And herein lies the tragedy of the age:not that men are poor,.. all men know something of poverty;not that men are wicked,.. who is good? Not that men are ignorant,..what is the thruth? Nay, but that men know so little of man. W.E.B du Bois (The souls of Black Folk)
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Sonhos
Quando eu estive no ano passado na Eslovênia para visitar minha amiga Vesna ( mais info em tópicos anteriores), ela resolveu me levar até a Croácia para conhecer a Dalmácia e visitar sua tia. Eu sei que eu já escrevi sobre a bondade de Jelka no passado mas nunca cheguei a relatar a visita que ela nos fez fazer a uma senhora Croata no pequeno vilarejo de Stankovic.
Stankovic é um vilarejo de uma rua. Ou melhor, um vilarejo que cresceu a volta da estrada que passa pela Dalmácia. Tem aproximadamente 20 casa, sendo a da Jelka praticamente auto-sustentável. Um pouco depois que eu cheguei a Stankovic, Darko ,o irmão de Jelka que morava numa outra cidade, telefonou. Vesna contou-lhe que estava visitando e que tinha trazido uma amiga brasileira com ela. Acordamos no dia seguinte com Darko chegando no seu carrinho vermelho, vestido com a camisa brasileira de futebol, ávido para dizer nomes de jogadores brasileiros, e as poucas palavras de inglês que ele conhecia. Vesna me explicou que ele não era totalmente ´normal´mas que era uma ótima pessoa ( palavras dela e eu sei que normalidade e um tópico mais complexo). Saímos com ele o dia inteiro, passamos por cidade lindas, e tiramos muitas fotos do seu adorado carro. Fotos que ele não parava de planejar, e não cansava de admirar na minha máquina. No final da tarde voltamos para casa.
Assim, que chegamos Jelka nos pediu para visitar uma senhora muito velha que morava sozinha numa das casas do vilarejo. Jelka contou nos que a mulher estava um pouco triste, mas que nossa visita a alegraria. Jelka, uma das pessoas mais bondosas que eu já conheci, visitava a senhora freqüentemente. Não simplesmente para fazer companhia, mas também para limpar a casa da senhora, e para trazer-lhe comida.
Caminhamos até a casa, fomos entrando no terreno enquanto Jelka batia palmas e chamava pela senhora.Chamava, chamava e nada. Já estava escuro,Jelka entrou na casa enquanto Vesna e eu olhávamos na horta. Depois de uns 5 minutos comecei a ficar com medo que tropeçássemos na senhora morta em algum lugar. Mas não, um pouco depois ela veio, corcunda, bem velha, andando bem devagar, e explicou que estava na casa dos vizinhos.
Entramos na casa que era quarto, sala, cozinha no mesmo ambiente. Enquanto Jelka acendia o fogão, para aquecer a casa, e tirava uns potes com comida que ela tinha trazido, a mulher resmungava. Eu me senti transportada para uma outra era, num outro mundo. Assim como se o tempo tivesse parado e voltado a andar devagar como um daqueles monges que tocam um sininho a cada passo. A luz era fosca, as cores amareladas,e a mulher se lamentava. Jelka dizia coisas agradáveis e Vesna traduzia-me tudo. A mulher mandava ela me contar sobre o segundo marido, com quem tinha permanecido casada 40 anos, e que agora tinha morrido.O primeiro era péssimo, mas aos 40 anos ela tinha encontrado o segundo, um ótimo homem,e que agora ela estava só.
Num certo momento, Darko apareceu, explicou para Vesna que tinha planos e que ela devia traduzi-los. Como ele não podia viajar o mundo como Vesna e eu, ele tinha decidido fazer a mesma quilometragem com o carro dele. Faria isso, explicou ele, mesmo que ele tivesse que dar 1000 voltas dentro da Croácia. Enquanto seus planos mudavam para uma viagem intercontinental onde ele nos levaria até a Rússia passando por Albania, e Romênia, a senhora tentava se lembrar em que país da América do Sul ele tinha um filho perdido. Depois a viagem iria até a China, e a senhora falava de um outro filho esquecido. E a Vesna já não sabia mais o que traduzir e eu me sentia num filme.
E ali no meio de uma conversa em outra língua, num outro mundo eu compreendia os tons, e compreendia principalmente a humanidade daquilo tudo. Ali no meio de um vilarejo remoto, com poucas casas, sem internet, sem televisão, sem ajuda do governo aquelas pessoas tinham uma vida. Em outros lugares estariam talvez em asilos, ou sendo profissionalmente tratadas. Ali nos seus limites podiam viver. E mais que isso faziam parte da sociedade e tinham sonhos.
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