Hoje nao vai dar para escrever sobre Ljubljana. Minha vontade eh escrever sobre a Bolivia. Fiquei aqui debatendo um certo tempo, e cheguei a conclusao que tanto faz a ordem dos fatores :)
Em abril do ano passado, me juntei ao meu amigo Sho, um brasileiro de familia indiana, que eu conheci em Nova York, para uma viagem meio de ultima hora para a Bolivia. Nao me preparei muito antes de ir, so comprei o meu Lonely Planet, tracei uma rota que eu descobriria depois impraticavel, e reservei um hostel para primeira noite pela Internet.
Compramos a nossa passagem pela Gol, Sao Paulo- Santa Cruz de La Sierra e alguns dias depois embarcamos. No meu periodo pre-viagem muita gente me dizia para nao ir, que a Bolivia era perigosa, que o Evo tinha acabado de entrar, que nao se sabia o que iria acontecer, com os conflitos com a Petrobras brasileiros podiam ser mal vistos, etc. Nao surpreendemente, todos esses avisos vinham de pessoas que nunca tinham viajado para a Bolivia. Dos meus poucos amigos que la tinham estado eu so ouvia coisas positivas, me diziam para nao perder a chance de ir, para visitar o Salar do Uyuni, que os Bolivianos eram cordialissimos, e que o pais era lindo. Mas o melhor conselho mesmo foi o do Lonely Planet, logo numa das primeiras paginas le-se : ' Na Bolivia espere o inesperado.' E de fato nao ha melhor expectativa.
Nossa chegada a Bolivia foi muito ...... mesmo depois de passado quase um ano ainda nao sei direito que palavra usar para definir. Chegamos a 1 da manha e conseguimos com sucesso tirar dinheiro no aeroporto. Pegamos nosssos bolivianos velhos e sujos, guardamos, fugimos do primeiro taxista que nos viu tirar dinheiro e pegamos um outro que nos trouxe ao nosso hostel. O taxista era muito simpatico, fizemos muitas perguntas, eu queria primeiro perguntar sobre coisas nao polemicas. Perguntei sobre a cidade, a cultura, as pessoas, mas o Sho queria mesmo saber era sobre o Evo Morales e a politica . Essas perguntas levaram o homem a ter enormes momentos de silencio, ficava pensativo e sempre nos dava respostas ponderadas e cordatas. Ele pouco parecia com os taxistas malufistas que eu sempre pego em Sao Paulo cheios de certezas. Aos poucos fomos percebendo no entanto, que o Evo era pouco querido nessa regiao do pais. Durante o trajeto o taxista ainda nos explicou o sistema educacional de Santa Cruz de La Sierra e quando estava nos contando sobre suas filhas chegamos ao nosso palacio.
Me faltarao palavras tambem para descrever o " Acre Alojamento" mas posso dizer que deixou o "oteu do seu bigode" espelunca que fiquei no interior da Bahia ( viagem que tbm precisa ser relatada) no chinelo. A porta era dessas de correr, que abre levantando, tipo de farmacia, azul anil. Estava tudo fechado, escuro. Tocamos a campainha e esperamos em meio aquela escuridao sem limites na rua inteira. Finalmente apareceu um homem com rosto indigena, como o da maioria das pessoas que vimos, que devia estar dormindo. Ele nao conseguiu nem compreender o que faziamos ali e muito menos como tinhamos feito a reserva.. Era evidente que ele nao sabia o que internet era. De qualquer maneira, disse que tinha um quarto vago. Pagamos pelo quarto, e recebemos a chave. Eu tenho certeza que por mais que eu tente, nao conseguirei dar a dimensao do que era o Acre Alojamento. Me lembrou o romance ' O Cortico' de Aluizio Azevedo. Tudo estava em construcao, poeira para todos os lados, buracos no chao. O Alojamento, era um terreno com duas contrucoes tipo senzalas. Uma para cada lado, divididas em quartos, um corredor entre as duas casas, aberto , sem teto, e com um buraco seguindo todo o encanamento da porta de entrada ate o fundo do Alojamento onde ficavam os banheiros. O homem nos levou ateh os nossos aposentos, que a foto que tirei nao dara nunca a real dimensao da qualidade do local. Infelizmente (ou felizmente) cheiro nao é retratado, mas assim que entramos no quarto senti que todos os temores de Dna Lucia, minha avo, se confirmavam. Olhei para o Sho e sempre de bom humor disse:' Nao eh o pior lugar que eu ja fiquei.' Ao que ele me respondeu ' Para mim eh.'
Desesperada para ir ao banheiro tirei minha lanterna e caminhei até o fim do ^coredor^. La encontrei duas portas abertas, em meio a construcoes , montanhas de tijolo e montes acho que cal. Dos banheiros emanava um cheiro pior que o daqueles banheiros do camping da praia de palmas onde rolava o forró na Ilha Grande ( para quem nao la esteve imagine o banheiro mais fedorento que esteve e multiplique). Fechar a porta era impensavel, fazer xixi de porta aberta neste local tbm. Prendi o ar, deixei a porta entreaberta, e tive um acesso de riso. Fiz xixi rindo lembrando do Sho durante o voo ponderando se haveria chuveiros quentes.
Voiltei ao quarto e percebi que o cheiro era ruim mesmo, quanto notei que a estadia no banheiro nao tinha suavizado em nada o cheiro do quarto... Tive um acesso de riso e me arrependi de nao ter levado sleeping bag, que minha avo tanto tinha insistido para que eu levasse pois segundo ela, o sleeping bag me salvaria se eu fosse parar num lugar duvidoso. O local era esse, a cama tinha um lencol desses que visivelmente nao devia ter sido lavado em muito tempo. Me cubri com tudo que eu tinha trazido dos pes a cabeca tentando assim minizar o contato com a cama e coloquei meu casacao na cama para me deitar em cima dele.
Enquanto Sho foi ao banheiro, peguei o lonely planet para planejar o dia seguinte. De repente comecei a sentir uma coceira generalizada no corpo inteiro. Achei que fosse psicologico, eu mal me mexia para nao tocar em nada, e tudo cocava.. cabeca, perna, lugares dantes nunca imaginados.... Quando Sho voltou mesmo temendo que ele me achasse fresca propus " vamos para outro lugar ?" Ao que ele respondeu ' Gracas a Deus, eu tava com vergonha de dizer que queria ir embora.'
O maior problema agora era avisar o nosso adorado anfitriao. Sho achou que poderiamos pedir a nossa diaria (2 dolares ) de volta e dizer que queriamos ir embora. Eu nao era tao otimista, e estava mais preocupada que o homem se sentisse ofendido, afinal ele mesmo tava ali dormindo num sofa. E nos nao estavamos achando o quarto bom o suficiente para dormir uma noite. Depois de pensar um pouco sugeri que dissessemos que eu era alergica. Nao sei se a vida imita a arte mas o fato é que a maldita alergia realmente se desenvolveu, e assim como se desenvolveu no dia seguinte desapareceu.
Saimos de la quase umas 3 da manha. Andamos pelas ruas escuras sem saber os riscos, sem saber onde encontrar um taxi, com nossas mochilas nas costas, e turista estampado na testa. Por sorte logo encontramos um taxi e com esse novo taxista fomos a caca as 3 da manha de um outro local. Esse taxista era mais falante, descendente de Quechua, vinha de Samaipata e me falou muito mal dos Peruanos. Para ele tudo de errado que existia na Bolivia era culpa dos Peruanos. Pedimos a ele para parar em todas os hoteis sugeridos pelo Lonely Planet, mas naturalmente por serem sugestoes estavam todos lotados. O taxista entao nos aconselhou um hotel que ele conhecia, que segundo ele era otimo! E foi assim que chegamos ao Hotel Espanha, longe de ser um hotel chique, mas comparado com Acre parecia um palacete.
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