quinta-feira, março 29, 2007

Jelka

Assisti ontem um documentário muito interessante sobre o fim da Iugoslávia. Eu já tinha lido muitas vezes a respeito, visto filmes, tido aulas afinal essa guerra no quintal da Europa foi muito falada. Ontem, no entanto, quando assisti o documentário com depoimentos do Milosevic, e de todos os outros lideres das 6 ex- províncias, tive uma sensação diferente, pude imaginar aquilo tudo um pouco melhor. Vendo aquelas imagens, aqueles depoimentos, a manipulação das pessoas, toda aquela loucura pensei na Vesna, na Jelka e na minha viagem não programada a Croácia. O mais engraçado foi perceber que eu voltei a escrever este blog para falar dessa visita e até hoje não tinha tocado nela.

Eu não vou ser tão linear no relato da viagem. Basta dizer que fui visitar minha amiga Vesna em Ljubljana e que de lá ela me levou para conhecer a Republika Hrvatska, também conhecida como Croácia. A Vesna é uma das pessoas que a familia ficou dividida entre dois países. A familia da mãe é eslovena enquanto a do pai é croata. Essa divisão sempre existiu, ela me explicou, pois apesar da Iugoslávia ter sido considerada como um país ela era formada por 6 províncias com línguas, e culturas distintas. Iugoslávia, eu aprendi, quer dizer terra dos países eslavos do sul.

A Eslovênia sempre teve mais liberdade do que todas as outras províncias. Por históricamente ter sido parte do Imperio Austro-Húngaro, a Eslovênia tinha laços fortes com muitos dos países ocidentais vizinhos, por isso mesmo durante o socialismo, o eslovenos tinham direito de cruzar para o ocidente. A Vesna, que a familia é de Nova Gorica, na fronteira da Italia ia para la freqüentemente, visitar parentes, o fator que limitava outras viagens era naturalmente econômico. De certa forma, ela me explicou, tinha mais liberdade que os dois lados, pois ela podia viajar para o ocidente e o oriente. Apesar de eu ter aprendido coisas muito fascinantes sobre a eslovenia, eu vou deixar para um outro post e pular para a casa da Jelka.

Cruzamos de trem de Ljubljana para Zagreb, e como a Eslovênia é agora membro da UE e a Croácia não é, havia muitos policias checando passaporte. De Zagreb pegamos um onibus para chegar a Stankovic na Dalmácia, cidade minúscula, onde Jelka, tia da Vesna, morava. A viagem de Zagreb a Stankovic foi muito mais longa que a de Ljubljana a Zagreb. Passamos por lugares lindos, e por vilarejos pequenos, num deles o onibus parou no meio da rua principal e única, e descemos.

Do lado de fora estava uma mulher alta, de cabelos negros, roupas velhas, que ao nos ver veio rápido nos abraçou, me deu muitos beijos no rosto, e disse um monte de coisas gentis em croata, que me foram traduzidas assim como tudo que aconteceu dai para frente. Pela primeira vez na minha vida eu estava imersa num mundo onde eu não compreendia a língua e onde ninguém falava nenhuma língua que eu falo. O meu passaporte para esse mundo eram os meus sentidos, e a Vesna.

Jelka nos levou para casa, uma casa simples de dois andares, que ela chamou de fazenda, que saia da rua principal assim como todas as outras dúzia de casas. Uma vilarejo menor do que Macondo, que se via o final logo do começo. Nessa fazenda, que para mim mais pareceu uma casa com terreno pequeno Jelka planta tudo que come, faz seu próprio azeite, e vinho, e todo o resto. Mora sozinha, os filhos numa cidade vizinha, vinham visitar nos finais de semana. E depois da guerra quando os Sérvios prenderam seu marido que era violento e filhos Jelka decidiu morar sozinha. Entrei na casa e ela tinha preparado uma refeição imensa. Não comeu. Insistiu para que comêssemos. Me contou pela Vesna que estava muito feliz em ter uma brasileira na casa dela, que ela nunca tinha viajado, que viajava pela televisão. Que o Brasil era lindo. De repente começou a cantar, canções folclóricas. O fogão aquecia a cozinha, Jelka cantava, não se ouvia nenhum ruído do lado de fora.

Os dias que se seguiram foram emocionantes, e eu ainda vou escrever sobre eles, sobre a generosidade de Jelka mas ontem ao assistir o fim da Iugoslávia e os Sérvios invadindo a parte da Croácia que eu visitei queimando e destruindo casas, proclamando uma pequena Sérvia eu entendi um pouco mais a grandeza de Jelka. Quando me contou sobre essa guerra me disse: ´Não é justo condenar os Sérvios, em tempo de guerras quase todos ficam loucos.´

sexta-feira, março 23, 2007

Tem coisa que dá um desanimo...

Ontem li uma notícia que me abalou. Na hora que li, senti o meu estômago revirar, eu que descobri que tenho gastrite, senti que aquilo ia fazer mal, muito mal. Parecia que havia descargas de adrenalina no meu corpo e eu que me acho bem pacifica tive vontade de gritar. Li a notícia para o Haiko, meu marido, e fiquei num estado que eu não conseguia na hora nem explicar nem entender.

A noticia era sobre a Polônia. Estão lá estudando uma lei que proíbe homossexuais de serem professores.

´O projeto de lei do governo polonês também prevê a perseguição a todos que se proponham a falar ou falem sobre a homossexualidade em escolas, universidades e outras instituições acadêmicas.´

Eu li essas palavras e me deu uma raiva. Eu na hora não compreendi exatamente de onde vinha o meu furor. Mas agora eu sei que vem do medo, da angústia, da raiva de ver alguém com poder político dar legitimidade a fobia, e preconceito dos odiosos do mundo. Alguem com legitimidade política mobilizando pessoas pelo preconceito, incompreensão e ódio. Alguem com legitimidade politica querendo passar uma lei que viola toda a luta do mundo por direitos humanos, por igualdade e por respeito.

Realmente, dá muito desanimo ver alguem politicamente legitimado dando voz aos que estavam fora da lei, tentando repetir os horrores do passado.

http://www1.folha.uol.com.br/folha/mundo/ult94u105696.shtml

sexta-feira, março 09, 2007

Pela Bolivia





Chegamos em La Paz a tarde, cansados da viagem, da altura resolvemos descansar. Assim que cheguei comecei a sentir os efeitos de estar a mais de 3500 metros do mar. Achei bobagem pegar o elevador, e ao subir 3 andares de escada cheguei no meu quarto totalmente sem ar. Desci e resolvi escrever um e-mail, e enquanto escrevia, comecei a me sentir muita mal. Não conseguia concluir pensamentos simples, sentia uma pressão enorme na cabeça, meio zonza comentei tudo isso com o recepcionista e ele me ofereceu um chá de coca. Tomei o famoso e polêmico chá e logo em seguida me senti consideravelmente melhor.

Como já não havíamos feito nada de tarde, resolvemos a noite ir conhecer um típica Peña ( Pronunciado Penha). Nos indicaram o lugar mais perto e também o mais turístico. Chegamos lá e o lugar estava completamente vazio. Era um lugar muito colorido, totalmente turístico e havia apenas duas outras pessoas sentadas. Perguntamos se era muito cedo, ou se naquela noite não haveria apresentações. O garçon nos explicou que não, que o horário estava correto, que como tínhamos chegado, completávamos o número mínimo para apresentação de uma peña. Para uma apresentação eram necessárias 3 pessoas! Meio sem saida ficamos.

O show começou com dois homens tocando. Os homens estavam bem vestidos, arrumados, tinham os rostos indígenas. O show começou com dois homens no palco. O da frente tocava um charango, e o outro um violão. A musica era muito bonita, folclórica bem andina. Depois de algumas musicas, uma banda se juntou a eles. Na banda havia outros instrumentos igualmente típicos. Dentre eles zamponas, tambores e instrumentos que eu nunca tinha visto.




A dança começou em seguida. Muitas dançarinas, muitas fantasias, muitas coreografias distintas, uma atrás da outra. As danças eram também folclóricas, representações de estórias, lendas e mitos das civilizações (pré colonização espanhola) Tiahuanaco e Aymara. Durante a apresentação ainda fomos puxados para dançar no palco o que nos levou em 2 minutos a perder o fôlego. A apresentação era muito bonita, mas senti um misto de alegria e tristeza. Alegria por estar vendo uma coisas tão diferente, e tristeza de ver tantas pessoas envolvidas numa apresentação para apenas 4 pessoas.

No final do show, reparamos que a senhora da mesa ao lado estava tendo dificuldades para se comunicar com um dos músicos. Fui ate a mesa dela e perguntei se ela queria ajuda, me explicou que não falava espanhol e queria comprar um cd. Ajudei-a comprar o CD e morta de curiosidade perguntei:

_A senhora esta viajando sozinha ?
_ Sim e tenho 80 anos.

Fiquei muito impressionada. Eu que já me impressiono com a minha avó que aos 82 vai a ginástica todos os dias por 2 horas, que vai ao cinema ver tudo que quer assistir, a exposições, almocos, concertos, que eh uma internauta e que tambem sempre viaja para tudo que eh canto mas sempre acompanhada fiquei impressionadíssima com essa senhora. Me explicou que adora viajar, e que quer mostrar as filhas que a vida nao acaba aos 60. Antes de chegar a Bolivia tinha estado no Chile, Argentina, Brasil, Peru, e estava indo para o Equador de lá visitar uma amiga em San Diego, depois para Paris e Montpellier visitar outra amiga, Cingapura e finalmente de volta a Australia. Passei um tempo na mesa dessa senhora. Impressionada, ouvindo dicas de viagem, fazendo perguntas. E assim que voltei à minha mesa minha dúvida dos dias anteriores tinha totalmente desaparecido. Estava decidido, cheia de admiração por essa senhora resolvi cruzar para o Peru sozinha uns dias depois.

quinta-feira, março 08, 2007

PSV X Arsenal

No ano que morei em Amsterdã, adotei o PSV Eindhoven como meu time. Para o Haiko que torce para o Ajax isso foi a maior traição, ainda mais morando em Amsterdã. Mas fazer o que eu achei o PSV muito melhor. E já que eu ia escolher um time que fosse o que eu gostava mais de ver jogando. Isso se provou sábio no final do campeonato.

Ontem então para ver o PSV jogar contra o Arsenal fomos ao De Hems, segundo o Haiko, o único bar Holandês em Londres. Chegamos cedo, e o bar estava lotado. O que não é de se espantar considerando que os ingleses vivem nos seus PUBs. O que era de se espantar no entanto, era o tanto de ingleses que tinha para ver o jogo num Pub holandês. Pensei que talvez fossem os ingleses que não ligam para futebol, estavam ali por acaso, ou os ingleses que ligam mas não se importavam com o Arsenal, quem sabe ate os que odeiam o Arsenal e estavam ali para se juntar ao torcedores do PSV. Mas para o meu espanto não, a grande maioria de ingleses que la estava, estava para torcer pelo Arsenal em meio aos Holandeses, e torcedores do PSV. Estavam certos que o time britânico ganharia. Talvez pensassem não haver lugar melhor para ver a vitória do seu time, do que no pequeno reduto do oponente.

Mas não. Com dois gols do Alex, um contra, e um a favor. O PSV se classificou para próxima rodada. Para o grande choque dos Ingleses. Para a enorme alegria dos torcedores do PSV. Quando o gol saiu no final do segundo tempo eu senti uma onda intensa de alegria passar por mim. E não pude deixar de pensar em como é barata essa alegria, esse sentimento de satisfação. Olhando para o rosto de derrota do inglês na arquibancada fiquei triste. Por que será que uma vitória quase sempre implica na derrota do outro? E como é que podemos no sentir tão alegres diante do desapontamento de outrem. E mais incompreensível ainda, por que que aqueles ingleses queriam ver o Arsenal ganhar na casa dos derrotados (caso isso tivesse acontecido)?

sexta-feira, março 02, 2007

Porque as Bolivianas Viajam de Saia




A viagem de 'Bus Cama' de Santa Cruz de La Sierra a La Paz foi inenarrável . Saímos de Santa Cruz uma hora atrasados. Depois de uma noite a procura de um hotel para ficar, e um dia a caca do hotel onde ficamos sentamos no ônibus exaustos. Essa era a vantagem: dormiríamos. A viagem começou e o Sho começou a passar mal. Eu tinha certeza que aquilo iria acontecer depois de ter visto a comida, e a limonada local que ele tinha tomado. Ele me garantiu que não, que estava acostumado com as comidas na Índia que aquela comida nao era o problema. Disse que se sentia mal porque estava sentado há muito tempo. O fato é que ele foi ficando pálido e mal falava. O tempo foi passando, e cansada do jeito que eu estava adormeci.

Dormi algumas horas, mas mesmo dormindo percebi que alguma coisa estava errada. Com os olhos entre abertos vi que nosso ônibus não andava, ou melhor andava de vez em quando, e muito devagar. Mesmo na duvida se aquilo era normal ou não voltei a dormir. Logo em seguida acordei de novo, desta vez porque senti que o ônibus estava meio inclinado. Olhei pela janela e vi o precipício do meu lado, o ônibus fazendo a curva e tombando ligeiramente na direção do precipício. Percebi que todo mundo dormia, lutei contra o sono e mais uma vez me perguntei se aquilo era normal. Dormi mais um pouco, acordei em outras curvas, aterrorizada, mas com muito sono sempre voltava a dormir.

De repente eu acordei de vez, percebi que alguma coisa realmente estava errada. Havia caminhões parados nas duas mãos. Alias foi só nesse momento que eu percebi que a estrada era duas mãos. O nosso ônibus parado na contramão, precipício do meu lado esquerdo, caminhões do lado direito do ônibus. Comecei a ver homens com lanternas subindo em cima do caminhão da frente. Pessoas discutindo, lanternas para um lado e para outro. Não queria colocar a cabeça para fora com medo que uma lanterna me fosse apontada, mas queria escutar, estava com o misto de vontade de rir, e apavorada. Será que aquilo eram guerrilheiros? uma emboscada? Acordei o Sho, que estava ao meu lado, e ele também não compreendeu o que se passava. Resolvi que colocaria a cabeça para fora e foi então que compreendi o que estava acontecendo. Aqueles homens de lanterna eram motoristas, e estavam debatendo se dava ou não dava para passar na próxima curva.

_É absolutamente impossível!! Essa curva não é possível, você vai cair.

Concordaram uns motoristas, outros achavam que era possível mas arriscado. O impasse durou um tempo até que eu ouvi:

_ É possível sim, eu vou tentar!

Entrei em desespero quando ao acompanhar o homenzinho com a lanterna o vi entrar no meu ônibus!!! Era o nosso motorista! Tive um acesso de riso pensando 'eu vou ser uma das estatísticas das estradas da Bolívia.' Mas não, o ônibus foi indo devagar na contramão, tombando em direção ao precipício que eu via claramente da minha janela, e passou! Foi então a nossa vez de esperar os outros passarem, pois a estrada era tao estreita que passava um de cada vez. Nesse momento, eu pude ler claramente no caminhão que fez a curva tao perto que eu o ate toquei 'Inflamable'. Olhei a minha volta e todos continuavam dormindo. Num misto de alívio, e tristeza percebi que aquela devia ser a rotina diária daqueles motoristas. O resto da noite sonhei com ônibus explodindo, guerrilhas e precipícios.

Quando era umas 4 da manha resolvi que não tinha mais jeito eu tinha que ir ao banheiro. O ônibus ainda não tinha parado e eu que estava evitando o banheiro do ônibus resolvi que não tinha mais jeito. Passei por cima do Sho, e fui ate o fundo do ônibus. Não achei o banheiro. Imaginei que estaria no andar de baixo. Desci, e encontrei o motorista e mais dois companheiros, que me olharam com espanto.


_ donde es el bano senhor? perguntei

Ao que eles responderam muito surpresos

_ No Hay.


O motorista provavelmente percebendo o meu espanto, perguntou se eu queria que ele parasse mais para frente. Eu disse que sim, e agradeci. Voltei para o meu lugar e fiquei esperando. Algum tempo depois, subiu um homem e perguntou alto' Cadê a menina que quer fazer xixi ?' Eu achei aquilo super engraçado mas não hesitei, e percebi que vários outros homens também queriam. Desci e quando sai do ônibus percebi que não era em um posto ou bar que ele tinha parado.

O motorista tinha parado no meio da estrada. E o caminhão detrás esperava. Todos os homens abriram a calça e começaram a urinar. Quem me conhece sabe que eu não ligo para fazer xixi atrás da moitinha, mas NÃO tinha moita, era ali mesmo na estrada, do lado de 6 bolivianos fazendo xixi. Eu não podia nem me afastar muito pois era o precipício de um lado, um caminhão atrás, e outro na frente. Foi assim que compreendi porque as Bolivianas viajavam de saia.

Chamei o Sho para garantir minha segurança e fui fazer xixi. A cena seguinte foi engraçadíssima. Eu abaixei a calca, o dia clareava, o chão era de barro, eu tinha uma tonelada de xixi para fazer, me afastei o tanto que pude para não chegar muito perto do caminhão, mas também não muito para nao ficar muito perto do ultimo boliviano, agachei e comecei a fazer xixi. Como o chao era de barro e eu estava de havaianas tive que ir afastando os pés para não me molhar com o meu xixi. Conforme eu ia afastando os pes, eu comecei a perceber o xixi que vinha vindo do ultimo Boliviano. Em meio a acrobacias e risos fiz xixi.

De volta ao ônibus dormi um pouco até o próximo evento. Quando deu 5 horas da manhã o ônibus parou. Entraram umas pessoas com coisas para vender. Vendiam frango assado, pacotes de pão, uns cereais dentre outras coisas igualmente inimagináveis as 5 da manha. Só o cheiro daqueles cozidos já dava para dar um revertério. Ainda assim, compramos os pães.

No próximo pedágio entraram 2 crianças, com pequenas samponas ( aquelas flautas de bambu) para nos alegrar cantando um temita. Com uma voz ultra aguda o menino explicou que ia cantar um temita que se chamava ' las mujeres no valen nada'. A sampona desafinadíssima, a voz num outro tom, e eu queria pagar para eles pararem.

Nosso ônibus ainda foi invadido por muitos outros vendedores e cantores. Eu como tinha levado frutas não precisei experimentar nenhuma iguaria.

Quando finalmente, deu 9 horas, eu já estava desesperada para chegar. Todo aglomerado de construção que aparecia eu me animava. Nunca era La Paz. Finalmente, la pelas 10 da manhã vi uma cidade grande se aproximando. Me inundei de alegria, entramos na cidade, demos voltas, e mais voltas e nada. Resolvi pela primeira vez falar com o meu vizinho. Olhei para trás e perguntei que cidade era aquela. O senhor que ouviu minha pergunta respondeu junto com o neto:

- Cochabamba!

Peguei o meu Lonely Planet, abri na página do mapa e quando encontrei tive vontade de chorar. Cochabamba ficava praticamente na metade do caminho. Me consolei olhando as paisagens aridas e lindas. Chegamos na rodoviária de La Paz quase 4 horas da tarde.

quinta-feira, março 01, 2007

O Segundo Dia...

Acordamos cedo e resolvemos passear pela cidade enquanto decidíamos o que faríamos pelos próximos dias. No saguão do hotel, encontrei Santiago ,o recepcionista, e pedi que ele me mostrasse no meu mapa onde estávamos. Ele disse que não era possível ver o hotel naquele mapa, e deu uma explicação que não entendemos. Achei um mapa da cidade na parede e pedi para que ele me mostrasse então naquele la. Também nao era possível. Pedi então que ao menos me desse um cartão do hotel. Não havia. Para solucionar o problema Santiago sugeriu que como hotel ficava numa esquina, ele escreveria num papel o nome das duas ruas que se cruzavam. Aceitamos, e perguntamos como faríamos para ir a rodoviária. Santiago que era muito solícito se ofereceu para nos acompanhar. Deixamos nossas malas no depósito e seguimos com Santiago de ônibus local.






A Rodoviária era super barulhenta e velha. Logo compreendi porque a minha amiga Vesna, dizia que a Bolívia era um país muito autêntico, e impressionante. Na Rodoviária começamos a perceber que as pessoas ainda usavam roupas tradicionais, coloridas, as mulheres usavam tranças etc. Nao como no Peru, que parece mais ser coisa para turista ver. Na Bolívia, as roupas são tradicionais e velhas. Dá uma impressão de estar vendo um quadro do mexicano Rivera. Para os olhos de antropóloga é beleza sem limites.


Também na rodoviária percebi que o roteiro por mim traçado antes de chegar à Bolívia seria dificílimo. Meio na dúvida do que fazer resolvemos ir para La Paz e de lá decidir melhor. La Paz sendo a capital teria mais onibus, e mais opções de trajetos.




Depois da primeira calamitosa noite percebemos que fazer economia na Bolívia , onde tudo já é super barato talvez nao fosse ideal. A viagem para La Paz era longa, entao nao hesitei eu queria um onibus com banheiro e de preferência leito. Depois de uma breve pesquisa como os locais, e com Santiago, chegamos a companhia Copacabana. Fiz todas as perguntas possíveis para vendedora e ela me garantiu que aquele era o onibus que eu procurava. Compramos as nossas passagens, o ônibus sairia às 5 pm, e o pré-embarque recomendou ela, era às 4:30. Fiquei impressionada com a eficiência, e disse que estaríamos lá no tal horário. Perguntamos a que horas ônibus chegaria em La Paz, e ela respondeu que chegaria as 9 da manhã.

Como ainda era cedo resolvemos visitar a cidade. Fomos a praca principal de Santa Cruz que é muito bonita e limpa. Sho logo reparou que nao havia mendigos em lugar nenhum. Passamos por mercado de 'artesania¨ e enquanto o sho foi cortar o cabelo eu fiquei passeando por volta da praça central. Observando as pessoas, reparando que havia muitos policiais, olhando a arquitetura, enfim vendo como era Santa Cruz.

Com nossas passagens marcadas para 5 horas da tarde e o embarque marcado para as 4:30, a 1 resolvemos ir nos direcionando para o hotel e no caminho procurar um restaurante. Andamos por horas a fio todos os bolivianos davam informações distintas, e para lados diferentes. Numa certa altura, resolvemos ir direto para o hotel. Procurei as tais ruas no meu mapa, e encontrei uma só. Imaginei que a outra fosse pequena e uma vez que o mapa era o do Lonely Planet, não devia ser muito detalhado. Encontrei a primeira rua, e sem saber para que lado ir perguntei, cada pessoa mandava andar para um lado. Demos inumeras voltas em círculo, acabamos andando a rua INTEIRA e não encontrando o hotel. A tal esquina nao existia! Procuramos então a segunda rua, mais uma vez , a procura foi longa, muitas voltas em círculo, e quando a encontramos andamos a rua inteira mais uma vez e não vimos o hotel. Eu já estava querendo tomar um taxi, quando finalmente encontramos o hotel, de fato numa esquina mas em nenhuma das ruas escritas no papel!


Cheguei no hotel suando, fazia muito sol, um calorão, estava exaurida com toda a nossa busca. Pedi ao recepcionista se apesar de eu ter ja feito o check out, se seria possível tomar um banho. Ele explicou que no quarto não, mas que eu podia ir ao banheiro dos funcionários se não me importasse. Naturalmente nao me importei e dei graças a deus. Como chegamos no hotel tarde, Sho resolveu comer por la mesmo, quando sai do banho e vi a comida nao tive a mesma coragem. Sho bem mais corajoso tomou a limonada local, e quando eu demonstrei meu choque, me explicou que ele tinha perguntado se a agua tinha sido fervida :) A Boliviana naturalmente disse que sim. Comprei umas bananas e mexiricas, e acabei tomando um taxi para ir ao um restaurante indicado na biblia ( lonely planet).


Chegamos a rodoviaria exatamente 4:25 So nos eh claro. o onibus mesmo chegou as 5:30 e partimos um pouco depois das 6.