sexta-feira, dezembro 07, 2007

Thé à la Menthe


Uma das minhas mais antigas memórias é de uma mamadeira de 'chá' de camomila que me davam quando eu era criança. Eu odiava aquele negócio morno e doce para dedéu. Depois de muito meditar cheguei a conclusão que só podia ser a Cre, minha babá, que me dava aquilo, minha mãe jamais concordaria em dar açúcar para criança e minha avó jamais chamaria uma infusão de chá. Assim que fiquei traumatizada por infusões de camomila e mais ainda por bebidas quentes e doces.

Tomava infusões raramente no Brasil, um pouco mais em NY, bastante em Amsterdã e o tempo todo em Londres. Essa mudança se deve a Olga minha vizinha russa em Amsterda que freqüentemente me chamava para tomar chá na casa dela. Eu gostava muito mais do sarcasmo brilhante e pessimista dela do que de chás e infusões, mas depois de tantas tardes passadas por lá nem se quer tomo mais café.

Assim que quando me contaram que no Marrocos a vida girava em torno de um bule que despeja chá das alturas eu me animei. Infusão de hortelã sempre foi uma das minhas favoritas e eu mal via a hora de provar a famosa infusão marroquina. Acontece que quando o grande dia chegou e eu provei o meu primeiro gole em Marrakech eu quase desmaiei. O famoso ´thé à la menthe ´ nada tinha a ver com a infusão de hortelã que eu conhecia, e nem se quer com a da Leila, minha ex-roomate marroquina. Lembrei-me então que todas as vezes que Leila fazia a bebida ela reclamava dizendo que estava longe de ser como a do Marrocos. Assim que totalmente despreparada o meu primeiro gole no Marrocos foi um verdadeiro choque. Eu ficava o tempo todo imaginando a pessoa preparando e colocando colheres e mais colheres de açúcar. Mas eu estava enganada como ficaria claro mais para frente. Depois desse primeiro, nunca mais bebi nenhum, ou melhor nunca mais até a nossa viagem ao deserto.

Na nossa viagem, como eu já comentei antes, fiquei amiga do motorista Abdul. Por eu ser a única fluente em francês ficava com a incunbencia de todas as perguntas,e o privilégio de todas as explicações. É verdade que muitas delas, para mim pareciam mitos, por exemplo ele me garantiu que as mulheres andavam de negro pois era mais fresco... Outras eu realmente não tinha como julgar. O chá era um exemplo, eu sempre imaginei que o hábito deve ter originado de beber água fervida (mais seguro), e de ser difícil de resfriar uma bebida no deserto. Abdul me garantiu que não, que na verdade chá quente deixa as pessoas com menos sede. Não sei se isso é verdade, mas também não discuti. Depois de horas e mais horas conversando, Abdul me perguntou se podíamos dar carona ao sobrinho dele. Naturalmente concordamos, e foi assim que eventualmente paramos para o meu segundo chá.

Paramos no meio da estrada, numa casa simples, e Abdul virou se para mim e disse ' vocês tem sorte, meu amigo vai lhes oferecer um chá´. Com toda essa sorte eu não podia explicar que eu não queria beber. Juntei o que tínhamos levado de doces no carro para contribuir de alguma maneira. Estenderam uma toalha no chão do lado de fora da casa, em cima da terra, onde sentamo-nos todos para assistir a preparação ritualística do chá. Primeiro veio a água fervida, depois um pó(que na caixa estava escrito gun powder.. pólvora... ), depois as folhas da menta. Aí passa a água, joga fora, põe mais agua, as folhas de hortelã e então veio uma pedra de mais ou menos 16cm2 de açúcar. O bule metade da pedra, e eu esperando para ver o que aconteceria. Abdul entalou pedra abaixo, colocou um pouco de água e despejou o chá nos nosso 4 copos. Copos pequenos. Para poder servir o quinto, ele teve que fazer mais chá, com é claro mais açúcar. E ali o mistério se resolveu, eu estava enganada não eram colheres, eram meteoritos.

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