quarta-feira, dezembro 12, 2007

O mundo

Não sei quando começou minha paixão por mapas mas imagino que cedo. Não estou falando aqui do eurocentrismo e distorções de Mercator, nem dos recortes arbitrários dos colonizadores, mas daquela curiosidade que emerge ao ver o nome de uma cidade, rio ou montanha desconhecida.

Minha mãe sempre os adorou, nunca deixou, nenhum nome de cidade, rio, que ela não conhecesse, passar sem averiguar onde ficava, que latitude, longitude etc..

Lembro-me de bem pequena, na escola francesa onde estudei, ouvir Jerome dizer que sabia todas as capitais do mundo. Achei aquilo impossível.Tentei pensar o lugar mais difícil que eu conhecia, e só consegui dizer Sri Lanka. Ao que ele respondeu sem dificuldade Colombo. É bem verdade, que naquela época era mais fácil já que quase todos os ´istãos´ainda faziam parte da União Soviética.

Já na Universidade, Joss, minha ex-flatmate, pegou uma aula de geografia da Africa. Como eu que tinha que tomar a lição acabei aprendendo muito sobre os países africanos. Aí eu quis aprender onde todos os países e suas capitais ficavam, e durante um bom tempo eu soube até as ilhas do Pacífico.

Depois Joss e eu achamos que aquilo era pouco, devíamos destinar cada semana a aprender um pouco sobre algum lugar. Fizemos isto de maneira mais informal que imaginávamos, através de aulas, amigos, e livros. E é incrível como as pessoas ficam felizes em perceber que você que nasceu num outro mundo, sabe alguma coisa do lugar onde ela veio.

No começo somos exigentes, temos sonhos de grandeza, achando que deviam saber mais do que rio de janeiro, futebol e carnaval. Mas quando alguém de Bishkek ou Bandar Seri Begawan sabe 3 informações sobre o seu país enquanto você não sabe nem onde fica o dele, fica-se mais humilde.

Tenho um amigo que diz que se aprende sobre outros lugares viajando. E eu concordo que viajar ajuda muito, mas não acho nem que seja fundamental, e nem que garanta que se aprenda. Afinal tem quem viaja sem querer que nada mude, sem aprender coisa nenhuma.

Ontem por acaso eu cai num site chamado amores expressos. Um projeto, se nao me engano, da companhia da letras. Aparentemente, escritores brasileiros foram mandados para passar um tempo em diversas cidades no mundo e quando voltassem teriam que escrever uma crônica sobre amor. Fiquei absoluamtne perplexa com o que a escritora mandada para India escreveu. Generalizações, discriminações,ofensas a torto e a direito. Tão irônico para quem foi para lá para se inspirar sobre amor.

Depois li sobre um menino de 5 anos na Paraisópolis que tinha aprendido com o pai varios paises e capitais. O pai o ensinou com uma lousinha e um Atlas.

E então, eu percebi que a minha paixão vem de querer aprender mais sobre o outro. O meu fascínio por mapas me levou a antropologia, a viajar sempre que posso, a querer aprender sobre outras culturas. Os mapas, como os livros e as línguas nos despertam para outras vidas, outros lugares. E viajar de fato reforça esse aprendizado, mas não acho que crie o desejo, o interesse.

O interesse pelo mundo, pelo outro, não sei de onde vem, mas este interesse está no pai que mostra o altas ao filho de cinco anos. Mostra o atlas das diferentes vidas, das diversas oportunidades. O interesse pelo o outro, este que falto a escritora.

E é verdade, nem toda viagem é fácil. Algumas nos levam ao limite. Quando eu estive em Hong Kong voltei mentalmente exausta, e as sinapses só começaram a acontecer no avião. o Marrocos levou me corpo a se rebelar, mas aos poucos eu entendi que não foi contra, mas a meu favor. Em nome de mais integração corpo e mente versus corpo sob a mente.

E é uma pena que muitas vezes no fechemos e nos rebelemos contra o diferente, contra o outro. Sem perceber que no fundo temos medo de nós mesmos. De abandonar conceitos, hábitos e idéias a que estamos habituados mas que muitas vezes nem são tão nossas.

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