sexta-feira, março 09, 2007

Pela Bolivia





Chegamos em La Paz a tarde, cansados da viagem, da altura resolvemos descansar. Assim que cheguei comecei a sentir os efeitos de estar a mais de 3500 metros do mar. Achei bobagem pegar o elevador, e ao subir 3 andares de escada cheguei no meu quarto totalmente sem ar. Desci e resolvi escrever um e-mail, e enquanto escrevia, comecei a me sentir muita mal. Não conseguia concluir pensamentos simples, sentia uma pressão enorme na cabeça, meio zonza comentei tudo isso com o recepcionista e ele me ofereceu um chá de coca. Tomei o famoso e polêmico chá e logo em seguida me senti consideravelmente melhor.

Como já não havíamos feito nada de tarde, resolvemos a noite ir conhecer um típica Peña ( Pronunciado Penha). Nos indicaram o lugar mais perto e também o mais turístico. Chegamos lá e o lugar estava completamente vazio. Era um lugar muito colorido, totalmente turístico e havia apenas duas outras pessoas sentadas. Perguntamos se era muito cedo, ou se naquela noite não haveria apresentações. O garçon nos explicou que não, que o horário estava correto, que como tínhamos chegado, completávamos o número mínimo para apresentação de uma peña. Para uma apresentação eram necessárias 3 pessoas! Meio sem saida ficamos.

O show começou com dois homens tocando. Os homens estavam bem vestidos, arrumados, tinham os rostos indígenas. O show começou com dois homens no palco. O da frente tocava um charango, e o outro um violão. A musica era muito bonita, folclórica bem andina. Depois de algumas musicas, uma banda se juntou a eles. Na banda havia outros instrumentos igualmente típicos. Dentre eles zamponas, tambores e instrumentos que eu nunca tinha visto.




A dança começou em seguida. Muitas dançarinas, muitas fantasias, muitas coreografias distintas, uma atrás da outra. As danças eram também folclóricas, representações de estórias, lendas e mitos das civilizações (pré colonização espanhola) Tiahuanaco e Aymara. Durante a apresentação ainda fomos puxados para dançar no palco o que nos levou em 2 minutos a perder o fôlego. A apresentação era muito bonita, mas senti um misto de alegria e tristeza. Alegria por estar vendo uma coisas tão diferente, e tristeza de ver tantas pessoas envolvidas numa apresentação para apenas 4 pessoas.

No final do show, reparamos que a senhora da mesa ao lado estava tendo dificuldades para se comunicar com um dos músicos. Fui ate a mesa dela e perguntei se ela queria ajuda, me explicou que não falava espanhol e queria comprar um cd. Ajudei-a comprar o CD e morta de curiosidade perguntei:

_A senhora esta viajando sozinha ?
_ Sim e tenho 80 anos.

Fiquei muito impressionada. Eu que já me impressiono com a minha avó que aos 82 vai a ginástica todos os dias por 2 horas, que vai ao cinema ver tudo que quer assistir, a exposições, almocos, concertos, que eh uma internauta e que tambem sempre viaja para tudo que eh canto mas sempre acompanhada fiquei impressionadíssima com essa senhora. Me explicou que adora viajar, e que quer mostrar as filhas que a vida nao acaba aos 60. Antes de chegar a Bolivia tinha estado no Chile, Argentina, Brasil, Peru, e estava indo para o Equador de lá visitar uma amiga em San Diego, depois para Paris e Montpellier visitar outra amiga, Cingapura e finalmente de volta a Australia. Passei um tempo na mesa dessa senhora. Impressionada, ouvindo dicas de viagem, fazendo perguntas. E assim que voltei à minha mesa minha dúvida dos dias anteriores tinha totalmente desaparecido. Estava decidido, cheia de admiração por essa senhora resolvi cruzar para o Peru sozinha uns dias depois.

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