Assisti ontem um documentário muito interessante sobre o fim da Iugoslávia. Eu já tinha lido muitas vezes a respeito, visto filmes, tido aulas afinal essa guerra no quintal da Europa foi muito falada. Ontem, no entanto, quando assisti o documentário com depoimentos do Milosevic, e de todos os outros lideres das 6 ex- províncias, tive uma sensação diferente, pude imaginar aquilo tudo um pouco melhor. Vendo aquelas imagens, aqueles depoimentos, a manipulação das pessoas, toda aquela loucura pensei na Vesna, na Jelka e na minha viagem não programada a Croácia. O mais engraçado foi perceber que eu voltei a escrever este blog para falar dessa visita e até hoje não tinha tocado nela.
Eu não vou ser tão linear no relato da viagem. Basta dizer que fui visitar minha amiga Vesna em Ljubljana e que de lá ela me levou para conhecer a Republika Hrvatska, também conhecida como Croácia. A Vesna é uma das pessoas que a familia ficou dividida entre dois países. A familia da mãe é eslovena enquanto a do pai é croata. Essa divisão sempre existiu, ela me explicou, pois apesar da Iugoslávia ter sido considerada como um país ela era formada por 6 províncias com línguas, e culturas distintas. Iugoslávia, eu aprendi, quer dizer terra dos países eslavos do sul.
A Eslovênia sempre teve mais liberdade do que todas as outras províncias. Por históricamente ter sido parte do Imperio Austro-Húngaro, a Eslovênia tinha laços fortes com muitos dos países ocidentais vizinhos, por isso mesmo durante o socialismo, o eslovenos tinham direito de cruzar para o ocidente. A Vesna, que a familia é de Nova Gorica, na fronteira da Italia ia para la freqüentemente, visitar parentes, o fator que limitava outras viagens era naturalmente econômico. De certa forma, ela me explicou, tinha mais liberdade que os dois lados, pois ela podia viajar para o ocidente e o oriente. Apesar de eu ter aprendido coisas muito fascinantes sobre a eslovenia, eu vou deixar para um outro post e pular para a casa da Jelka.
Cruzamos de trem de Ljubljana para Zagreb, e como a Eslovênia é agora membro da UE e a Croácia não é, havia muitos policias checando passaporte. De Zagreb pegamos um onibus para chegar a Stankovic na Dalmácia, cidade minúscula, onde Jelka, tia da Vesna, morava. A viagem de Zagreb a Stankovic foi muito mais longa que a de Ljubljana a Zagreb. Passamos por lugares lindos, e por vilarejos pequenos, num deles o onibus parou no meio da rua principal e única, e descemos.
Do lado de fora estava uma mulher alta, de cabelos negros, roupas velhas, que ao nos ver veio rápido nos abraçou, me deu muitos beijos no rosto, e disse um monte de coisas gentis em croata, que me foram traduzidas assim como tudo que aconteceu dai para frente. Pela primeira vez na minha vida eu estava imersa num mundo onde eu não compreendia a língua e onde ninguém falava nenhuma língua que eu falo. O meu passaporte para esse mundo eram os meus sentidos, e a Vesna.
Jelka nos levou para casa, uma casa simples de dois andares, que ela chamou de fazenda, que saia da rua principal assim como todas as outras dúzia de casas. Uma vilarejo menor do que Macondo, que se via o final logo do começo. Nessa fazenda, que para mim mais pareceu uma casa com terreno pequeno Jelka planta tudo que come, faz seu próprio azeite, e vinho, e todo o resto. Mora sozinha, os filhos numa cidade vizinha, vinham visitar nos finais de semana. E depois da guerra quando os Sérvios prenderam seu marido que era violento e filhos Jelka decidiu morar sozinha. Entrei na casa e ela tinha preparado uma refeição imensa. Não comeu. Insistiu para que comêssemos. Me contou pela Vesna que estava muito feliz em ter uma brasileira na casa dela, que ela nunca tinha viajado, que viajava pela televisão. Que o Brasil era lindo. De repente começou a cantar, canções folclóricas. O fogão aquecia a cozinha, Jelka cantava, não se ouvia nenhum ruído do lado de fora.
Os dias que se seguiram foram emocionantes, e eu ainda vou escrever sobre eles, sobre a generosidade de Jelka mas ontem ao assistir o fim da Iugoslávia e os Sérvios invadindo a parte da Croácia que eu visitei queimando e destruindo casas, proclamando uma pequena Sérvia eu entendi um pouco mais a grandeza de Jelka. Quando me contou sobre essa guerra me disse: ´Não é justo condenar os Sérvios, em tempo de guerras quase todos ficam loucos.´
Um comentário:
Man.... Must it be in Portugese? Can you write something in English once in a while? just for me???
Puuuhleaase??
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