O ano esta para acabar e eu estou aqui escrevendo no meu blog! Estou em Amsterdam junto com o Haiko depois de passar o natal com a familia dele no sul da Holanda em Maastricht. Falei com meus pais e irmao que estao em Ubatuba num calor de 36 graus e ceu azul as 5 da tarde. Incrivel, desde que eu nasci vou para Ubatuba no Reveillon e nunca peguei um final de ano sem chuva! Aqui ta 5 graus, mas pelo menos nao chove.
Liguei para minha avo o dia inteiro, e ela nao atendia seu celular. Finalmente consegui agora... E encontrei minha avo muito alegre. Estava em campos de jordao, com 5 amigas, como ela mesmo disse, um grupos de meninas de 70 a 80.
Minha avo 83, vai a ginastica todos os dias, faz aulas de arte moderna, usa a internet, e viaja com as amigas. Contou me que tinham reservado uma mesa, no terraco de um hotel para as 10 da noite. Pegariam 2 taxis para poder tomar champanhe!
E ai eu desliguei, emocionada, com a eterna jovialidade da minha avo. E eu aqui sentada na casa do meu cunhado,que alias esta com a namorada nos paises basco, sem muito animo para sair. Tinha assistido documentario sobre o outro lado da Benazir, lido sobre a crise no Kenya, e no momento mais ativo do meu dia fiz yoga e assiti o cirque de soleil.
Mas daqui a pouco saimos, para dar uma volta. ano retrasado passei meu reveillon em NY num templo budista. Foi diferente. Nunca tinha ido. Nao queria ir a festas, o Haiko tava na Holanda, minha familia no Brasil, meu amigos pelo mundo. E eu fui a um templo budista. Ouvi lendas do butao, meditamos pela paz.
Entao nos vamos sair daqui a pouco, dar voltas pelo Jordaan, assistir os fogos. E eu queria meditar pela paz. Com tantos fogos explodindo minha mente voa para guerras. Os fogos, dizem, sao para espantar os maus espiritos. Acho ironico pensar nisso. Eh ano novo entao deix para la...
Esses anos novos, sao meio arbitrarios, mas eu gosto deste ar de novas resolucoes, de planos para o proximo ano. E eu termino o ano pensando na jovialidade da minha avo, e no templo budista onde eu estive faz dois anos. O monge dizia, a cada som de gongo: pensamentos positivos as pessoas que amamos ...boomg .... pensamentos positivos as pessoas que nao conhecemos... bomg..., pensamentos positivos as pessoas que nao gostamos... bomg..e finalmente a tudo que existe.
Feliz Ano Novo
And herein lies the tragedy of the age:not that men are poor,.. all men know something of poverty;not that men are wicked,.. who is good? Not that men are ignorant,..what is the thruth? Nay, but that men know so little of man. W.E.B du Bois (The souls of Black Folk)
segunda-feira, dezembro 31, 2007
sexta-feira, dezembro 14, 2007
Salar do Uyuni- parte I
Uma das coisas mais fascinantes que eu vi na Bolívia foi o salar do Uyuni. Na verdade foi toda a viagem de 3 dias pelo sul da Bolívia beirando a fronteira do deserto do Atacama no Chile. A viagem de ônibus para chegar lá não foi fácil, mas comparada à viagem Santa Cruz- La Paz aqui relatada e à viagem Cuzco- La Paz que eu ainda relatarei, foi um paraíso.
Necessário dizer que eu entrei no ônibus para o Uyuni no mesmo dia em que cheguei de Cuzco e que eu tinha ido direto de Aguas Calientes à Cuzco 2 dias antes. Enfim, fazia uns três dias que eu viajava sem parar! Viajamos a noite toda, num ônibus moderno e confortável, mas por estradas de pedregulhos por muitas e muitas horas. Chegamos muito cedo em Uyuni, e todas as agências que fazem o tour pelo deserto estavam fechadas. Depois de já ter passado um bom tempo na Bolívia, eu sabia que era melhor escolher o melhor tour, com a melhor operadora, pois os imprevistos também aconteceriam mas seriam menos problemáticos.
Como era um domingo, nem todas agencias abriram,e eu acabei deixando todo meu plano de lado e entrando na que abriu primeiro. Escolhi um tour de 3 dias como haviam sugerido todos os viajantes que eu tinha encontrado pelo caminho. Por sorte acabei ficando num carro com apenas quatro pessoas e o motorista. Uma australiana que seguiria para o Equador, um casal de ingleses que estava terminando uma viagem pelo mundo, e eu. E mais uma vez eu era a única que podia me comunicar com o motorista, e mais uma vez fiquei encarregada de traduzir todas as perguntas e pedidos.
Mal começou a viagem, e o carro quebrou. Todos já estávamos na Bolivia havia um certo tempo então não nos surpreendemos. O motorista saiu, tentou arrumar o carro, e eventualmente estávamos de volta ao nosso passeio. O carro quebrou outras vezes, mas a viagem foi fascinante. Primeiro entramos na parte seca do salar, onde havia inúmeros montes de sal por todas as partes. Depois descemos para tirar fotos e almoçar num hotel feito de sal. Continuamos nossa jornada até uma parte do salar ainda mais dura. Paramos o carro no meio daquele deserto de sal e ficamos um tempão admirando aquela paisagem surreal.
Continuamos nossa viagem até chegarmos numa ilha de cactus (qual o plural? cacti?) gigantes. Pagamos alguns bolivianos e fomos passear pela ilha. E realmente era incrível, aquela ilha no meio do sal. E foi aí que eu já comecei a sentir falta de um geólogo que pudesse me explicar o que eu veria pela frente. Sem poder entender, eu ficava apenas encantada com aquele cenário desconcertante.
Continuamos a nossa viagem agora pelo salar molhado, e para mim, nesse primeiro dia, foi um dos momentos mais fascinantes. Dirigíamos em cima do salar, que refletia tudo. O céu estava um pouco nublado e a paisagem ia mudando o tempo, parecia um lago, parecia o ceu, não se via o horizonte, nem onde a terra acabava, nem onde o céu começava. Me senti dentro de um quadro impressionista. Ficamos boquiabertos naquele lugar ..tamanha era a beleza que nos rodeava.
Chegamos eventualmente para dormir num hotel no meio da viagem. Mortos de fome, ansiosos pela sopa boliviana, comemos, conversamos um pouco, e fomos dormir num clima já mais frio! Nada comparado ao dia seguinte, quando chegaríamos a quase 5 mil metros e a temperatura despencaria.
quarta-feira, dezembro 12, 2007
O mundo
Não sei quando começou minha paixão por mapas mas imagino que cedo. Não estou falando aqui do eurocentrismo e distorções de Mercator, nem dos recortes arbitrários dos colonizadores, mas daquela curiosidade que emerge ao ver o nome de uma cidade, rio ou montanha desconhecida.
Minha mãe sempre os adorou, nunca deixou, nenhum nome de cidade, rio, que ela não conhecesse, passar sem averiguar onde ficava, que latitude, longitude etc..
Lembro-me de bem pequena, na escola francesa onde estudei, ouvir Jerome dizer que sabia todas as capitais do mundo. Achei aquilo impossível.Tentei pensar o lugar mais difícil que eu conhecia, e só consegui dizer Sri Lanka. Ao que ele respondeu sem dificuldade Colombo. É bem verdade, que naquela época era mais fácil já que quase todos os ´istãos´ainda faziam parte da União Soviética.
Já na Universidade, Joss, minha ex-flatmate, pegou uma aula de geografia da Africa. Como eu que tinha que tomar a lição acabei aprendendo muito sobre os países africanos. Aí eu quis aprender onde todos os países e suas capitais ficavam, e durante um bom tempo eu soube até as ilhas do Pacífico.
Depois Joss e eu achamos que aquilo era pouco, devíamos destinar cada semana a aprender um pouco sobre algum lugar. Fizemos isto de maneira mais informal que imaginávamos, através de aulas, amigos, e livros. E é incrível como as pessoas ficam felizes em perceber que você que nasceu num outro mundo, sabe alguma coisa do lugar onde ela veio.
No começo somos exigentes, temos sonhos de grandeza, achando que deviam saber mais do que rio de janeiro, futebol e carnaval. Mas quando alguém de Bishkek ou Bandar Seri Begawan sabe 3 informações sobre o seu país enquanto você não sabe nem onde fica o dele, fica-se mais humilde.
Tenho um amigo que diz que se aprende sobre outros lugares viajando. E eu concordo que viajar ajuda muito, mas não acho nem que seja fundamental, e nem que garanta que se aprenda. Afinal tem quem viaja sem querer que nada mude, sem aprender coisa nenhuma.
Ontem por acaso eu cai num site chamado amores expressos. Um projeto, se nao me engano, da companhia da letras. Aparentemente, escritores brasileiros foram mandados para passar um tempo em diversas cidades no mundo e quando voltassem teriam que escrever uma crônica sobre amor. Fiquei absoluamtne perplexa com o que a escritora mandada para India escreveu. Generalizações, discriminações,ofensas a torto e a direito. Tão irônico para quem foi para lá para se inspirar sobre amor.
Depois li sobre um menino de 5 anos na Paraisópolis que tinha aprendido com o pai varios paises e capitais. O pai o ensinou com uma lousinha e um Atlas.
E então, eu percebi que a minha paixão vem de querer aprender mais sobre o outro. O meu fascínio por mapas me levou a antropologia, a viajar sempre que posso, a querer aprender sobre outras culturas. Os mapas, como os livros e as línguas nos despertam para outras vidas, outros lugares. E viajar de fato reforça esse aprendizado, mas não acho que crie o desejo, o interesse.
O interesse pelo mundo, pelo outro, não sei de onde vem, mas este interesse está no pai que mostra o altas ao filho de cinco anos. Mostra o atlas das diferentes vidas, das diversas oportunidades. O interesse pelo o outro, este que falto a escritora.
E é verdade, nem toda viagem é fácil. Algumas nos levam ao limite. Quando eu estive em Hong Kong voltei mentalmente exausta, e as sinapses só começaram a acontecer no avião. o Marrocos levou me corpo a se rebelar, mas aos poucos eu entendi que não foi contra, mas a meu favor. Em nome de mais integração corpo e mente versus corpo sob a mente.
E é uma pena que muitas vezes no fechemos e nos rebelemos contra o diferente, contra o outro. Sem perceber que no fundo temos medo de nós mesmos. De abandonar conceitos, hábitos e idéias a que estamos habituados mas que muitas vezes nem são tão nossas.
Minha mãe sempre os adorou, nunca deixou, nenhum nome de cidade, rio, que ela não conhecesse, passar sem averiguar onde ficava, que latitude, longitude etc..
Lembro-me de bem pequena, na escola francesa onde estudei, ouvir Jerome dizer que sabia todas as capitais do mundo. Achei aquilo impossível.Tentei pensar o lugar mais difícil que eu conhecia, e só consegui dizer Sri Lanka. Ao que ele respondeu sem dificuldade Colombo. É bem verdade, que naquela época era mais fácil já que quase todos os ´istãos´ainda faziam parte da União Soviética.
Já na Universidade, Joss, minha ex-flatmate, pegou uma aula de geografia da Africa. Como eu que tinha que tomar a lição acabei aprendendo muito sobre os países africanos. Aí eu quis aprender onde todos os países e suas capitais ficavam, e durante um bom tempo eu soube até as ilhas do Pacífico.
Depois Joss e eu achamos que aquilo era pouco, devíamos destinar cada semana a aprender um pouco sobre algum lugar. Fizemos isto de maneira mais informal que imaginávamos, através de aulas, amigos, e livros. E é incrível como as pessoas ficam felizes em perceber que você que nasceu num outro mundo, sabe alguma coisa do lugar onde ela veio.
No começo somos exigentes, temos sonhos de grandeza, achando que deviam saber mais do que rio de janeiro, futebol e carnaval. Mas quando alguém de Bishkek ou Bandar Seri Begawan sabe 3 informações sobre o seu país enquanto você não sabe nem onde fica o dele, fica-se mais humilde.
Tenho um amigo que diz que se aprende sobre outros lugares viajando. E eu concordo que viajar ajuda muito, mas não acho nem que seja fundamental, e nem que garanta que se aprenda. Afinal tem quem viaja sem querer que nada mude, sem aprender coisa nenhuma.
Ontem por acaso eu cai num site chamado amores expressos. Um projeto, se nao me engano, da companhia da letras. Aparentemente, escritores brasileiros foram mandados para passar um tempo em diversas cidades no mundo e quando voltassem teriam que escrever uma crônica sobre amor. Fiquei absoluamtne perplexa com o que a escritora mandada para India escreveu. Generalizações, discriminações,ofensas a torto e a direito. Tão irônico para quem foi para lá para se inspirar sobre amor.
Depois li sobre um menino de 5 anos na Paraisópolis que tinha aprendido com o pai varios paises e capitais. O pai o ensinou com uma lousinha e um Atlas.
E então, eu percebi que a minha paixão vem de querer aprender mais sobre o outro. O meu fascínio por mapas me levou a antropologia, a viajar sempre que posso, a querer aprender sobre outras culturas. Os mapas, como os livros e as línguas nos despertam para outras vidas, outros lugares. E viajar de fato reforça esse aprendizado, mas não acho que crie o desejo, o interesse.
O interesse pelo mundo, pelo outro, não sei de onde vem, mas este interesse está no pai que mostra o altas ao filho de cinco anos. Mostra o atlas das diferentes vidas, das diversas oportunidades. O interesse pelo o outro, este que falto a escritora.
E é verdade, nem toda viagem é fácil. Algumas nos levam ao limite. Quando eu estive em Hong Kong voltei mentalmente exausta, e as sinapses só começaram a acontecer no avião. o Marrocos levou me corpo a se rebelar, mas aos poucos eu entendi que não foi contra, mas a meu favor. Em nome de mais integração corpo e mente versus corpo sob a mente.
E é uma pena que muitas vezes no fechemos e nos rebelemos contra o diferente, contra o outro. Sem perceber que no fundo temos medo de nós mesmos. De abandonar conceitos, hábitos e idéias a que estamos habituados mas que muitas vezes nem são tão nossas.
segunda-feira, dezembro 10, 2007
Sonhos
Quando eu estive no ano passado na Eslovênia para visitar minha amiga Vesna ( mais info em tópicos anteriores), ela resolveu me levar até a Croácia para conhecer a Dalmácia e visitar sua tia. Eu sei que eu já escrevi sobre a bondade de Jelka no passado mas nunca cheguei a relatar a visita que ela nos fez fazer a uma senhora Croata no pequeno vilarejo de Stankovic.
Stankovic é um vilarejo de uma rua. Ou melhor, um vilarejo que cresceu a volta da estrada que passa pela Dalmácia. Tem aproximadamente 20 casa, sendo a da Jelka praticamente auto-sustentável. Um pouco depois que eu cheguei a Stankovic, Darko ,o irmão de Jelka que morava numa outra cidade, telefonou. Vesna contou-lhe que estava visitando e que tinha trazido uma amiga brasileira com ela. Acordamos no dia seguinte com Darko chegando no seu carrinho vermelho, vestido com a camisa brasileira de futebol, ávido para dizer nomes de jogadores brasileiros, e as poucas palavras de inglês que ele conhecia. Vesna me explicou que ele não era totalmente ´normal´mas que era uma ótima pessoa ( palavras dela e eu sei que normalidade e um tópico mais complexo). Saímos com ele o dia inteiro, passamos por cidade lindas, e tiramos muitas fotos do seu adorado carro. Fotos que ele não parava de planejar, e não cansava de admirar na minha máquina. No final da tarde voltamos para casa.
Assim, que chegamos Jelka nos pediu para visitar uma senhora muito velha que morava sozinha numa das casas do vilarejo. Jelka contou nos que a mulher estava um pouco triste, mas que nossa visita a alegraria. Jelka, uma das pessoas mais bondosas que eu já conheci, visitava a senhora freqüentemente. Não simplesmente para fazer companhia, mas também para limpar a casa da senhora, e para trazer-lhe comida.
Caminhamos até a casa, fomos entrando no terreno enquanto Jelka batia palmas e chamava pela senhora.Chamava, chamava e nada. Já estava escuro,Jelka entrou na casa enquanto Vesna e eu olhávamos na horta. Depois de uns 5 minutos comecei a ficar com medo que tropeçássemos na senhora morta em algum lugar. Mas não, um pouco depois ela veio, corcunda, bem velha, andando bem devagar, e explicou que estava na casa dos vizinhos.
Entramos na casa que era quarto, sala, cozinha no mesmo ambiente. Enquanto Jelka acendia o fogão, para aquecer a casa, e tirava uns potes com comida que ela tinha trazido, a mulher resmungava. Eu me senti transportada para uma outra era, num outro mundo. Assim como se o tempo tivesse parado e voltado a andar devagar como um daqueles monges que tocam um sininho a cada passo. A luz era fosca, as cores amareladas,e a mulher se lamentava. Jelka dizia coisas agradáveis e Vesna traduzia-me tudo. A mulher mandava ela me contar sobre o segundo marido, com quem tinha permanecido casada 40 anos, e que agora tinha morrido.O primeiro era péssimo, mas aos 40 anos ela tinha encontrado o segundo, um ótimo homem,e que agora ela estava só.
Num certo momento, Darko apareceu, explicou para Vesna que tinha planos e que ela devia traduzi-los. Como ele não podia viajar o mundo como Vesna e eu, ele tinha decidido fazer a mesma quilometragem com o carro dele. Faria isso, explicou ele, mesmo que ele tivesse que dar 1000 voltas dentro da Croácia. Enquanto seus planos mudavam para uma viagem intercontinental onde ele nos levaria até a Rússia passando por Albania, e Romênia, a senhora tentava se lembrar em que país da América do Sul ele tinha um filho perdido. Depois a viagem iria até a China, e a senhora falava de um outro filho esquecido. E a Vesna já não sabia mais o que traduzir e eu me sentia num filme.
E ali no meio de uma conversa em outra língua, num outro mundo eu compreendia os tons, e compreendia principalmente a humanidade daquilo tudo. Ali no meio de um vilarejo remoto, com poucas casas, sem internet, sem televisão, sem ajuda do governo aquelas pessoas tinham uma vida. Em outros lugares estariam talvez em asilos, ou sendo profissionalmente tratadas. Ali nos seus limites podiam viver. E mais que isso faziam parte da sociedade e tinham sonhos.
sexta-feira, dezembro 07, 2007
Thé à la Menthe
Uma das minhas mais antigas memórias é de uma mamadeira de 'chá' de camomila que me davam quando eu era criança. Eu odiava aquele negócio morno e doce para dedéu. Depois de muito meditar cheguei a conclusão que só podia ser a Cre, minha babá, que me dava aquilo, minha mãe jamais concordaria em dar açúcar para criança e minha avó jamais chamaria uma infusão de chá. Assim que fiquei traumatizada por infusões de camomila e mais ainda por bebidas quentes e doces.
Tomava infusões raramente no Brasil, um pouco mais em NY, bastante em Amsterdã e o tempo todo em Londres. Essa mudança se deve a Olga minha vizinha russa em Amsterda que freqüentemente me chamava para tomar chá na casa dela. Eu gostava muito mais do sarcasmo brilhante e pessimista dela do que de chás e infusões, mas depois de tantas tardes passadas por lá nem se quer tomo mais café.
Assim que quando me contaram que no Marrocos a vida girava em torno de um bule que despeja chá das alturas eu me animei. Infusão de hortelã sempre foi uma das minhas favoritas e eu mal via a hora de provar a famosa infusão marroquina. Acontece que quando o grande dia chegou e eu provei o meu primeiro gole em Marrakech eu quase desmaiei. O famoso ´thé à la menthe ´ nada tinha a ver com a infusão de hortelã que eu conhecia, e nem se quer com a da Leila, minha ex-roomate marroquina. Lembrei-me então que todas as vezes que Leila fazia a bebida ela reclamava dizendo que estava longe de ser como a do Marrocos. Assim que totalmente despreparada o meu primeiro gole no Marrocos foi um verdadeiro choque. Eu ficava o tempo todo imaginando a pessoa preparando e colocando colheres e mais colheres de açúcar. Mas eu estava enganada como ficaria claro mais para frente. Depois desse primeiro, nunca mais bebi nenhum, ou melhor nunca mais até a nossa viagem ao deserto.
Na nossa viagem, como eu já comentei antes, fiquei amiga do motorista Abdul. Por eu ser a única fluente em francês ficava com a incunbencia de todas as perguntas,e o privilégio de todas as explicações. É verdade que muitas delas, para mim pareciam mitos, por exemplo ele me garantiu que as mulheres andavam de negro pois era mais fresco... Outras eu realmente não tinha como julgar. O chá era um exemplo, eu sempre imaginei que o hábito deve ter originado de beber água fervida (mais seguro), e de ser difícil de resfriar uma bebida no deserto. Abdul me garantiu que não, que na verdade chá quente deixa as pessoas com menos sede. Não sei se isso é verdade, mas também não discuti. Depois de horas e mais horas conversando, Abdul me perguntou se podíamos dar carona ao sobrinho dele. Naturalmente concordamos, e foi assim que eventualmente paramos para o meu segundo chá.
Paramos no meio da estrada, numa casa simples, e Abdul virou se para mim e disse ' vocês tem sorte, meu amigo vai lhes oferecer um chá´. Com toda essa sorte eu não podia explicar que eu não queria beber. Juntei o que tínhamos levado de doces no carro para contribuir de alguma maneira. Estenderam uma toalha no chão do lado de fora da casa, em cima da terra, onde sentamo-nos todos para assistir a preparação ritualística do chá. Primeiro veio a água fervida, depois um pó(que na caixa estava escrito gun powder.. pólvora... ), depois as folhas da menta. Aí passa a água, joga fora, põe mais agua, as folhas de hortelã e então veio uma pedra de mais ou menos 16cm2 de açúcar. O bule metade da pedra, e eu esperando para ver o que aconteceria. Abdul entalou pedra abaixo, colocou um pouco de água e despejou o chá nos nosso 4 copos. Copos pequenos. Para poder servir o quinto, ele teve que fazer mais chá, com é claro mais açúcar. E ali o mistério se resolveu, eu estava enganada não eram colheres, eram meteoritos.
terça-feira, dezembro 04, 2007
Acordando no Saara
Quando finalmente descemos dos camelos, foi que sentimos o que tinha acontecido com nossas pernas. Meio bambas, meio moles, meio doloridas afundaram na areia. Hassan nos levou até nosso acampamento. Na frente da cabana havia uns tapetes, uma mesa redonda, e almofadas a volta. Deitamos os 3 olhando para o céu estrelado. Naquele momento eu soube que eu estaria para sempre ligada ao Haiko e a Dri. Dividir um momento desses marca! Enquanto apreciávamos as estrelas, Hassan nos trouxe chá. Aliás eu preciso de um post só para escrever sobre os chás no Marrocos!
Depois veio o Tagine, o meu e da Dri só de legumes, o do Haiko ja nem me lembro mais do que. Depois vieram frutas e outros quitutes mais. Ali no meio do deserto Hassan nos preparou uma refeição deliciosa. Sem nem pensar em escorpiões ou cobras dormimos do lado de fora. No deserto ao contrário do que dizem não fez frio. Temperatura agradável a noite toda, adormecemos olhando as estrelas!
No dia seguinte, acordei muito cedo. Aos poucos todos acordaram, e começamos a nos mobilizar para ver o sol nascer. Dri estava morrendo de dor de barriga, e eu também sentia um pouco. No meio do deserto não é nada fácil. Assistimos ao sol nascer e nos preparamos para partir. Com todos os lenços amarrados na cabeça subimos em nossos camelos. Não eram nem 7 da manhã e já fazia calor. O vento começou a aumentar, areia a voar e cada vez mais eu agradecia ter todos aqueles véus. Conforme fomos indo o tempo foi piorando: mais calor, mais sol e mais vento. O vento de certa forma aliviava o calor, mas a areia que vinha junto com ele machucava. Fomos indo, e apesar de ser muito engraçado, e inesquecível, mal víamos a hora de chegar de volta ao hotel e tomar um banho.
Eventualmente avistamos nosso carro muito antes do que esperávamos. Ficamos encantados com a idéia do Abdul de ir nos buscar. Descemos suando, melados de areia, exaustos, e descobrimos que o carro tinha atolado. Tentamos desatola-lo, mas nao houve jeito, tivemos que subir de novo no camelo. Voltar ao camelo foi desesperador, mais depois de mais meia hora de sofrimento estávamos de volta ao hotel. Descemos rapidamente, desesperadas ( eu e Dri), para ir ao banheiro e tomar banho. Lembramos-nos então que as coisas estavam no carro, aquele que estava atolado no deserto.
* Fotos by Adriana Torres.
Rumo a India e Nepal!
Quando eu tinha 15 anos, fiz um intercambio de um ano na Austrália. Morei numa cidade pequena, e um dia fui convidada para fazer um trekking no sul do país . Eu nunca tinha feito um trekking antes mas como me garantiram que seria tranquilo juntei-me ao grupo. O trekking duraria 4 dias e 3 noites. Como teríamos que carregar toda a comida, bebida e barraca que usaríamos resolvi não levar mais quase nada. Meu maior medo era passar sede, por isso levei 10 litros de agua.
No primeiro dia estava animadíssima. Aliás todos nós estávamos. Caminhamos, e caminhamos, e caminhamos até chegar num lugar meio sem saída, e o líder constatar que estávamos uns 10km fora da rota. Era o primeiro dia, ninguém se importou muito. Quando a tarde começou a cair, paramos. Fazia um friozinho, fizemos fogueiras, marshmallow derretido, e fomos dormir.
No dia seguinte, amanheceu chovendo. Era supostamente a estação seca, então todos ficaram chocados. Daí em diante, para mim foi só miséria. Chovia e fazia frio o tempo todo! Não havia onde se proteger, tudo molhado, a cabana nem tão impermeável, minha calcinha, minhas meias, minha camiseta em sopa. Durante a noite eu rezava para amanhecer e poder andar para que eu parasse de sentir frio, durante o dia eu torci meu pé e rezava para chegar a noite e parar de andar. Basta dizer que eu não me lembro de quase nada dessa viagem, não lembro da paisagem, das pessoas, só me lembro de olhar para o pé da pessoa da frente. Lembro de passar um frio desgraçado, e de querer chegar em casa o quanto antes para tomar um banho bem quente. Eventualmente, chegamos, e eu nunca mais quis fazer trekking nenhum que durasse mais de um dia.
Nunca mais até a semana passada. Quando conversando com o Haiko,e procurando passagens par ir ao Brasil no ano que vem, cai num site com passagens muito baratas para India. Haiko que passou 6 meses entre India, Nepal, Tailandia e Laos não se opôs. Compramos então nossas passagens para Setembro do ano que vem. E se tudo correr bem, farei o meu segundo trekking nos Himalaias. Eu sei que há uma certa injustiça nisso. Eu que nunca fiz trekking em lugar nenhum ir direto a um dos lugares mais desejados pelos merecedores alpinistas. Eu sei, eu soube disso também quando viajei pela Bolivia sem saber geologia para realmente apreciar todas aquelas formações. Mas eu prometo que me preparo melhor dessa vez, para apreciar tudo, e para poder contar aqui depois. E é verdade eu posso não ser uma ´montanhista´que vá poder realmente aproveitar completamente a experiência, mas como antropóloga quem sabe eu já mereça um pouquinho mais.
No primeiro dia estava animadíssima. Aliás todos nós estávamos. Caminhamos, e caminhamos, e caminhamos até chegar num lugar meio sem saída, e o líder constatar que estávamos uns 10km fora da rota. Era o primeiro dia, ninguém se importou muito. Quando a tarde começou a cair, paramos. Fazia um friozinho, fizemos fogueiras, marshmallow derretido, e fomos dormir.
No dia seguinte, amanheceu chovendo. Era supostamente a estação seca, então todos ficaram chocados. Daí em diante, para mim foi só miséria. Chovia e fazia frio o tempo todo! Não havia onde se proteger, tudo molhado, a cabana nem tão impermeável, minha calcinha, minhas meias, minha camiseta em sopa. Durante a noite eu rezava para amanhecer e poder andar para que eu parasse de sentir frio, durante o dia eu torci meu pé e rezava para chegar a noite e parar de andar. Basta dizer que eu não me lembro de quase nada dessa viagem, não lembro da paisagem, das pessoas, só me lembro de olhar para o pé da pessoa da frente. Lembro de passar um frio desgraçado, e de querer chegar em casa o quanto antes para tomar um banho bem quente. Eventualmente, chegamos, e eu nunca mais quis fazer trekking nenhum que durasse mais de um dia.
Nunca mais até a semana passada. Quando conversando com o Haiko,e procurando passagens par ir ao Brasil no ano que vem, cai num site com passagens muito baratas para India. Haiko que passou 6 meses entre India, Nepal, Tailandia e Laos não se opôs. Compramos então nossas passagens para Setembro do ano que vem. E se tudo correr bem, farei o meu segundo trekking nos Himalaias. Eu sei que há uma certa injustiça nisso. Eu que nunca fiz trekking em lugar nenhum ir direto a um dos lugares mais desejados pelos merecedores alpinistas. Eu sei, eu soube disso também quando viajei pela Bolivia sem saber geologia para realmente apreciar todas aquelas formações. Mas eu prometo que me preparo melhor dessa vez, para apreciar tudo, e para poder contar aqui depois. E é verdade eu posso não ser uma ´montanhista´que vá poder realmente aproveitar completamente a experiência, mas como antropóloga quem sabe eu já mereça um pouquinho mais.
segunda-feira, dezembro 03, 2007
No Deserto do Saara
No dia seguinte, continuamos a nossa jornada. Fazia muito calor, e eu tentava me cobrir com todos os véus que eu tinha comprado pelo caminho. Naquela noite dormiríamos no deserto do Saara! Viajamos o dia inteiro, por estradas tortuosas, por vilarejos remotos, pela placa que indica que faltam 52 dias de camelo ( nunca sei se é de camelo, ou a camelo..) ate Timbutku. Depois de um dia inteiro de sol intenso, vilarejos, atalhos, começamos a avistar o deserto. Quando estávamos literalmente no começo do deserto, Abdul apontou um hotel e disse: é aqui a nossa última parada.
Ficamos um pouco desapontados, nos tinham dito que dormiríamos no deserto, e eu tinha imaginado no meio do deserto, não em um hotel que tivesse o deserto como quintal. Quando vimos tendas no quintal, tivemos um acesso de riso, pensando que essas eram as tendas para os turistas dormirem no deserto. Barak, dono do hotel, apareceu, nos levou para tomar chá e nos disse que tínhamos algumas opções. Podíamos dormir no hotel, nas tendas no quintal, ou então ir de camelo até um oasis no meio do deserto e dormir lá. Com nosso entusiasmo imediatamente recuperado, escolhemos a terceira opção.
Abdul nos explicou que ele ficaria por ali, e que nosso guia seria agora Hassan. Confesso que fiquei um pouco insegura de ir deserto a dentro com um desconhecido, mas como tudo tinha sido organizado pelos meus amigos marroquinos fiquei mais tranqüila. Subimos nos nossos tres camelos e começamos a nossa ´camelada´. Já era final da tarde, por isso a temperatura estava mais amena. Fomos indo, os 3, meu camelo no meio, mordendo o da Adriana, e sendo mordido pelo o do Haiko. Hassan caminhando na frente. Nossos três camelos amarrados. Eu ,sem saber nada sobre camelos , ficava imaginando o desastre que seria se um deles começasse a galopar.. ou se um inadvertidamente resolvesse se deitar.. Esses pensamentos a parte, o sol ia baixando, e íamos ficando cada vez mais tranquilos.
Num dado momento, quando quase não se via, Hassan pediu um minuto. Largou a corda do camelo, se voltou a Meca e começou a rezar. Ali no meio do deserto, aquele homem parecia tão centrado. Tão certo de onde ele estava. E nós 3, então ateus de carteirinha, nos emocionamos. Ali no meio do deserto, anoiteceu, e toda apreensão se esvaiu. As estrelas tomaram lugar do sol,
o molejo do camelo agora tranqüilizava, e já não tínhamos mais pressa de chegar a lugar algum. E assim num misto de calma e encanto avistamos luzinhas, pequenininhas, e sentimos em nosso corpo vibrar o som do tambor Berber. E assim soubemos o que se sente ao avistar um Oásis no meio do deserto.
domingo, dezembro 02, 2007
Pelo Sul do Marrocos
Enquanto planejávamos nossa viagem para o Marrocos, ficamos com vontade de fazer um tour pelo sul e pelo deserto do Saara. O Haiko como sempre concordou, ele já tinha estado no deserto do Rajastão (Thar) e tinha adorado. Eu que tive a idéia, também a achei ótima mas no fundo estava super apreensiva com sua concretização. Afinal, nós estávamos indo no final de agosto, final do verão marroquino, calor certeiro, e o deserto é um lugar de onde ,normalmente, as pessoas querem fugir. Passar horas em cima de um camelo não podia ser muito confortável, e se nos arrependêssemos, uma vez no meio do deserto, não ia ter muito o que fazer.
Nos 3 primeiros dias em Marrakech enquanto passeávamos para cima e para baixo com a Mounia, perguntavamos a todos que encontrávamos sobre o tour. " O deserto está muito quente, de 48 a 50 graus. Vale muito a pena ... é muito cansativo... é bobagem, é imperdível!.." Era impossível decidir. Quando Brahim, marido da Mounia, finalmente, nos ligou do deserto dizendo que tinha chovido decidimos.
Com tudo organizado por nossos anfitriões partimos numa segunda feira de manha para o sul. No 4x4 Adriana, Haiko, eu e o nosso motorista Abdul. Abdul, foi nos contando tudo que ele sabia sobre os lugares por onde passávamos. A paisagem, a cor da terra, do ar, das casas, as pessoas, tudo ia mudando pelo caminho. As únicas coisas que permaneciam as mesmas eram nossas opções de almoço: tagine e couscous.
Viajamos o dia inteiro, passando por inúmeros vilarejos, passamos pelo mais difieis tipos de vidas. Vidas duras, vidas secas, vidas severinas. A grande dicotomia é que essas paisagens eram de beleza, para o turista, estonteante. Como uma exposição de Salgado, eu acho, que quase nunca sente-se bem, por sentir se tão tocado. O ápice do surrealismo aconteceu quando chegamos a Zagora na nossa Riad. Um lugar magnífico, que me fez pensar mais no Mali do que no Marrocos. De paredes de barro, e detalhe em todos os cantos. Estarrecidos fomos andando pelo jardim, ate chegarmos a uma piscina. Uma piscina ali no meio de tanta secura. Nadamos num misto de alivio e culpa na boca do deserto do Saara.
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