terça-feira, janeiro 20, 2009

IV

Voltei para Londres. E fui para minha Yoga. Entre na minha aula que dura normalmente umas 3 horas. E pela primeira vez fui capaz de fechar os olhos o tempo todo. Fechei-os. E ali eu senti que pela primeira vez na minha vida, depois de 8 anos eu fazia Yoga. O resto tinha sido ginastica. E não me leve a mal, eu gosto de qualquer Yoga.

Comecei a ter pesadelos diários. Antes eu era tao controladora, que nunca dormia sem fazer uma analise mental das coisas que tinham me feito ma durante o dia para não sonhar com elas. Meu Yogi disse que os pesadelos eram bons, era meu corpo que estava liberando o que tinha para ser liberado, estava entrando num processo de cura. Então deixei que os pesadelos viessem. O estranho ( havia sempre um estranho de quem eu sentia pavor, fugia dele etc) do meu pesadelo, foi ficando cada vez mais conhecido, e apesar de eu ter medo dele, num certo dia tocamos piano junto como cúmplices. Eu eu reconhecia pela música. Fui aos poucos baixando a guarda.

Ai eu fui parar num acampamento de Yoga. Do qual também já falei aqui. Lá a segunda e mais profunda mudança ( sendo a primeira a do hospital) aconteceu. Ao abandonar o habito de ficar analisando tudo e finalmente me envolver em umas da atividades senti uma explosão dentro de mim. De olhos fechados dancei. Sentindo a musica no meu corpo como eu não sentia ha anos. Cada pulso. Cada nota. Sentia as pessoas a minha volta dançando. E sentia o ritmo cíclico que deve ser o ritmo do mundo. De olhos fechados senti tudo que eu sou vir a tona. A mulher, a criança, a musicista, a dançarina, a incongruente, a paixão, o amor, o desejo, a alegria. Todos vieram vindo, e eu pudia enxergar cada uma. Sufocada, meio desminlinguida, enfraquecida, tentando respirar. E um pequeno pedacinho do que eu também sou, a racional, não deixando. Para mim, esse sempre será a explicação simbólica da minha doença.

E eu sei que a maioria das pessoas comprometem muito do que são sem adoecer, eu sei que varias pessoas tem pensamentos distintos, para mim no entanto aquele momento de enorme liberação fica como uma das coisas mais importantes que aconteceu na minha vida. A descoberta pelo amor de tudo que eu sou. A certeza de que pelo menos eu não posso abandonar-me.

E é claro que uma mudança dessas tira tudo fora do lugar. Tudo que antes estava encaixado de uma certa maneira passa a não ser mais possível. Com a força de quem quer se curar, eu fui procurar tudo. De maneira, eu reconheço, as vezes exagerada. Tudo que eu não tinha sentido eu resolvi que queria sentir. E essa época com todos os seus exageros também foi importante para eu ir me encontrando.

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