora. Ontem a noite fizemos uma festa do Oriente Medio para sua despedida. Eu sei, eu sei... não faz sentido nenhum, mas fazer o que a idéia surgiu... e assim passamos, eu e alguns amigos do meu doutorado, dancando até hoje de manhã.

Chi partiu me deixando com algumas coisas na mão: um selo do Taiwan e uma nota do dinheiro da Mongolia... Pois é, bem que ele tinha explicado que os asiaticos prestavam muita atenção no comportamento dos outros. Ele lembrava do meu sonho de ir a Mongólia. E partiu dizendo que se fossemos arvores, e alguem quisesse me encontrar, que teria que ir seguindo os galhos, que vao se dividindo, e se dividindo, e se dividindo ate chegar em mim. "Voce ta la na ponta. Vocé muito especial. Pouca gente vai te entender de verdade. Bem pouca, vc vive voando por ai." Disse isso de maneira doce, mas eu senti uma enorme solidão. O que será que quer dizer eu estar la na ponta? Enquanto todo mundo ta no chão ?

Ele também me disse que o meu otimismo tinha pegado um pouco nele, isso me animou um pouco mais. Por fim me disse que eu podia sempre contar com ele. Quando eu fiz uma sacolinha de frutas e nozes para ele levar na viagem de onibus até Paris antes de partir para Madagascar ele riu e disse " Para Jules, eu ja te devo demais, desse jeito eu vou voltar na proxima vida como sua vaca."

Eu ri, e fui la levar a porta um viajante que ficou aqui em Londres 10 dias. 8 desses dias na minha casa. Fiquei imaginando que logo logo ele cruza para Madagascar, de onde eu sei tanta coisa, por ter como professores Maurice Bloch, e Rita Astuti. Ele planejando a viagem a Africa por estrada que nem sabemos se realmente funciona. Chegara no Sudão do Sul alguma hora. Um Taiwanes por la descobrindo os caminhos que se ligam na minha mente ao Michael Palin indo de polo a polo.

Fiquei pensando nas coisas tolas. Como de certa forma parte minha vai estar por aí andando pela Africa. Alguma parte que eu troquei sem nem se quer ter percebido. Um atomo, um pensamento, um amendoim esquecido no bolso. Ainda mais estranho foi pensar que eu que gosto tanto de viajar senti assim: que viajar ficando na casa dos outros assim.. deve ser dificil demais. Maravilhoso demais e dificil demais.

Eu aprendi tanto conversando com o Chi. Nada da historia da China, do conflito de Taiwan, nem das suas viagens. Ele falou de tudo isso é claro. Tudo isso podia ter sido lido num livro. Eu aprendi um pouco sobre como é outra maneira de pensar. E isso para mim uma hard core cognitivista é impressionante. Observa-lo na festa. Observar seus comentarios. Suas perguntas. Um Taiwanes muito diferente dos outros que eu ja conheci. E eu não to querendo aqui enfatizar nem similaridade cultural, nem diferença individual. Mas levando toda essa diferença meta-representacional a sério diz o que sobre a nossa cognição ? Meu deus.... será que eu to me convertendo para o lado dos antroplogos culturais e sociais ? Não, talvez seja so uma parte do Chi que ficou por aqui.. talvez seja uma parte dos antropologos tipicamente sociais com quem tenho passado tanto tempo ultimamente....

2 comentários:

Anônimo disse...

Julieta,

Eu leio seu blog ha um tempao! Nunca escrevo nada porque eu nao sou tao boa com palavras. No entanto, uma amiga minha que tem um blog, me falou que adora receber mensagens. Então, aqui vai a minha! Obrigada por escrever posts tao sensiveis e tocantes.

Luiza

Anônimo disse...

Juju

Parte sua viaja sempre comigo....

Gui