And herein lies the tragedy of the age:not that men are poor,.. all men know something of poverty;not that men are wicked,.. who is good? Not that men are ignorant,..what is the thruth? Nay, but that men know so little of man. W.E.B du Bois (The souls of Black Folk)
quarta-feira, novembro 07, 2007
Au Revoir Parapluie
Eu sei que faz tempo que eu não escrevo, e quando alguém me conta isso, eu me espanto em saber que alguém vem aqui de vez em quando ler. Aí eu me animo, e decido escrever, assim como eu me animo a voltar a compor quando me pedem para tocar aquela musica que eu compus há um tempão e já nem me lembro mais. Depois acabo achando que não tenho muito o que dizer e todo aquele entusiasmo se esvai.
Nesse tempo que eu não escrevi, muitas coisas aconteceram, eu passei um mês no Marrocos, quando voltei fui para o hospital achando que estava com um tumor no cérebro (não é o caso), abandonei o hospital, e fui procurar religiões. Visitei templos hindus, budistas, ashrams, tentei fortemente controlar o meu ateísmo, meu ceticismo. Fui acolhida muito bem em todos esses lugares, em alguns me identifiquei, me senti em paz, mas foi na arte que eu encontrei aquela transcendência da realidade.
Passei os últimos meses me dedicando as coisas belas. Fui ver inúmeros concertos, óperas , ballets , e apesar de ter me emocionado com cada um deles, nada me emocionou tanto como o espetáculo que assisti ontem.
Assisti ontem, junto a um grupo de amigos, o espestáculo do James Thierée Au Revoir Parapluie. Ficamos todos encantados, cada um a sua maneira, provavelmente cada um mais fascinado com um aspecto em particular. No final transbordamos. Uns em palmas, outros em gritos e assovios, eu em lágrimas.
Jogada naquele mundo onírico, sem muita preparação, mundo de anzóis e redes, peixes e outros seres me perdi. Como se o inconsciente do personagem principal viesse a tona, ou melhor como se mergulhássemos nas águas desse inconsciente e nadássemos junto ao personagem de James. Como se o acompanhássemos na busca do seu amor perdido. Uma busca carregada de música, ritmo, clownery e melancolia.
Nesse mundo tudo se misturava continua e harmoniosamente, o teatro, a musica, o humor, cada cena praticamente pintada. No entanto, o aspecto que mais me encantou, foi o total controle do corpo. Aquele controle que vem de conhecer cada parte, cada músculo, cada articulação. E esse controle é visível durante todo o espetáculo. Visível quando os bailarinos estão pendurados numa corda se movimentando de maneira espetacular, desconcertante quando James, faz cada parte do seu corpo dançar ao ritmo de um radio quebrado, estonteante quando ele anda na lua. É visível na dança mágica da cadeira de balanço, e especialmente notável quando ele consegue representar materialmente o que é perder um grande amor. Num momento absolutamente mágico, engraçado mas acima de tudo plástico, o personagem de James, que acaba de perder seu amor, perde o coração pelo corpo. Nós na platéia assistimos num misto de riso e melancolia ao coração de James que se perde e chega a bater no joelho.
E eu fiquei emocionada, muito emocionada, como eu sempre fico quando vejo a arte que transcende a realidade, que não tenta reproduzi-la. Emocionada de ver quem trabalha para criar pura beleza, um poema visual. Au Revor Parapluie, que quer dizer Adeus Guarda Chuva, termina espetácularmente. Termina com James sem guarda-chuva debaixo de uma tempestade de petecas e luzes (água e neve?), enquanto seu grande amor está deitado numa cama de cordas e coberta de vermelho.
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Um comentário:
Fico feliz de saber que a dica fez sua noite! Beijao! Bia
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