segunda-feira, maio 25, 2009

Blame it On Fidel



Esse final de semana eu assisti pela segunda e terceira vez o filme " La faute a fidel ( A culpa é do Fidel). Esse ultimo mes eu tambem assisti Black Cat, White Cat do Kusturica umas 4 ou cinco vezes. Oque me fez lembrar da minha prima Lucia que quando era criança alugava sempre o mesmo filme. Todas as vezes que íamos a locadora ela olhava, olhava, olhava e ao final de um longo tempo pegava 101 Dalmatas. Segundo ela "esse pelo menos eu tenho certeza que é bom.". O que me deixava mais fascinada era ver como ela ficava nervosa nas mesmas partes todas as vezes que ela assistia aquele filme. Todas as vezes ela brigava com a Cruela, ela avisava os cachorrinhos, ela torcia, ela se angustiava, e todas as vezes que o filme terminava ela estava feliz. Quem ja assistiu filme com criança sabe que é assim, cinema então é a maior gritaria. Quem ja contou estoria sabe que a estoria nao pode variar nenhum pouco da versao que voce contou antes.

E de fato, sempre me parece que prazer vem do "reconhecimento". Tenho a impressao que nossa paciencia para sentir o "reconhecimento" vem diminuindo. Eu sempre penso nisso quando vejo a evolucao da musica. A musica classica ela é dificil para muita gente porque o momento do "reconhecimento" demora tempo a aparecer. Quem gosta de musica classica sabe que os temas reaparecem, em outros tons, meio mudados mas eles retornam, e aquela nossa ansia de d re-escutalos, ou de resolver uma nota que se estende por um longo tempo ate se resolver é eventualmente saciada. No Jazz, eu sinto a mesma coisa, especialmente em solos de bateria, onde o ritmo se quebra, e voce sente aquele desconfortável tensão de se sentir meio perdida. De repente tudo se resolve e voce se sente de novo no ritmo. Hoje em dia os momentos entre tensao e resolucao sao geralmente menores. Na musica isso me parece bem claro. Nos filmes tambem. É como se fosse tudo meio que uma maquina de criar reacoes quimicas rapidas no corpo. Como um enorme circo de soleil onde tudo acontece ao mesmo tempo, e tudo esta tao a beira de "colapsar" que nós os ouvintes, expectadores ficamos ali desesperados por uma resolução. Ficamos viciados nessas gratificações quimicas.

Assim, que assitindo varias vezes os mesmos filmes esses dias, eu me lembrei de como é bom as vezes prestar atencao nos pequenos detalhes. Aqueles que sem duvida nenhuma passam despercebidos na primeira vez. Na segunda voce compreende mais o sentido. E na terceira fica evidente o trabalho de quem esteve ali por tras. Os sentimentos, as mensagens que foram provavelmente intencionalmente comunicadas, as que foram acidentais, etc. E "A Culpa é do Fidel" é um desses filmes. Um filme assim doce. Conta a estoria de uma menina de classe media alta francesa que ve seus pais virarem comunistas durante os anos 70. A estoria, para mim é muito mais do que isso. É a estoria da enorme capacidade das crianças de se apropriarem do mundo, de buscarem sentido, de tentarem encontrar seu lugar. São elas que fazem as perguntas pertinentes, as que não tem respostas fáceis, as que os adultos tao perdidos num mundo de ideologia não conseguem nem captar. Para mim, o filme mostra também como nossas escolhas são tao moldadas pelas nossas vidas pessoais. Como nossas culpas e nossa lutas são tao intimamente conectadas. Como as lutas internas não resolvidas alimentam a irritação como o mundo exterior, como fomentam as revoltas, batalhas muitas vezes em lugares distantes.

A menina assim como minha prima busca a segurança da repetição. Com a mudança radical de estilo de vida ela fica perdida. Jogada para cima e para baixo de casa em casa, de babá para babá, de pergunta para pergunta. E através do filme ela vai tentando organizar, ela cria o seu cantinho, ela vai trabalhando os seus sentimentos, suas duvidas, suas idéias, sua relação com seu irmão, com sua família. E para mim, ela parece se encontrar na estorias do começo do mundo. Ela tenta fazer sentido do mundo com as estorias que ela ouve das suas babas. Ainda que as estorias mudem, ainda que as babás desapareçam sem muito aviso. Anna, vai empiricamente encontrando o seu lugar.

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