Alguns meses atras eu me inscrevi para ser seminar leader de um curso da Birkbeck. Havia tres opcoes Pyschological Approaches to Social Conflict, Sociological Approaches to Social COnflict e Political Approaches to Social Conflict. Achei que seria muito dificil me chamarem afinal eu nem terminei ( e agora nem vou terminar ) meu doutorado. No entanto, achei que se me chamassem, seria para uma das duas primeiras aulas.... como a vida sempre surpreende eis que me chamaram para a aula de politca.
No comeco fiquei meio insegura afinal de contas, apesar de eu ter feito um monte de aulas de ciencia politica e politica internacional essa nao eh minha especialidade. Encontrei com o professor que na verdade eh da SOAS e quando vi o syllabus fiquei bem tranquila. Os topicos eram liberalismo, feminismo, Marxismo etc. E como a classe era para undergrad nao havia nada de muito complicado.
Alem disso, a unica coisa que eu tinha que fazer era guiar o seminario depois deles terem visto a aula. Em outras palavras faze-los falar sobre o que eles tinham aprendido. Tanto eu como o Kevin estamos muito mais interessados em saber o que essas pessoas pensam depois de ter ouvido o que pensava Stuart Mill, our Marx do que te-los repetirem o que os famosos e debatidos pensadores pensam ou nao.
Na Birkbeck ha muitos alunos que ja sao mais velhos. Eu nunca na minha vida imaginei que eu fosse ficar tao interessada, e tao fascinada pelas discussoes que eu fomento toda terca-feira, e quarta a noite.
Alem dos alunos serem mais velhos eles tbm vem de tudo que eh lugar no mundo. Ha muitas mulheres africanas no meu grupo e elas tem sido uma verdadeira fonte de aprendizado. Acho que quem ele esse Blog deve ter uma ideia que eu nao sou muito a favor do total relativismo cultural, mas tao pouco assino embaixo do universalismo com apolitico. Essa aula tem sido incrivel por isso.
Semana passada o topico que sempre aparece nas minhas aulas de faculdade nos eua, na holanda, aqui apareceu: circunzicao feminina. Nas minhas aulas eu li muito sobre isso mas nunca tinha tido representantes circuncizadas presentes. E eis que a conversa comeca de cara com uma mulher nos seus 40 dizendo que era circuncizada sim e com muito orgulho.
Eu comeco sempre explicando o que eu acredito mesmo: que quanto mais eu viajo mais parecidos eu acho que somos, e cada vez mais eu me humildeco ( existe?) com a generosidade e sabedorias das pessoas de lugares que eu nao compreendo muito bem. Perguntei entao: Porque ela se sentia orgulhosa
" Por que eu me sinto bonita!"
De todas as respostas do mundo essa era a ultima que eu imaginava escutar. Uma africana do outro lado da sala gritou.
" Mas voce foi forcada a fazer isso, agora tem mesmo que achar bonito!"
" Imagina, eu tinha 17 anos fui porque quis!"
Eu ponderei e contei a elas o caso de uma amiga minha muito bonita que ja fez nao sei quantas plasticas no brasil para se sentir bonita. Varias anestesias desnecessarias, alergias a medicamentos... mas ela sempre me explica que faz por que quer.
Ponderei que sempre que achamos que temos uma escolha temos que parar e pensar " Se eu nao fizer isso minha vida na sociedade vai ser mais dificil? vai ser mais dificil de casar, ter namorados? arrumar emprego etc etc etc?" e eh claro que ha niveis, mas se a resposta for sim, provavelmente quer dizer que isso nao eh tanto uma escolha, mas mais uma pratica a qual fomos socializados e acreditamos estar escolhendo. Mais ou menos como usar roupa.
A mesma mulher que tinha se oposto a circuncisao gritou " voce acha que escolhe, mas eh porque todo mundo faz na sua sociedade"
E entao uma mulher muito quieta la do fundo da sala disse " No meu pais, a circuncisao foi proibida e sabe o que nos meninas fazemos? Nos viajamos para Burkina Faso e fazemos la!"
Os europeus da sala ficaram de queixo caido. Uma outra mulher ainda tentou " acho que isso tem a ver com o fato que mulher ter prazer eh tabu"
Ao que a primeira respondeu " Eu tenho muito prazer! Quem sao voces para decidir como eh que eu sinto prazer e experiencio amor?" disse e deu uma gargalhada.
Toda quarta feira agora eh assim. Tudo que eu aprendi de ler de em etnografia eu to podendo verificar first hand :) E como eh fascinante ver que somos tao parecidos and yet tao diferentes.
ps: da proxima vez eu prometo que falo sobre a discussao sobre feminismo e poligamia.
3 comentários:
Achei essa discussao muito interessante, porque nao conseguia imaginar uma mulher com acesso a informacao defendendo a circuncisao. Depois de assistir a flor do deserto, comecei a procurar algo sobre isso e os relatos que encontrei sempre envolviam muito sofrimento.
Abraco.
Ju,
sabe que eu tive uma experiencia muito parecida no Quenia! As pessoas normalmente substiman o poder da tradicao....
Saudade de vc! Amei seus emails de Israel e da Palestina!
Vc tem que escrever um livro!!
Bjs
Carol
OMG! isso é muito muito novo pra mim. esse papo de que queo mesmo e faço mesmo. afinal, quema gente pensa que ta defendendo quando empunha uma causa de uma cultura outra, taking for granted que aquilo é universalmente melhor? mas sério, que coisa doida, pq afinal retirar a maior fonte de prazer de uma mulher não pode ser uma coisa boa... que confusão de social-pessoal-físico-particular-genérico.
bom demais o papo.
beijo e saudade!
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