Sai de londres de madrugada depois de passar a noite numa festa. Dormi a viagem inteira, e acordei em Istanbul. Peguei o onibus que me levaria a Taksim, onde minha amiga Nese mora. Desci, pedi umas informacoes numa mistura de turco mal falado e ingles, e recebi respostas em ingles mal falado, gestos e sorrisos. Andei ate finalmente encontrar a casa da minha amiga
Subi os muitos degraus carregando a minha mala ate chegar a casa dela no ultimo andar. E finalmente eu estava ali. Depois de tantas tentativas, depois de muitas viagens canceladas, depois de muitas passagens perdidas, depois de ter pego onibus, trem, aviao, onibus, taxi eu finalmente tinha chegado a casa dela. Nos abraçamos, nem ela acreditava mais que eu chegava. Conheci seu Flat mate alemao que parte para Siria em alguns dias. E comemos uma refeicao deliciosa de queijo turco mais tomates, ovos, pepino, pao. Enfim, um pequeno lanche para esperar para o jantar de aniversario de uma conhecida dela.
Eu adormeci no chao, enquanto Nese foi tomar banho. Exausta que eu estava de ter varado a noite numa festa e pego tudo que é meio de transporte para chegar a casa dela. Acordei com Nese ao meu lado bem quietinha. Se eu prefirisse nao precisava ir ao tal jantar. Eu podia ficar dormindo ela disse. Mas nao, havia tempo para dormir depois, agora na minha primeia noite em Istanbul eu iria.
Andamos pelas ruas do bairro até chegar num pequeno, muito pequeno restaurante. La dentro havia 4 pessoas. Em cima da mesa pratos com uma variedade de entradas. Lembrou me o marrocos. Berinjela, cenoura, tomate, tabuli e outras coisas em pratinhos com temperos diferente. O dono um simpatico armenio que fazia de tudo para tornar o lugar o mais agradavel possivel. Aos poucos foram chegando outras pesssoas. Eles eram arquitetos, fotografos, pintores, artistas.
Se esforcavam para me envolver. Para me explicar. Para falar em ingles, em frances. E eu amando estar ali. com aquelas pessoas. Ouvindo a musica turca. Comendo, ouvindo, comendo. Eu experimentei e desgostei da bebida de anis. Fiquei na agua. Fui me inebriando de estar ali naquela pequena celebracao. A aniversariarante, um doce, todos tao atenciosos, e eu fui me apaixonando por aqueles turcos desconhecidos que eu nem se quer entendia direito.
Ai comecou a musica. E para isso nao precisa linguagem. Dancamos. Ali naquele pequeno restaurante a Nesli, aniversariante, ficou de pe e comecou a dancar danca do ventre. Me puxou, eu puxei a Nese e de repente todo mundo estava dançando. Chegou o café turco. E eu que nem tomo café, tomei. Virei. E deixei la esperando para que pudesse ser lido. Sarkan, um turco gay (que me contou sobre a gay scene em Istanbul), desvirou a xicara e comecou a falar. E assim, sem saber nada sobre mim foi falando. Olhando para a borra e falando. E eu que nao tava levando muito a serio no comeco, fui ficando impressionada com os comentarios cada vez mais precisos. Eu so ouvi, nao disse nada. E aos poucos, eu fui sentindo uma conexao com aquele cara. Que parecia de fato estar lendo minha vida.
Num certo ponto disse que eu tinha estado doente, e que aquilo tinha sido um “turning point” para mim. Lembrei-me entao, do primeiro dia quando sai do hospital e fui a um templo hindu enquanto esperava a hora de ir para o encontro da yoga ( do qual eu tanto falei). Um homem la no templo saiu de nao sei onde e veio diretamente a mim. Trouxe um livro chamado de turning point . Eu nem me lembrava dissso, mas falando com o Andrew sobre meus exames no Brasil (meu amigo que me levou a casa dos lordes, a yoga e ao templo hindu) esses dias, ele me lembrou de como ele tinha ficado impressionando com aquele homem do templo que tinha me trazido esse livro em meio a tantas pessoas, como ele achava aquele momento simbolico. Hoje o "turning point" vinha a tona de novo. Sorri. Coincidencia, ou sincronicidade, boabagem ou destino fez meu enontro com Sarkan parecer mais significante.
E ai Nesli fez um discurso. Em turco. Eu sem entender nenhuma palavra fui me sentindo emocionada. Ali naquele minusculo restaurante turco. Eu ali ouvindo uma lingua que eu nao entendia fiquei emocionada. Eu sabia dentro de mim que ela devia estar falando de alguma transformacao.
Na mesa tambem havia Ahmet, curdo, que nao falava uma palavra de ingles. Nossa comunicacao entao, era so no olhar. no gesto. Depois veio a dona do restaurante sentar se perto de mim. Dizer como eu era bonita. Ou melhor, dizer para a Nese, pois ela tao pouco falava ingles. Falou de energia, e de repente eu fiquei sabendo que ela era uma yogi. Que coisa, no meu primeiro dia na Turquia eu vou parar num minusculo restaurante onde a dona é uma yogi!!! Nao faz propaganda, acredita que as pessoas chegam la porque tem que chegar. Cozinha como forma de encontro com o outro, cozinhar é sua meditacao mais profunda. Seu momento de criar. Nunca um prato é igual ao outro. E eu a olhei e de repente ficou tao evidente que as palavras eram pouco importantes. Mesmo sem saber nada disso eu ja tinha sentindo uma enorme afeição por aquela mulher. Ao mesmo tempo, tão presa ao verbal, como é dificil estar numa situacao que voce nao pode falar com o outro. Da a ilusao que aquele mundo existe ali do seu lado, mas está fora do seu alcance.
E ali fora "do alcance" eu pude abandonar o verbal. E me comunicar sem me comunicar. E sentir. E ser sentida. E olhar, e trocar. E sentir essa enorme gratidao por poder ver um outro mundo. Ter outros encontros. Por poder trocar as vezes de maneiras inusitadas. No meu primeiro dia de Istambul eu nao vi nada de turistico. Eu vi muitos olhos. Muitos gestos e e eu senti muito. E em poucas horas eu ja estou apaixonada por Istanbul.
3 comentários:
e o segundo?? e o segundo???
:)
gui
Obrigado Julieta por este belo momento de vida que relatastes com tanta sensibilidade. Já incorporei ao meu mundo emocional. Namastê!
Gui,
Ha de vir com tempo :P
Celso!!!
Quanto tempo? Obrigada pela mensagem. Espero que esteja tudo bem por ai!
Beijos
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