Semana, que vem estou indo para o Brasil, e portanto, acho que vou ficar sem atualizar o blog por pelo menos um mês. Eu na verdade, não tenho muito o que contar ultimamente. Fato esse decorrente de eu estar passando muito tempo na LSE. Estava eu aqui pensando que eu queria escrever alguma coisa e o fato de não ter muito o que contar por causa da universidade me fez lembrar de uma estória muito bonita, que eu venho adiando há muito tempo. Talvez por um certo medo de não fazer justiça a estoria original. Essa estória, é a estória de como eu comecei a estudar antropologia.
Quando eu fui para NY estudar, eu tinha de fato ido para estudar cinema. Não que isso fosse uma idéia muito profunda, e pensada, foi meio por acaso. Diga se de passagem que quanto mais eu converso com as pessoas mais eu vejo como nossas escolhas por uma área são muitas vezes por acaso, por ter empatia por algum professor, pela idéia daquela profissão, as vezes até pelo lugar físico ( conheci uma menina que foi estudar na FAU pois quando era adolescente tinha visto um menino pichando o muro da FAU e achado lindo. Naquele minuto decidiu "é aqui que quero estudar!"). O engraçado é que essas escolhas lá atrás acabam definindo muito do que somos, muitas vezes sem nem percebermos. Eu vejo isso claramente hoje em dia, na minha aula de antropologia do aprendizado e da cognição. É simplesmente incrível, colocar os antropólogos, psicólogos, filósofos e neurocientistas e ate uma bióloga juntos numa classe. Nos entramos la, com os preconceitos da nossa área, com perguntas distintas, com interesses completamente diversos, e muitas vezes super passionais. E é difícil de se abrir de verdade para uma nova visão. Aliás até o fato de ter ido a uma universidade ( no meu caso nos EUA) e estar agora na Inglaterra muda tudo. Mas já divago.
O fato, é que eu tinha ganhado uma bolsa, e tinha que escolher uma área de estudo. Quando eu cheguei em NY, mandaram me falar com um "advisor", e como o sistema de ensino é completamente distinto ( os alunos tem que pegar aulas de diversas áreas independente do major- área de especialização) ele me aconselhou a pegar aulas de inglês, teoria da música ( para satisfazer créditos de arte), cinema, e astronomia ( créditos de ciência). Bom, sai de lá, e liguei para meus pais para contar sobre o meu primeiro dia. Quando desliguei, um professor que estava ao meu lado, se dirigiu a mim, dizendo que era brasileiro, e que dava aulas de antropologia. Convidou-me então a ir assistir a uma aula dele. Perguntei sobre o que era a aula, e ele me respondeu que era sobre os Nambikwara, e outra populações indígenas da América do sul. Lembro-me de ter agradecido, dito que tentaria ir, mas pensando. " Nossa, de jeito nenhum. Não tenho interesse nisso."
Como a vida da voltas, acabei mudando de idéia e resolvendo ir assistir a tal aula de antropologia.
O professor, começou a aula por contar sua estória. Tinha estudado música e antropologia. E quando foi fazer seu trabalho de campo, resolveu ir estudar a tribo como musicólogo. Passou um ano com os Nambikwara e quando achou que já sabia tudo que tinha para saber sobre a música para os Nambikwara partiu para escrever sua tese. Assim que voltou a sua universidade (americana se não me engano) resolveu que queria voltar a morar com os Nambikwara, afinal, agora que ele já falava a língua poderia estudar outros aspectos da tribo mais profundamente. Queria estudar religião.
Voltou e passou um bom tempo observando. E num dia, quando finalmente sentiu que era capaz de falar o suficiente para fazer uma pergunta elaborada. Foi até o Xamã para perguntar se eles tinham esta palavra. Este conceito. Lembro-me que ele disse que levou meia hora para fazer a pergunta, explicou que religião vinha de religere, religare.. do latim.. conectar-se. Explicou sobre as religiões no ocidente. Enfim, levou um tempão, e no final da pergunta, disse " e vocês, tem essa palavra religião?" ao que o Xamã, sem hesitar respondeu " Claro: Música!"
Eu me lembro de estar sentada na minha mesa. Prestando enorme atenção na estória. E de repente sentir-me completamente nocauteada. Eu nunca tinha sido religiosa, mas se existia um momento que eu me sentia em outro mundo, ou conectada com algo além, era tocando, compondo. Naquele minuto eu soube que eu queria ficar. Eu queria aprender sobre outras culturas. Eu queria aprender sobre esse dialogo entre populações que tece a nossa humanidade. Eu queria conectar-me com o outro. Aprender as outras mil linguagens que explicam a existência.
Ironicamente, eu acho que é muito fácil perder esse verdadeiro interesse pelo outro na universidade. Vira meio que aquela visão do "analisador" X "analisado". Explicações muitas vezes funcionais das outras linguagens. Isso no entanto não vem ao caso para esse post. Meu professor e querido amigo Marcelo Fortaleza Flores foi responsável por despertar em mim o interesse pelo o outro. Que eu já tinha é claro, mas um interesse num outro plano. Anos mais tarde, ele foi responsável por me fazer voltar a música. Essas pessoas que aparecem assim nas nossas vidas, meio por acaso, acabam de fato transformando quem somos. E o engraçado é que as vezes são pessoas que nos levam para bem longe do que somos, mas tenho cá para mim, que os mais transformadores, e as melhores e mais profundas transformações ocorrem quando encontramos pessoas que nos trazem para dentro, mostrando o que já intuímos (sem nem saber) numa outra linguagem.
And herein lies the tragedy of the age:not that men are poor,.. all men know something of poverty;not that men are wicked,.. who is good? Not that men are ignorant,..what is the thruth? Nay, but that men know so little of man. W.E.B du Bois (The souls of Black Folk)
segunda-feira, dezembro 01, 2008
segunda-feira, novembro 24, 2008
Universo Paralelo
Bom, como eu ja disse antes eu sempre me surpreendo quando alguem diz que le meu blog! E é óbvio que se eu o escrevo e coloco na rede isso não deveria ser um fato em si tão estranho. Mas eu me surpreendo porque eu fico tocada eu acho. Sei la, de certo modo, eu acho incrivel que alguem leia o que eu tenho para dizer. Ainda mais alguem que nem me conhece. Eu já nao me lembro mais como foi que eu comecei a escrever o meu primeiro blog. Eu ainda morava em NY, e acho que tinha mais a função de manter meus amigos informados das minhas andanças. Depois eu mudei de blog, o blog foi mudando, até que chegou nesse formato, que é meio sem formato. Um pouco de viagens, de analises, um pouco do dia a dia. E eu vou escrevendo meio sem saber onde meu texto vai parar. São reflexoes, tenho vontade de dividir algumas das experiencias que tenho. Tenho vontade de contar sobre as pessoas incriveis que eu encontro pelo caminho, e das estorias incriveis que elas me contam. Ultimamente tenho recebido muitas mensagens. E eu fico feliz. Feliz mesmo. Obrigada!
Um dos meu melhores amigos, André, que é a pessoa que mais me cobra atualizações, me pediu uma vez que eu colocasse as musicas que eu componho no Blog. Bom, eu expliquei para ele, "André eu nem componho mais". Ele achou impossivel. É que eu o conheci, quando morava em NY, estudavamos juntos, ele jornalismo e eu ... bom deixa para la... foram tantos os departamentos que eu visitei. Naquela época eu vivia grudada ao meu violão. Não ia a lugar nenhum sem ele. E tudo, tudo que me acontecia virava música. E eu não sei como foi, mas parei de compor. Nesse meu ultimo ano, de que tanto ja falei, uma das minhas buscas, é reencontrar a música dentro de mim.
E vou seguir o conselho do Andre. e vou colocar aqui a minha ultima musica. A primeira desde muito tempo que vem de dentro. Chama-se Universo Paralelo. E foi gravada aqui em casa com a maquina de fotografia, portanto a qualidade é para la de duvidosa.
Um dos meu melhores amigos, André, que é a pessoa que mais me cobra atualizações, me pediu uma vez que eu colocasse as musicas que eu componho no Blog. Bom, eu expliquei para ele, "André eu nem componho mais". Ele achou impossivel. É que eu o conheci, quando morava em NY, estudavamos juntos, ele jornalismo e eu ... bom deixa para la... foram tantos os departamentos que eu visitei. Naquela época eu vivia grudada ao meu violão. Não ia a lugar nenhum sem ele. E tudo, tudo que me acontecia virava música. E eu não sei como foi, mas parei de compor. Nesse meu ultimo ano, de que tanto ja falei, uma das minhas buscas, é reencontrar a música dentro de mim.
E vou seguir o conselho do Andre. e vou colocar aqui a minha ultima musica. A primeira desde muito tempo que vem de dentro. Chama-se Universo Paralelo. E foi gravada aqui em casa com a maquina de fotografia, portanto a qualidade é para la de duvidosa.
sexta-feira, novembro 21, 2008
No Meio do Caminho
Faz três semanas que eu comecei a voluntariar numa escola pública aqui de Londres. Faz parte de um programa da LSE, e tirando eu e uma meia duzia de gatos pingados, eu tenho a impressão que a maioria dos voluntários esta fazendo isso só para ficar bonito no curriculum. Pelo menos foi a impressão que eu tive, mesmo porque na apresentação do programa la na LSE, a coordenadora passou 5 minutos falando na importância da experiencia para o individuo, mais 5 na diferença que faz para os alunos da escola publica, e uns 50 citando estatísticas que mostram que empregadores preferem empregados que tenham voluntariado. Enfim, o importante é que ela conseguiu muito voluntários, que tanto faz a motivação, ajudarão pela simples presença, e atenção que dispensarão com alunos.
Na minha primeira visita a escola, encontrei mais 7 estudantes da LSE. Eu estava um pouco preocupada que a escola fosse muito rígida ( eu sou muito mais da linha de escolas democráticas). La chegando meus medos se dissiparam, a escola uma bagunça, a diretora uma simpatia, e a alegria que ela estava de nos receber era evidente. Nos perguntou com qual idade queríamos trabalhar, e tirando eu, todo mundo escolheu o ultimo ano da escola primaria, os alunos de 11 anos. De fato, eles tem bastante necessidade, por causa de um exame que tem que fazer nessa fase. Eu pedi para ficar com as crianças de sete anos, porque eu acho fascinante essa fase de estar aprendendo a ler, escrever, compreender um texto. Enfim, a minha escolha foi meio intuitiva, guiada por um interesse em cognição, por querer ver esse processo de "socialização", "hopefully" ajudar nessa fase de fundamento de base, e é claro porque as crianças de 7 são umas fofuras!!!
A diretora nos levou para visitar, a escola, e nos fomos interrompendo classe, depois de classe, e quando finalmente chegamos na classe dos de 11. Ela nos apresentou. Eles estavam assistindo um discurso do Obama :), e ela parou e disse: " Guys, eu quero apresentar vocês a essas pessoas, eles são voluntários, eles são especialistas na área deles, estudam na UNIVERSIDADE, e vão vir aqui no tempo livre deles, para ensinar VOCÊS, ajudar VOCÊS !!!" Ela falou isso, super dramática, e eu fiquei meio sem saber o que achar, mas ao ver a reação daquelas crianças de 11 anos, que eu imaginei que ia ser tipicamente de pré-adolescente (ou seja: nem ligar, ou bufar, e ficar infeliz com mais uns adultos na aula deles), fiquei super emocionada. TODAS as crianças da classe, gritaram "YES!!!!! Really????? para estudar conosco??? todos eles??? aqui??YES!!! YES!!!!"
Assim, que na próxima, semana cheguei e fui recebida por uma mulher de pijama. Era um dia especial na escola, para arrecadação de dinheiro para uma caridade. Fui levada a minha classe, e obviamente me apaixonei. Não, sério, tudo que eu sei é teórico. De ler. De estudar. Tudo que eu sei é de ver crianças de amigos, crianças de escola privada, de pais informados. Agora, numa classe pobre, de criança de tudo que é lugar. Nossa, isso é outra coisa. Por que aqueles processos cognitivos que ficamos discutindo na minha aula, de domínios específicos, e não sei mais o que, de repente ganham outra dimensão. E a politica, e o processo violento que é ser educado , socializado ( e aqui eu digo em qualquer sistema, em qualquer escola), da para ver..ali na pratica. É incrível.
Eu não quero falar hoje, das coisas que eu acho erradas. Ou das praticas que eu questiono. Especialmente, porque hoje o professor da minha classe, um bonito e motivado professor que no primeiro dia mal tinha falado comigo se aproximou. Perguntou se eu estava fazendo curso para ser professora. Eu disse que não, que era voluntaria. " A voce é da Universidade então?" Eu confirmei. e ele disse meio que brincando, "você esta aqui para ver o que a gente faz de errado ? :)", "e ali meio brincando ele expôs o medo dele, da intrusa." Eu disse " Não! eu to aqui porque eu estudo cognição, e eu quero ajudar, e por que eu me interesso em educação" "Eu na verdade devia ter dito, " nao na universidade a gente não sabe nada, você que devia ir ver la as coisas que dizemos sobre aprendizado!!!!" " E ele sorriu e me disse "se você quiser fazer alguma coisa, uma atividade, ensinar alguma coisa, ou pesquisar fique a vontade! " Depois disso ele me envolveu em todas as atividades, eu ajudei crianças a ler, a escrever, a inventar frases, a fazer ginastica. E eu sai radiante de la.
Só quando eu cheguei em casa que eu pensei no significado de tudo isso. Eu nunca imaginei que um professor tao exuberante pudesse estar intimidado por causa de uma aluna. Ele estava intimidado pelo fato de eu estar na universidade, uma universidade reconhecida. E que eu sem pratica nenhuma fosse juga-lo. E ele estava certo. Pois é o que nós fazemos. Nos julgamos, teorizamos, sem ter muita noção da realidade. Mas ele veio até o meio do caminho para sondar ao que eu vinha, e eu fui até o meio do caminho para dizer que eu não sou um perigo. E nesse meio, pudemos nos unir para dar mais atenção para varias crianças.
Na minha primeira visita a escola, encontrei mais 7 estudantes da LSE. Eu estava um pouco preocupada que a escola fosse muito rígida ( eu sou muito mais da linha de escolas democráticas). La chegando meus medos se dissiparam, a escola uma bagunça, a diretora uma simpatia, e a alegria que ela estava de nos receber era evidente. Nos perguntou com qual idade queríamos trabalhar, e tirando eu, todo mundo escolheu o ultimo ano da escola primaria, os alunos de 11 anos. De fato, eles tem bastante necessidade, por causa de um exame que tem que fazer nessa fase. Eu pedi para ficar com as crianças de sete anos, porque eu acho fascinante essa fase de estar aprendendo a ler, escrever, compreender um texto. Enfim, a minha escolha foi meio intuitiva, guiada por um interesse em cognição, por querer ver esse processo de "socialização", "hopefully" ajudar nessa fase de fundamento de base, e é claro porque as crianças de 7 são umas fofuras!!!
A diretora nos levou para visitar, a escola, e nos fomos interrompendo classe, depois de classe, e quando finalmente chegamos na classe dos de 11. Ela nos apresentou. Eles estavam assistindo um discurso do Obama :), e ela parou e disse: " Guys, eu quero apresentar vocês a essas pessoas, eles são voluntários, eles são especialistas na área deles, estudam na UNIVERSIDADE, e vão vir aqui no tempo livre deles, para ensinar VOCÊS, ajudar VOCÊS !!!" Ela falou isso, super dramática, e eu fiquei meio sem saber o que achar, mas ao ver a reação daquelas crianças de 11 anos, que eu imaginei que ia ser tipicamente de pré-adolescente (ou seja: nem ligar, ou bufar, e ficar infeliz com mais uns adultos na aula deles), fiquei super emocionada. TODAS as crianças da classe, gritaram "YES!!!!! Really????? para estudar conosco??? todos eles??? aqui??YES!!! YES!!!!"
Assim, que na próxima, semana cheguei e fui recebida por uma mulher de pijama. Era um dia especial na escola, para arrecadação de dinheiro para uma caridade. Fui levada a minha classe, e obviamente me apaixonei. Não, sério, tudo que eu sei é teórico. De ler. De estudar. Tudo que eu sei é de ver crianças de amigos, crianças de escola privada, de pais informados. Agora, numa classe pobre, de criança de tudo que é lugar. Nossa, isso é outra coisa. Por que aqueles processos cognitivos que ficamos discutindo na minha aula, de domínios específicos, e não sei mais o que, de repente ganham outra dimensão. E a politica, e o processo violento que é ser educado , socializado ( e aqui eu digo em qualquer sistema, em qualquer escola), da para ver..ali na pratica. É incrível.
Eu não quero falar hoje, das coisas que eu acho erradas. Ou das praticas que eu questiono. Especialmente, porque hoje o professor da minha classe, um bonito e motivado professor que no primeiro dia mal tinha falado comigo se aproximou. Perguntou se eu estava fazendo curso para ser professora. Eu disse que não, que era voluntaria. " A voce é da Universidade então?" Eu confirmei. e ele disse meio que brincando, "você esta aqui para ver o que a gente faz de errado ? :)", "e ali meio brincando ele expôs o medo dele, da intrusa." Eu disse " Não! eu to aqui porque eu estudo cognição, e eu quero ajudar, e por que eu me interesso em educação" "Eu na verdade devia ter dito, " nao na universidade a gente não sabe nada, você que devia ir ver la as coisas que dizemos sobre aprendizado!!!!" " E ele sorriu e me disse "se você quiser fazer alguma coisa, uma atividade, ensinar alguma coisa, ou pesquisar fique a vontade! " Depois disso ele me envolveu em todas as atividades, eu ajudei crianças a ler, a escrever, a inventar frases, a fazer ginastica. E eu sai radiante de la.
Só quando eu cheguei em casa que eu pensei no significado de tudo isso. Eu nunca imaginei que um professor tao exuberante pudesse estar intimidado por causa de uma aluna. Ele estava intimidado pelo fato de eu estar na universidade, uma universidade reconhecida. E que eu sem pratica nenhuma fosse juga-lo. E ele estava certo. Pois é o que nós fazemos. Nos julgamos, teorizamos, sem ter muita noção da realidade. Mas ele veio até o meio do caminho para sondar ao que eu vinha, e eu fui até o meio do caminho para dizer que eu não sou um perigo. E nesse meio, pudemos nos unir para dar mais atenção para varias crianças.
quinta-feira, novembro 20, 2008
Estar Presente
Ontem foi meu aniversario. E como eu já falei aqui antes, eu adoro, fazer aniversário. Nunca liguei para datas formaturas, casamentos, natal, pascoa etc.. Mas fazer aniversario me toca. Me toca, pois é a celebração da vida. De mais uma volta em torno do sol. E como (quase) tudo é cíclico, estou aqui de novo falando disso :) Eu gosto tanto de fazer aniversario que ate calculo que horas é o horário certo que eu nasci. (Esse ano por exemplo, levando em conta que o ano é bissexto, o momento exato do meu aniversario cairia no dia 20 as 5:35 da manha, e nao no dia 19 :) )Eu nunca vou conseguir colocar em palavras o que isso realmente significa para mim, pois os fatos banais,são os mais difíceis de se explicar. Então, todo ano, eu paro, naquele momento, e fico imaginando mais uma volta, mais uma volta desde a primeira vez que eu respirei no mundo. E para muitas tradições, “a respiração” é a própria vida. Mais uma volta ao redor do sol se completando, mais um ciclo terminando, e portanto mais um novo começo.
Para mim, depois de ter ficado doente, no ano passado isso ganhou especial significado. Pois a vida em si, se tornou mais preciosa. Então, nesse aniversario, o meu objetivo era estar presente. Presente no momento, como dizem os budistas. Eu meditei por uma hora nos estados de compaixão e alegria. Acima de tudo tentei estar presente. E estar presente, é um ato difícil, pois invariavelmente estamos no passado ou no futuro. Que é para muitas tradições a razão do nosso sofrimento. Desejo é sempre no futuro, angustia também, raiva eu acho que fica nos dois. No presente, não, é tudo perfeito.
Então, eu comecei o meu novo ciclo invocando buscando estar no momento e invocando a compaixão. E a noite, convidei alguns amigos para vir em casa. Comprei um monte de baloes coloridos, comprei flores, e a casa ficou colorida. Meus amigos foram chegando, um a um. Eles de mundo tão distintos, amigos de lugares diferentes foram se conhecendo. E tocamos violão, e cantamos. E jogamos todas os balões para o céu, brincamos, e rimos a noite toda. E eu que não tinha comprado bolo, recebi um bolo feito por um casal de amigos queridos. E quando cantamos parabéns. E olhei para todas aquelas pessoas numa quarta feira a noite na minha casa eu fiquei tao tocada. Tao bonitas. Tao únicas. Tao diversas. Matemáticos, yogis, filósofos, artistas, antropólogos, consultores. Que são é claro muito mais do que isso. Olhando, aquelas pessoas que fazem coisas tão diferentes durante o dia, que são de países distintos, que sentem em línguas diferentes. Olhando para toda aquela alegria estampada no rosto de cada um, eu me senti incrivelmente grata. Incrivelmente presente. Devastadoramente feliz.
Pois esse meu ultimo ciclo não foi fácil, foi profundo, foi de busca, foi de procura por um caminho. Eu exagerei. Eu oscilei. Eu fui to ateísmo militante, a todos os templos. Da Europa a Índia. Do Tantra ao Budismo. Dos mitos a ciência cognitiva. Eu mudei as cores das roupas. Mudei os livros que lia, buscando mudar no exterior, uma coisa que só pode acontecer dentro. E ela tem acontecido: eu tenho me re-encontrado. E essa busca, tem sido para abandonar a ilusão do racionalismo e para voltar a me apaixonar pelo mundo. Essa busca tem sido para encontrar o equilíbrio entre o meu pensamento critico ( tao valorizado e exacerbado no mundo ocidental hoje em dia), e o meu coração. E eu não estou falando aqui de emoção. Pois as emoções me parecem também mais superficiais, do que este outro plano de ser. E eu poderia passar aqui horas escrevendo, que eu sei que numa visão materialista a consciência é uma propriedade emergente do cérebro. Poderia invocar meu amigo filosofo para dizer que isso não quer dizer nada. Podíamos ter todos esse discursos que eu já tive. No entanto, o meu ponto, não é esse. Mesmo, porque de certa forma, sempre vamos estar escolhendo um paradigma, achando que ele é racional (ainda que a escolha dele seja irracional), se ele for legitimado pela visão cientifica do tempo. No plano pratico, é difícil colocar a experiencia humana em palavras, afinal , essa é uma linguagem limitada. E só o fato, de eu explicar tudo isso, mostra como eu ainda sou tão preza a esse paradigma:)
No entanto, esse meu ano de busca, é um ano para voltar a sentir o que quer dizer viver. Sentir de verdade. Como é que eu me relaciono com um monte de comportamentos que são produtos históricos, que de tao apegada a eles, eu não percebo que não são meus? Como é que eu fico presente? O que é que eu sou mesmo, o que é que eu não sou ? O que é congruente ser ou não? Perceber-se incongruente. Como é que eu abandono a busca por sentido em nome de sentir. E olhando aos meus amigos ontem, e a todos aqueles que não estavam ontem, mas estão aqui em mim, eu sei que eu sou, porque eles são. E eu sei que não faz mal eu ir do filosofo ao neurocientista, do yogi a financista, do lama ao matemático. Eu sei, porque todos nos somos plurais. Eu sei por que na nossa busca nos estamos sempre acompanhados. Eu me senti inteiramente presente e grata e feliz, porque eu me senti ligada a todos eles. Eu senti que eu sou tudo isso. Que eu estou apoiada na minha busca. E apoiando a busca deles. E no meio de tanta gratidão e alegria fica fácil estar presente.
sexta-feira, novembro 07, 2008
Meu amigo Lama
Em Mcleod Ganj, na India, me pediram um favor. Trazer uma roupa de Lama para um Lama tibetano que mora em Londres. Eu trouxe. Marcamos um encontro perto da Lse, na frente da estação de Holborn e eu fui andando curiosa de como ele estaria vestido. Trocamos mensagens de texto, e eu achei engraçado ter mensagens de um Lama no meu celular. Coisa boba, mas quando se conhece pessoas assim diferentes, de quem temos expectativas não assumidas, os eventos mais banais parecem curiosos. Cheguei na estação nåo o vi. E ele me encontrou, ele de roupa de monge, vermelha e amarela ( como ele diz), para mim mais vinho e laranja. Tão bonita é a visão dessas cores intensas. Andamos até o Hot Gossip cafe, onde as pessoas o conheciam. Eu entreguei a roupa, tomamos chá, eu fiz mil perguntas e partimos. No caminho, de volta a estação, um bêbado, "homeless", meio caindo, ao ver o Lama, levantou, se esticou, se arrumou, colocou as mãos em "Namaste" e sorriu baixando a cabeça em respeito. Lama o saudou de volta, e eu fiquei comovida porque eu esperava isso do Lama, mas nao do bebado (dos preconceitos nao percebidos). Nos encontraríamos de novo.
O segundo encontro foi na minha casa. Lama Lobsang veio para jantar. Eu o apresentei ao Haiko , meu marido, e a Alondra minha flatmate e amiga de longa data. Jantamos, e perguntamos mais coisas sobre budismo. Haiko falou sobre neurociência e Lama Lobsang disse ter ficado muito feliz pois ele sempre tinha querido ter um amigo neuro-cientista. Lama Lobsang como bom monge falava metaforicamente, dando voltas, mas sempre, sempre voltava ao exato ponto da nossa pergunta, que eu precipitada que sou sempre achava pelo começo da resposta que ele não tinha entendido. Mas ainda assim, era mais fácil entender Lama Lobsang do que os monges e Lamas na Índia, talvez porque ele já estivesse acostumado com os ocidentais.
Ontem, eu acordei meio angustiada, algumas coisas não funcionando muito bem como eu queria. E recebi uma mensagem do Lama me convidando para ir almoçar na casa dele. Fui. Ele fez comida tibetana para mim, tomamos um montão de chá, e desta vez eu meio angustiada, não fiz mais perguntas tão teóricas. Eu falei da minha angustia de me sentir dividida pela beleza da filosofia budista, pelo mundo da ciência social, pela visão da minha yoga tântrica, pelos meus ideais de justiça social. Eu estava meio perdida. Falei com jeito, que era difícil para mim, de verdade entender o budismo a fundo. Eu entendia racionalmente algumas coisas. No entanto, sendo ocidental, me parecia de certa forma uma negação da nossa individualidade, das nossas emoções, do ego. Falei para ele sobre a importância do ego na evolução da especie. Enfim, fui ali falando.
Ele me ouviu, e me fez lembrar o que Dalai Lama tinha dito em McLeod. Uma das coisas que ele disse foi para as pessoas não abandonarem suas tradições, suas raizes, suas religiões. Para tomarem para si os ensinamentos do budismo que lhes fizessem sentido mas para não se tonarem budista. Eu tinha achado bonito isso la. Um pouco relacoes publicas, mas bonito. E Lama Lobsang falou disso num outro aspecto. Falou da dificuldade que é de rejeitar sua cultura seus valores, sua maneira de entender o mundo. Falou do self e das emoções, e na boca dele tudo é bem menos radical do que na minha mente.
De tudo que ele falou uma coisa me tocou mais. Eles falou dos inimigos. A importância de um inimigo. "Na verdade seu inimigo é o seu melhor amigo, pois ele lhe da a oportunidade de exercitar compaixão e paciência. Quem é seu amigo ou inimigo é impermanente. Os verdadeiros inimigos estão dentro de nos, e nos seguem não importa onde estejamos. E é preciso reconhece-los dentro de você. E a compaixão vira naturalmente."
E eu saí de lá não budista. Eu sai de lá acompanhada por ele. Eu saí de lá com ensinamentos que me fazem total sentido. E eu saí de lá pela primeira vez sem hesitar em como dizer tchau para um Lama. Eu o abracei, um verdadeiro e forte abraço. Quem sabe, reconhecendo a minha cultura, as minhas raizes. Eu me despedi de uma amigo.
O segundo encontro foi na minha casa. Lama Lobsang veio para jantar. Eu o apresentei ao Haiko , meu marido, e a Alondra minha flatmate e amiga de longa data. Jantamos, e perguntamos mais coisas sobre budismo. Haiko falou sobre neurociência e Lama Lobsang disse ter ficado muito feliz pois ele sempre tinha querido ter um amigo neuro-cientista. Lama Lobsang como bom monge falava metaforicamente, dando voltas, mas sempre, sempre voltava ao exato ponto da nossa pergunta, que eu precipitada que sou sempre achava pelo começo da resposta que ele não tinha entendido. Mas ainda assim, era mais fácil entender Lama Lobsang do que os monges e Lamas na Índia, talvez porque ele já estivesse acostumado com os ocidentais.
Ontem, eu acordei meio angustiada, algumas coisas não funcionando muito bem como eu queria. E recebi uma mensagem do Lama me convidando para ir almoçar na casa dele. Fui. Ele fez comida tibetana para mim, tomamos um montão de chá, e desta vez eu meio angustiada, não fiz mais perguntas tão teóricas. Eu falei da minha angustia de me sentir dividida pela beleza da filosofia budista, pelo mundo da ciência social, pela visão da minha yoga tântrica, pelos meus ideais de justiça social. Eu estava meio perdida. Falei com jeito, que era difícil para mim, de verdade entender o budismo a fundo. Eu entendia racionalmente algumas coisas. No entanto, sendo ocidental, me parecia de certa forma uma negação da nossa individualidade, das nossas emoções, do ego. Falei para ele sobre a importância do ego na evolução da especie. Enfim, fui ali falando.
Ele me ouviu, e me fez lembrar o que Dalai Lama tinha dito em McLeod. Uma das coisas que ele disse foi para as pessoas não abandonarem suas tradições, suas raizes, suas religiões. Para tomarem para si os ensinamentos do budismo que lhes fizessem sentido mas para não se tonarem budista. Eu tinha achado bonito isso la. Um pouco relacoes publicas, mas bonito. E Lama Lobsang falou disso num outro aspecto. Falou da dificuldade que é de rejeitar sua cultura seus valores, sua maneira de entender o mundo. Falou do self e das emoções, e na boca dele tudo é bem menos radical do que na minha mente.
De tudo que ele falou uma coisa me tocou mais. Eles falou dos inimigos. A importância de um inimigo. "Na verdade seu inimigo é o seu melhor amigo, pois ele lhe da a oportunidade de exercitar compaixão e paciência. Quem é seu amigo ou inimigo é impermanente. Os verdadeiros inimigos estão dentro de nos, e nos seguem não importa onde estejamos. E é preciso reconhece-los dentro de você. E a compaixão vira naturalmente."
E eu saí de lá não budista. Eu sai de lá acompanhada por ele. Eu saí de lá com ensinamentos que me fazem total sentido. E eu saí de lá pela primeira vez sem hesitar em como dizer tchau para um Lama. Eu o abracei, um verdadeiro e forte abraço. Quem sabe, reconhecendo a minha cultura, as minhas raizes. Eu me despedi de uma amigo.
sábado, outubro 25, 2008
Natalie no Afeganistao
Bom. A Natalie entrou no Afeganistao, assim como eu ja expliquei meio sem se preparar. Ja estava no Paquistao ha uns meses, e nada mais natural do que cruzar a fronteira, nao é mesmo? :) Só que dessa vez, ela nao podia ir sozinha, afinal o Taliban não permitia mulheres desaconpanhadas visitando o pais. A ideia dela entao, esperar na fronteira e entrar com algum ocidental que aparece com a mesma ideia. Eventualmente, apareceu Ian, un Ingles, uns 20 anos mais velho que ela.
Entraram, e logo no começo ja foi dificil arrumar lugar para dormir, pois ninguem queria hospedar ocidentais, por medo de ter problemas. Quando finalmente conseguiram arrumar um lugar para ficar, começaram a conversar sobre uma estoria que estava rondando o paquistao de um casal ocidental que tinha sido estuprado pelo Taliban enquanto visitavam o pais. Estavam debatendo se a estoria era verdadeira ou nao, quando de repente alguem comeca a esmurrar a porta. Os dois entram em panico, e o Ian, ja da o primeiro sinal do tipo de companhia que ele ia ser: se esconde no banheiro! Nath fica desesperada, pois como mulher nao deve abrir a porta. Continuam esmurrando a porta, ela gritando com Ian, ele dizendo que nao sai do banheiro. ela sem opção entao vai. Do lado de fora 6 soldados. Com armas, olhos bem negros, pintados embaixo... tentam forçar a porta, ela a segura com toda sua força... ela grita que é mulher, que eles nao podem entrar, que ela é turista. O " irmão" ta no banheiro, eles gritam que querem ver o passaporte. Ela fecha a porta dizendo que vai buscar. Coraçao batendo, encontra os passaportes, vai ao banheiro, mas Ian nao quer sair de la. Ela implora para ele ir entrega-los mas ele diz que nao. Entao, ela vai, e quando abre a porta, os 6 começam a gargalhar. Estavam tirando um sarro dos turistas. Ela. Bom, ela foi hang out com eles no outro lado da rua, e deixou o Ian para tras.
Segundo, Nath, o Taliban, são jovens que querem uma vida melhor, e ela não desgosta deles. São vitimas. Os mullah sim, eram aterrorizantes, mas o Taliban novinhos não. Perguntei se ela tinha ido ao famoso estadio onde as pessoas eram executadas. E ela me disse que sim. Foi levada para assistir um jogo de Buzkashi ( uma outras estoria para um outro post). Para isso fingiu ser jornalista, e teve a coragem, ou irresponsabilidade de levar uma maquina fotografica. Alguns Taliban posaram, outros tentaram chicotea-la. Ela saiu correndo.
Diante dessas estorias perguntei, mas Nath voce nao ficou com medo? Ela parou, pensou, e começou a contar. "Um dia eu tava com uns amigos Afegaos quando enfiei a mão na meu bolso e achei um pouco de maconha. Eu fiquei chocada, pois achei que ja tinha me livrado de tudo antes entrar no Afeganistao. Mas como contei aos Afegaos, eles resolveram que queriam fumar. Eu fiquei um pouco apreensiva, mas eles me garantiram que se subissimos os 1001 degraus, ficariamos num lugar onde se ve longe, e poderiamos perceber caso o Taliban se aproximasse. Subimos. E de fato de la via-se longe. Comecamos a fumar, e de repente eu entrei numa paranoia. E se isso for uma emboscada? E se formos pegos? E se eles forem pegos e contarem que fui que eu que tinha a maconha???Eu vou ser morta no Afeganistao!" Pediu para ir embora, desceram, entraram num carro e começaram a dirigir, entraram num campo de romãs e de repente o carro quebrou. Ian, como sempre foi o primeiro a se oferecer para ir procurar ajuda ( leia: sair dali). "E de repente, eu pensei 'what the fuck' eu estou com 4 Afegaos no meio de um campo de roma, sozinha no Afeganistao! " O unico momento de lucidez ( ou nao) da Nath foi quando ela tava "high" num campo de romãs no Afeganistao :) E ela teve medo, e disse aos Afegaos, que estava com medo, que nao fizessem nada com ela. Eles mandaram-na relaxar. E a levaram embora.
Para o Ian aquela noite tinha sido demais. Ele resolveu que queria ir embora. Nath, nao satisfeita, ja estava querendo visitar os territorios da Alianca do Norte. Com Ian deixando o pais, ela nao podia ficar. Pensou em colocar uma burca e ficar incognita. Seu amigo afegao pensou em deixa-la ficar em casa. Depois temeu pela vida de todos. E ela teve que partir a contragosto. 3 Dias depois os EUA atacaram o Afeganistao. Nath, estava perdida numa montanha no Paquistao, levou semanas para ficar sabendo.
Entraram, e logo no começo ja foi dificil arrumar lugar para dormir, pois ninguem queria hospedar ocidentais, por medo de ter problemas. Quando finalmente conseguiram arrumar um lugar para ficar, começaram a conversar sobre uma estoria que estava rondando o paquistao de um casal ocidental que tinha sido estuprado pelo Taliban enquanto visitavam o pais. Estavam debatendo se a estoria era verdadeira ou nao, quando de repente alguem comeca a esmurrar a porta. Os dois entram em panico, e o Ian, ja da o primeiro sinal do tipo de companhia que ele ia ser: se esconde no banheiro! Nath fica desesperada, pois como mulher nao deve abrir a porta. Continuam esmurrando a porta, ela gritando com Ian, ele dizendo que nao sai do banheiro. ela sem opção entao vai. Do lado de fora 6 soldados. Com armas, olhos bem negros, pintados embaixo... tentam forçar a porta, ela a segura com toda sua força... ela grita que é mulher, que eles nao podem entrar, que ela é turista. O " irmão" ta no banheiro, eles gritam que querem ver o passaporte. Ela fecha a porta dizendo que vai buscar. Coraçao batendo, encontra os passaportes, vai ao banheiro, mas Ian nao quer sair de la. Ela implora para ele ir entrega-los mas ele diz que nao. Entao, ela vai, e quando abre a porta, os 6 começam a gargalhar. Estavam tirando um sarro dos turistas. Ela. Bom, ela foi hang out com eles no outro lado da rua, e deixou o Ian para tras.
Segundo, Nath, o Taliban, são jovens que querem uma vida melhor, e ela não desgosta deles. São vitimas. Os mullah sim, eram aterrorizantes, mas o Taliban novinhos não. Perguntei se ela tinha ido ao famoso estadio onde as pessoas eram executadas. E ela me disse que sim. Foi levada para assistir um jogo de Buzkashi ( uma outras estoria para um outro post). Para isso fingiu ser jornalista, e teve a coragem, ou irresponsabilidade de levar uma maquina fotografica. Alguns Taliban posaram, outros tentaram chicotea-la. Ela saiu correndo.
Diante dessas estorias perguntei, mas Nath voce nao ficou com medo? Ela parou, pensou, e começou a contar. "Um dia eu tava com uns amigos Afegaos quando enfiei a mão na meu bolso e achei um pouco de maconha. Eu fiquei chocada, pois achei que ja tinha me livrado de tudo antes entrar no Afeganistao. Mas como contei aos Afegaos, eles resolveram que queriam fumar. Eu fiquei um pouco apreensiva, mas eles me garantiram que se subissimos os 1001 degraus, ficariamos num lugar onde se ve longe, e poderiamos perceber caso o Taliban se aproximasse. Subimos. E de fato de la via-se longe. Comecamos a fumar, e de repente eu entrei numa paranoia. E se isso for uma emboscada? E se formos pegos? E se eles forem pegos e contarem que fui que eu que tinha a maconha???Eu vou ser morta no Afeganistao!" Pediu para ir embora, desceram, entraram num carro e começaram a dirigir, entraram num campo de romãs e de repente o carro quebrou. Ian, como sempre foi o primeiro a se oferecer para ir procurar ajuda ( leia: sair dali). "E de repente, eu pensei 'what the fuck' eu estou com 4 Afegaos no meio de um campo de roma, sozinha no Afeganistao! " O unico momento de lucidez ( ou nao) da Nath foi quando ela tava "high" num campo de romãs no Afeganistao :) E ela teve medo, e disse aos Afegaos, que estava com medo, que nao fizessem nada com ela. Eles mandaram-na relaxar. E a levaram embora.
Para o Ian aquela noite tinha sido demais. Ele resolveu que queria ir embora. Nath, nao satisfeita, ja estava querendo visitar os territorios da Alianca do Norte. Com Ian deixando o pais, ela nao podia ficar. Pensou em colocar uma burca e ficar incognita. Seu amigo afegao pensou em deixa-la ficar em casa. Depois temeu pela vida de todos. E ela teve que partir a contragosto. 3 Dias depois os EUA atacaram o Afeganistao. Nath, estava perdida numa montanha no Paquistao, levou semanas para ficar sabendo.
terça-feira, outubro 21, 2008
Dos Viajantes do Mundo
Hoje eu quero falar da Natalie, Australiana que eu conheci em Rishikesh. Logo na primeira noite em que chegamos fomos jantar num pequeno restaurante Nepales a beira do Ganjes. O restaurante era todo feito de Bambu e havia uma mesa que contornava todas as paredes ( eu sei que nao ta muito bem explicado :). A volta dessa tabua havia almofadas. Chegamos cedo, o restaurante ainda estava vazio e pudemos escolher portanto, o lugar que se tornaria o nosso preferido: perto de uma arvore ( dentro do restaurante) e de frente ao Ganjes. Sentamo-nos e logo depois apareceu um casal de dread locks, roupas etnicas, bonitos, que nos cumprimentaram enquanto sentavam nao muito longes de nos. Nem sei como foi, mas de repente estavamos conversando, e logo em seguida mudamos-nos para bem perto deles. Natalie e Andras ( pronunciado Andrash). Ela Australiana e ele Hungaro.
Logo de cara eu fiquei fascinada por ela. Seu estilo, sua calma, seu jeito de falar. E eu de cara percebi que ela era uma pessoa com muitas estorias para contar... mas dessas pessoas que vive uma vida tão espetacular o tempo todo que já nem percebe mais o espetáculo da vida, afinal esses momentos que para nos parecem absolutamente fantasticos, sao para elas o dia-a-dia. Natalie era assim, tinha viajado o mundo por anos, e nem sabia muito bem há quantos anos viajava ou em quantos lugares tinha estado. Não é nem que ela achasse essas perguntas tolas, ela simplesmente não tinha parado para pensar. Ficamos amigas imediatamente. E eu perguntei tudo e mais um pouco nos dias que se seguiram.
Natalie viaja há uns 14 anos. Quando tinha 18 teve um namorado que tinha viajado o mundo afora, e ela adorava ouvi-lo falar dos lugares onde tinha estado. Num certo dia depois de muito ouvir, decidiu que ela ia ve-los tambem. Ia passar 3 meses viajando. E assim, nao mais que de repente os 3 meses viraram 3 anos. Como? "Eu ia indo, fazendo arte, crafts, ficando na casa das pessoas que eu conhecia pelo caminho, pegando carona...." E de fato, ela chegou a America do Sul de carona num yacht. Foi parar na Colombia, onde passou 8 meses. Arrumou um namorado, e saiu de la deportada por ter ficado alem do que era permitido no seu visto. Viajou grande parte da America do Sul. A Colombia continua sendo para ela, um dos seus lugares favoritos. E pelos colombianos ela tem um grande amor.
Depois desses 3 anos, ela voltou a Australia, e nunca mais ficou um ano inteiro em casa. Passava 6 meses em casa, 6 meses na Asia. Ja tinha estado na India dezenas de vezes, mas ela gostava mesmo era do Paquistão, onde tinha estado 6 vezes sozinha. "Como sozinha Nat? " As pessoas são maravilhosas no Paquistao, eu sempre sou acolhida nas suas casas!" "Voce nunca teve problemas ??? " Nao, eu adoro os paquistaneses".
A essa altura, eu ja meio brincando, pergunto a ela "e o Afeganistão? " Eu fui ao Afeganistão num visto do Taliban, um pouquinho antes do Afeganistao ser atacado." Ela nao podia entrar sozinha como mulher entao, ficou na fronteira esperando alguem que fosse entrar para entrar junto. E assim, ela entrou com um total desconhecido, num país onde mulher não tem la muitos direitos. " Nat, o que voce foi fazer la????" " Fui ver. Todo mundo dizia que as mulheres eram apedrejadas na rua, que isso e que aquilo e eu quis ir la ver se aquilo que aparecia na televisao era mesmo verdade". E oque ela viu? Bom isso fica para o proximo post, por que a visita dela ao Afeganistao é digna de um filme.
No entanto, sobre o que eu queria escrever nesse post, é sobre o sentimento que desperta em mim encontrar pessoas como a Natalie. Encontrar pessoas como ela me faz questionar a realidade do mundo que acreditamos existir, e do mundo que de fato existe. O perigo real, e esse que nos é imbutido. Eu mesma viajei a Bolivia, o Peru, o Marrocos sozinha contra todo tipo de conselho. Em todos os lugares eu me senti perfeitamente segura. Podemos debater é claro que o sentimento de segurança é abstrato. Mas será que estes reports também nao o são? É claro, que ela é meio maluca de se meter nesses lugares sozinha e sem muito preparo. Mas seria a vida dela de pura sorte? 14 anos de pura sorte? Ou será que no que muitos chamam de ingenuidade está a capacidade dela de realmente conhecer o outro? Não o outro que trabalha no hotel, mas o outro na sua casa, comer da sua comida, beber da sua agua. São perguntas. Eu nao tenho as respostas. O que eu sei, é que esses encontros, assim como as minhas viagens sempre me fazem perceber como o mundo que nos é pintado é muito distante do que deve ser o real.
terça-feira, outubro 14, 2008
Das Coisas Estranhas na Índia
Passamos uma semana em McLeod Ganj, vilarejo ao norte da Índia onde reside Sua Santidade Dalai Lama. Por total acaso, tivemos a sorte de chegar la para 5 dias de ensinamentos dele. Neste post no entanto, não vou escrever sobre isso, pois esse é uma tema que exige mais tempo. Quero escrever de um evento banal, e engraçado que aconteceu enquanto passeava pelos arredores de Dharamsala.
Enquanto viajei a Índia conheci muitas pessoas interessantes. Ainda quero muito falar delas. Em particular da Natalie, australiana que ha 14 anos viaja a Asia. Isso no entanto, também não e importante para esse post. O importante e que eu conheci em McLeod duas brasileiras logo no primeiro dia em que cheguei, Natasha e Julia, e que acabamos ficando amigas.
Numa certa noite, fui com Julia, ouvir uns dinamarqueses tocar violão. Fomos a um bar, e todos nos pegamos um instrumento de percussão para tocar ( alias esse é o problema dos instrumentos de percussão, qualquer pessoa acha que pode toca-los :). Quando o bar fechou, decidiu-se que iriamos a Bagshu, vilarejo vizinho, pois la os bares ficavam abertos até tarde( entenda-se alem das 10 da noite). Como Julia me garantiu que encontraríamos um Rikshaw mais tarde para voltar seguimos os músicos e fomos para o tal vilarejo vizinho. Chegamos em um bar repleto de Israelenses, alias a India é cheia deles, até fiquei na dúvida se haveria algum sobrando em Israel :) Tocavam, dançavam, cantavam, oque alias impediu os Dinamarqueses de tocarem. Sentamos-nos portanto, numa mesa e ficamos um tempo la ouvindo aquela barulheira. Imaginem : tudo que eh tipo de tambor, misturado com didjeredoo, violoes e instrumento de toda a sorte tocando juntos sem nenhum critério ou regente. Como eu tinha que acordar cedo para ir a Siribadhi, e a música era um terror, quando era mais ou menos 1 da manha resolvemos partir.
Naturalmente a essa hora não havia nenhum rikshaw, como eu já deveria ter desconfiado! Nos tão-pouco tínhamos lanterna, e o breu era total! Por sorte encontramos um grupo de australianos e resolvemos andar com eles de volta a McLeod Ganj. Eles também não tinham lanterna, mas em 7 ficamos mais tranqüilos. Começamos a andar, e de repente começamos a ouvir latidos que vinham de todos os lados. Eu que não me vacinei contra raiva comecei a ficar tensa. E de repente vários cachorros ( uns 30) começaram a aparecer de tudo que era lado, e a vir em nossa direção. Eu meio com medo que nos atacassem, não sabia nem o que fazer, nem o que pensar. Fiquei parada. Para minha surpresa, no entanto, eles não fizeram nada, ou melhor, eles nos rodearam, e começaram as nos acompanhar. No começo nos não entendemos nada. O que aqueles cachorros estavam fazendo ali? Mas eles foram andando conosco o tempo todo. Uns iam para frente, olhavam, latiam, voltavam, sem nunca nos deixar sem um circulo completo a nossa volta. Andaram conosco por uns 20 minutos. Quando estávamos finalmente chegando a McLeod pararam. Então, um único cachorro seguiu conosco mais um pouco, mas assim que os cachorros de McLeod começaram a latir, ele parou. Pronto, já tinham nos escoltado de volta. É acho que os cachorros na India também reconhecem os gringos :)
Enquanto viajei a Índia conheci muitas pessoas interessantes. Ainda quero muito falar delas. Em particular da Natalie, australiana que ha 14 anos viaja a Asia. Isso no entanto, também não e importante para esse post. O importante e que eu conheci em McLeod duas brasileiras logo no primeiro dia em que cheguei, Natasha e Julia, e que acabamos ficando amigas.
Numa certa noite, fui com Julia, ouvir uns dinamarqueses tocar violão. Fomos a um bar, e todos nos pegamos um instrumento de percussão para tocar ( alias esse é o problema dos instrumentos de percussão, qualquer pessoa acha que pode toca-los :). Quando o bar fechou, decidiu-se que iriamos a Bagshu, vilarejo vizinho, pois la os bares ficavam abertos até tarde( entenda-se alem das 10 da noite). Como Julia me garantiu que encontraríamos um Rikshaw mais tarde para voltar seguimos os músicos e fomos para o tal vilarejo vizinho. Chegamos em um bar repleto de Israelenses, alias a India é cheia deles, até fiquei na dúvida se haveria algum sobrando em Israel :) Tocavam, dançavam, cantavam, oque alias impediu os Dinamarqueses de tocarem. Sentamos-nos portanto, numa mesa e ficamos um tempo la ouvindo aquela barulheira. Imaginem : tudo que eh tipo de tambor, misturado com didjeredoo, violoes e instrumento de toda a sorte tocando juntos sem nenhum critério ou regente. Como eu tinha que acordar cedo para ir a Siribadhi, e a música era um terror, quando era mais ou menos 1 da manha resolvemos partir.
Naturalmente a essa hora não havia nenhum rikshaw, como eu já deveria ter desconfiado! Nos tão-pouco tínhamos lanterna, e o breu era total! Por sorte encontramos um grupo de australianos e resolvemos andar com eles de volta a McLeod Ganj. Eles também não tinham lanterna, mas em 7 ficamos mais tranqüilos. Começamos a andar, e de repente começamos a ouvir latidos que vinham de todos os lados. Eu que não me vacinei contra raiva comecei a ficar tensa. E de repente vários cachorros ( uns 30) começaram a aparecer de tudo que era lado, e a vir em nossa direção. Eu meio com medo que nos atacassem, não sabia nem o que fazer, nem o que pensar. Fiquei parada. Para minha surpresa, no entanto, eles não fizeram nada, ou melhor, eles nos rodearam, e começaram as nos acompanhar. No começo nos não entendemos nada. O que aqueles cachorros estavam fazendo ali? Mas eles foram andando conosco o tempo todo. Uns iam para frente, olhavam, latiam, voltavam, sem nunca nos deixar sem um circulo completo a nossa volta. Andaram conosco por uns 20 minutos. Quando estávamos finalmente chegando a McLeod pararam. Então, um único cachorro seguiu conosco mais um pouco, mas assim que os cachorros de McLeod começaram a latir, ele parou. Pronto, já tinham nos escoltado de volta. É acho que os cachorros na India também reconhecem os gringos :)
terça-feira, outubro 07, 2008
Macaco- parte 1
Eu sempre gostei de macaco. Mais precisamente dos " Great Apes" Os gorilas, chimpanzes, os bonobos, orangutangos e ate dos gibons. Tive que ler muitos livros na minhas aulas de evolução sobre primatas, e é claro inevitåvelmente sobre a Jane Goodall, Diane Fossey, Franz de Wall, dentre outros que estudam e viveram entre os macacos. Ja assisti varios filmes, sobre os apes, sobre macacos, mandris ( sera que e esse o plural de mandril?), e quase sempre se aprende que nao se deve mostrar os dentes, ou olhar muito nos olhos deles. Eu sabia tudo, mas quando estive cara a cara com um, esqueci de tudo isso.
Pegamos um onibus, de New Delhi para Haridwar. Bom, pegar um onibus ja é em si uma grande saga, pois os motoristas de rikshaw sempre te enrolam. Convencem voce a ir num escritorio para turistas do governo, que obviamente nao é governamental, mudam o preço no caminho, não te levam onde voce quer ir, e ainda inventam um milhão de estórias. Depois de pegarmos 2 Rikshaws para chegar a um lugar do lado de onde estavamos, depois de visitarmos umas agencias, explicar que nao queriamos taxi, que queriamos a rodoviaria, conseguimos depois de horas chegar finalmente a ISBT (rodoviaria) . De fato, os onibus locais eram um lixo . E por isso todos os indianos que passavam por nos queriam nos levar a uma agencia "governamental". Nao precisa mais de uma visita a uma delas, para resolver nao seguir mais ninguem.
Eventualmente achamos uma pequena agencia, e entramos. O homem nos vendeu passagem para um onibus "deluxe" para ir a Haridwar, nos garantiu que seria facilimo chegar de la a noite a rishikesh, e nos disse que o onibus partia em meia hora. Compramos a passagem, e sentamos para esperar. A tal meia hora virou uma, e depois de sermos levados ao tal onibus ( que nao tinha nada de luxuoso), tivemos que esperar mais uma hora ate o onibus lotar.
Eu era a unica mulher no onibus e eu e o haiko os unicos nao-indianos. O onibus era imundo, o banco ou nao abaixava, ou nao subia :) O motor fazia um barulho ensurdecedor, e eu mesmo de tampao de ouvido nao conseguia acreditar na barulheira. Nas estradas como eu ja disse, todos buzinam o tempo todo, se ultrapassam, vao na contramao, aparece vaca, touro, cachorro e o que mais se puder imaginar. umas 8 horas de viagem para percorer uns 300 km. Eh tudo meio assim. Dentro do onibus cada um com seu celular tocando uma musica indiana diferente, e sem fones de ouvido. Eu morrendo de vontade de fazer xixi, e naturalmente o onibus nao parando.
Parou eventualmente, depois de umas 6 horas no Cheetal Deer Park, e fomos finalmente ao banheiro e comer. Pedi uns chapatis com manteiga, e haiko pediu nan. Nada de muito elaborado para nao passar mal ja no primeiro dia :) Sentamos-nos e enquanto comiamos, um macaco enorme apareceu. Eu vi ele chegando, andando devagar, e de repente subiu na minha mesa. Olhou bem no meu olho e bem devagar puxou o meu prato. EU fiquei enfeiticada, esqueci tudo que eu devia fazer e fiquei so olhando. Ele me olhou, acho que medindo a minha reacao, minha respiracao e coracao pareciam ter parado, ai ele pegou um chapati por vez, com sua maozinha pequena, e eu so olhei. Nunca tinha estado tao perto de um macaco. Ele estava quase me tocando. Depois que ele pegou todos, e me deixou com oque estava na minha mao, partiu. Ficamos ali, os dois perplexos, totalmente sem palavras. Tive um acesso de riso. E percebi que eles nao foram na mesa de nenhum indiano so na nossa. Na India ate os macacos reconhecem os gringos!
segunda-feira, outubro 06, 2008
A India
Cheguei da Índia ontem. E nem sei por onde começar. A Índia é intensa. Ela desperta todas as suas emoções, da loucura a completa paz. Seus sentidos são estimulados o tempo todo, e quase tudo é diferente. Os cheiros, os costumes, as pessoas, a sujeira, a beleza, as cores, os bichos, e o incrível barulho. Tudo na Índia eh intenso. E os encontros, ah os encontros... eles são profundos.
Ha momentos de completo desespero, com um milhão de carros, bicicletas, ônibus, rikshaws?, caminhões todos buzinando ao mesmo tempo. Buzinas de todos os tipos, todos os tons, todas as melodias... e elas tocam, gritam, esperneiam o tempo todo... e ao poucos , com os dias passando você vai se esquecendo delas, nem se quer presta mais atenção, e elas parecem perder sua função.
Na verdade, eu não posso dizer A Índia, eh quase tao vago como dizer o Brasil. Afinal, existe mil Índias dentro da Índia. E eu só visitei duas delas. Rishikesh e Dharamsala ( Mc Leod Ganj). As duas ao norte perto do país. Rishikesh é considerada a capital da Yoga no mundo, e Dharamsala, mais precisamente McLeod Ganj, é a cidade onde o governo no exílio do Tibete está. A primeira uma cidade Hindu, enquanto a segunta é mais Budista ( graças ao tibetanso que lá estão).
Eu pretendo escrever em detalhes, contar das mil estorias que vivi na Índia. Vou escrever dos macacos, dos cachorros, do astrólogo/médium que eu conheci, da cerimonia Hindu elaboradissima feita para mim num templo a beira do Ganges, da Australiana que viaja ha 14 anos a Asia vivendo 6 meses na Austrália 6 meses fora, da emoção que foi ver SS Dalai Lama de pertinho varias vezes, de ter escutado seus ensinamentos, penado para entender de fato o budismo, das conversas com os lamas, ao encontro privado com SS Karmapa.
Enfim, a viagem foi intensa, foi cansativa, e foi maravilhosa. Conheci pessoas incríveis de quem ainda quero escrever. Se antes eu estava me sentindo meio sem assunto, agora os assuntos sao demais. Pois na India é tudo assim: tudo em abundancia.
quinta-feira, setembro 18, 2008
O Bolo
Eu sei que faz um tempão que eu não escrevo, e de fato eu tenho um milhão de coisas para contar. No entanto, é facílimo de um milhão de coisas virar nada :) Estive um mês na Romênia, e contrariando o meu ultimo post viajo sim amanha para a India.
Neste post no entanto, quero falar de um momento bonito e singelo, que eu tive estes dias enquanto voluntariava na Amrita, loja que pertence a escola de Yoga. Estava eu la tentando aprender a tocar o tibetano "singing bowl" quando uma senhora muito velha entra na loja. Fui ajudá-la a se acomodar e depois deixei que ela ficasse olhando os livros a vontade.
Depois de quase uma hora ela fez sua escolha e me entregou os 3 livros que queria ler. Livros sobre budismo, e mestres nos Himalaias. Contou -me num sotaque fortíssimo que os livros pareciam ser interessantíssimos. Expliquei que eu ainda não os tinha lido, e curiosa como sempre perguntei de onde ela era.
Ela respirou fundo, me olhou bem dentro dos olhos, e disse "eu me sinto uma cidadã do mundo. Eu nasci na polônia, mas na época da guerra viramos refugiados ". Perguntei se ela era Judia, mas ela me explicou que nao ( oque me fez relembrar que muito mais gente sofreu), que seu pai era médico e como se opunha ao que estava acontecendo tiveram que se exilar. A Senhora era velha, falava com dificuldade e doçura e eu comecei imediatamente, mais uma vez, a me sentir entrando na memoria de alguém, num outro tempo, numa outra possibilidade.
Foram para Rússia, não tinham dinheiro, tudo difícil, guerra para tudo que é lado. Depois para a Palestina, depois para o Ira. E eu que tenho tanto fascínio pelo Irã aproveitei para perguntar a senhora o que ela tinha achado de la.
Os olhos dela respiraram fundo, se distanciaram, olharam para dentro, como se ela resolvesse voltar até lá, naquele tempo, visitar um lugar deixado há muito, muito tempo. E aos poucos ela devagar começou a me contar.
" Eu gosto muito dos Iranianos. Eu me lembro, eu pequena, nos não tínhamos dinheiro e minha mãe resolveu me levar a Tehran para tomar um copo de leite num café. Havia uma variedade de bolos na vitrine, mas nos não tínhamos dinheiro para compra-los. Sentamos numa mesa para tomar o leite, e havia um senhor numa outra mesa. De repente ele desapareceu. E ao mesmo tempo que ele desapareceu, o garçom apareceu com um pedaço de bolo numa bandeja. O Senhor tinha me visto, uma menininha querendo o bolo em segredo, e adivinhando o meu desejo, ele o comprou para mim. Para não nos deixar envergonhadas partiu antes mesmo que o bolo chegasse a nossa mesa."
Ela sorriu, tocada, visitando aquele momento com cuidado, olhando aquele café, a sua infância, dividindo comigo aquele momento precioso. E eu estava lá também imaginando a cor da mesa, o bolo, a menina de vestidinho, a alegria, e já me antecipando imaginava o doce na boquinha da polonesa, saboreando cada pedaço, dividindo com a mãe,a alegria nos seus olhinhos de criança...quando ela continuou.
" Minha mãe ficou comovida, mas disse não, ela não podia aceitar. E enquanto eu te conto isso me da um nó na garganta. Por que aquele momento foi um dos mais bonitos da minha infância, aquele senhor Iraniano viu que eu era uma menininha e quis me deixar feliz. E é assim que eu penso no Irã e Iranianos com o rosto daquele senhor que quis me trazer felicidade."
Eu fiquei tão tocada, imaginando a vontade que a pequena polonesa devia estar de provar aquele bolo. No entanto percebi que na sua memoria ficaram duas lembranças muito mais fortes: a dignidade da sua mãe, e a bondade do senhor que quis trazer-lhe felicidade. E ficou claro que o bolo era o de menos. A memória da dignidade da mãe e a bondade, e compaixão do desconhecido são com certeza memórias mais doces, mais profundas e mais duradouras.
Neste post no entanto, quero falar de um momento bonito e singelo, que eu tive estes dias enquanto voluntariava na Amrita, loja que pertence a escola de Yoga. Estava eu la tentando aprender a tocar o tibetano "singing bowl" quando uma senhora muito velha entra na loja. Fui ajudá-la a se acomodar e depois deixei que ela ficasse olhando os livros a vontade.
Depois de quase uma hora ela fez sua escolha e me entregou os 3 livros que queria ler. Livros sobre budismo, e mestres nos Himalaias. Contou -me num sotaque fortíssimo que os livros pareciam ser interessantíssimos. Expliquei que eu ainda não os tinha lido, e curiosa como sempre perguntei de onde ela era.
Ela respirou fundo, me olhou bem dentro dos olhos, e disse "eu me sinto uma cidadã do mundo. Eu nasci na polônia, mas na época da guerra viramos refugiados ". Perguntei se ela era Judia, mas ela me explicou que nao ( oque me fez relembrar que muito mais gente sofreu), que seu pai era médico e como se opunha ao que estava acontecendo tiveram que se exilar. A Senhora era velha, falava com dificuldade e doçura e eu comecei imediatamente, mais uma vez, a me sentir entrando na memoria de alguém, num outro tempo, numa outra possibilidade.
Foram para Rússia, não tinham dinheiro, tudo difícil, guerra para tudo que é lado. Depois para a Palestina, depois para o Ira. E eu que tenho tanto fascínio pelo Irã aproveitei para perguntar a senhora o que ela tinha achado de la.
Os olhos dela respiraram fundo, se distanciaram, olharam para dentro, como se ela resolvesse voltar até lá, naquele tempo, visitar um lugar deixado há muito, muito tempo. E aos poucos ela devagar começou a me contar.
" Eu gosto muito dos Iranianos. Eu me lembro, eu pequena, nos não tínhamos dinheiro e minha mãe resolveu me levar a Tehran para tomar um copo de leite num café. Havia uma variedade de bolos na vitrine, mas nos não tínhamos dinheiro para compra-los. Sentamos numa mesa para tomar o leite, e havia um senhor numa outra mesa. De repente ele desapareceu. E ao mesmo tempo que ele desapareceu, o garçom apareceu com um pedaço de bolo numa bandeja. O Senhor tinha me visto, uma menininha querendo o bolo em segredo, e adivinhando o meu desejo, ele o comprou para mim. Para não nos deixar envergonhadas partiu antes mesmo que o bolo chegasse a nossa mesa."
Ela sorriu, tocada, visitando aquele momento com cuidado, olhando aquele café, a sua infância, dividindo comigo aquele momento precioso. E eu estava lá também imaginando a cor da mesa, o bolo, a menina de vestidinho, a alegria, e já me antecipando imaginava o doce na boquinha da polonesa, saboreando cada pedaço, dividindo com a mãe,a alegria nos seus olhinhos de criança...quando ela continuou.
" Minha mãe ficou comovida, mas disse não, ela não podia aceitar. E enquanto eu te conto isso me da um nó na garganta. Por que aquele momento foi um dos mais bonitos da minha infância, aquele senhor Iraniano viu que eu era uma menininha e quis me deixar feliz. E é assim que eu penso no Irã e Iranianos com o rosto daquele senhor que quis me trazer felicidade."
Eu fiquei tão tocada, imaginando a vontade que a pequena polonesa devia estar de provar aquele bolo. No entanto percebi que na sua memoria ficaram duas lembranças muito mais fortes: a dignidade da sua mãe, e a bondade do senhor que quis trazer-lhe felicidade. E ficou claro que o bolo era o de menos. A memória da dignidade da mãe e a bondade, e compaixão do desconhecido são com certeza memórias mais doces, mais profundas e mais duradouras.
quarta-feira, julho 30, 2008
Ironias..
Ontem, aconteceu uma coisa muito engraçada. Sai de casa com minha prima para encontrar uma amiga la na beira do Tamisa. Depois de um certo desencontro, certo stress e de nos perdermos um pouco, resolvemos caminhar ao inves de ir ao ta bar. Começamos a caminhar, em direção a ponte de "vauxhall" ( não sei se esse e o nome da ponte), e quando estávamos quase chegando perto dela para cruzar para o lado norte de Londres, fomos abordadas por um senhor.
O senhor estava vestido de terno muito alinhado, xadrez, em vários tons de verdes, lenço no bolso, e falava com alguem pelo telefone. Achamos que queria uma informação e paramos. Ele para la de galanteador, quis saber de onde eramos. Contei que eramos brasileiras, e ele me pediu para " educa-lo" sobre o brasil. Naturalmente, ele nao esperava que eu fosse responder seriamente, pois assim que comecei a contar um pouco sobre a historia e colonização do brasil ele mudou o assunto para a beleza das brasileiras. Minha prima, queria fugir na primeira rua, mas eu como sempre, achei que o coitado devia ser solitário e resolvi ficar conversando com ele, ou melhor deixando ele falar.
E ele foi falando, teatralmente, tirou um lenco do paleto, fingiu umas lagrimas de emocao.. e eu tentando nao rir, e ao meu lado a minha prima estava absolutamente muda. De repente ele me perguntou por que eu falava ingles bem, e quando eu respondi que tinha estudado no eua, ele quis saber o que. Contei que era antropologia, e ele mais uma vez me pediu para"educa-lo". O que significava a palavra? Eu nesse momento ja me sentindo na pegadinha do faustao expliquei que antropologia, queria dizer estudo do homem. Uma ma escolha de palavras pois o velho, respirou fundo, com enorme prazer tirou um lenco branco, deu uma girada nele e disse " perfeito porque eu sou homem!". Tentei explicar que eu queria dizer humanidade mas a essa altura o homem que de comeco nao era dos mais contidos se liberou de vez. E ele ia falando, e ia abordando a minha prima que timida por natureza permanecia muda, e eu ia tentando guinar a conversa para uma coisa seria. naturalmente sem exito.
Quando chegamos quase no meio da ponte ele interrompeu o que eu dizia para dizer que tinha conhecido muitas pessoas que ja tinham pulado daquela ponte naquele lugar. "Pronto", disse minha prima, "ou ele pula, ou ele nos joga". Eu estava mais confiante, afinal ele era velho, como ele mesmo nao deixava de lembrar, tinha 73 anos, bem vividos, uma curiosidade de vida, uma vontade de viver. As pessoas, que passavam por nos iam nos olhando intensamente, o que faz com que eu pense que ele talvez seja uma lenda viva daquela regiao. Quando perguntei seu nome, ele me disse " no underground eu sou conhecido como o wizzard" e fora dele perguntei eu? " freddie". E porque Wizzard? " Por que eles querem saber como eu faco dinheiro". Eu naturalmente nao fiz questao de saber, mesmo porque a esta altura estavamos chegando do outro lado da ponte. E ele de repente tentou nos beijar. Um beijo no dedo dele, meio melado, vindo em minha direcao e eu disse que nao. Ele tentou tocar o dedo na minha prima que desesperadamente resistiu. Ele foi ficando tao insistente, que quando passaram 3 garotos do meu lado, agarrei- me a eles e pedi que por favor nos salvassem. O wizzard ficou parado no sinal. do outro lado da rua, como uma pintura, um dom juan meio decrepito.. E ele dizia insistentemente, "it is fate, we were meant to meet!!! It is god who put us together!!!!
Virei para agradecer o meus salvadores e vi que eles carregavam no peito um placa escrita jesus cristo. Nao quis perguntar nada, mas logo eles se identificaram como missionarios. Pergunta vai, pergunta vem, e eles vinham de Utah, e eu nao pude conter minha curiosidade " Mormons?" Sim! Tirou um cartao e me entregou. Eram gentis, mas a Ironia era tamanha que eu tive que me controlar para nao rir. Se o Wizzard tinha razao e foi deus que o colocou no nosso caminho, quem sera que mandou os mormons para nos salvar?
O senhor estava vestido de terno muito alinhado, xadrez, em vários tons de verdes, lenço no bolso, e falava com alguem pelo telefone. Achamos que queria uma informação e paramos. Ele para la de galanteador, quis saber de onde eramos. Contei que eramos brasileiras, e ele me pediu para " educa-lo" sobre o brasil. Naturalmente, ele nao esperava que eu fosse responder seriamente, pois assim que comecei a contar um pouco sobre a historia e colonização do brasil ele mudou o assunto para a beleza das brasileiras. Minha prima, queria fugir na primeira rua, mas eu como sempre, achei que o coitado devia ser solitário e resolvi ficar conversando com ele, ou melhor deixando ele falar.
E ele foi falando, teatralmente, tirou um lenco do paleto, fingiu umas lagrimas de emocao.. e eu tentando nao rir, e ao meu lado a minha prima estava absolutamente muda. De repente ele me perguntou por que eu falava ingles bem, e quando eu respondi que tinha estudado no eua, ele quis saber o que. Contei que era antropologia, e ele mais uma vez me pediu para"educa-lo". O que significava a palavra? Eu nesse momento ja me sentindo na pegadinha do faustao expliquei que antropologia, queria dizer estudo do homem. Uma ma escolha de palavras pois o velho, respirou fundo, com enorme prazer tirou um lenco branco, deu uma girada nele e disse " perfeito porque eu sou homem!". Tentei explicar que eu queria dizer humanidade mas a essa altura o homem que de comeco nao era dos mais contidos se liberou de vez. E ele ia falando, e ia abordando a minha prima que timida por natureza permanecia muda, e eu ia tentando guinar a conversa para uma coisa seria. naturalmente sem exito.
Quando chegamos quase no meio da ponte ele interrompeu o que eu dizia para dizer que tinha conhecido muitas pessoas que ja tinham pulado daquela ponte naquele lugar. "Pronto", disse minha prima, "ou ele pula, ou ele nos joga". Eu estava mais confiante, afinal ele era velho, como ele mesmo nao deixava de lembrar, tinha 73 anos, bem vividos, uma curiosidade de vida, uma vontade de viver. As pessoas, que passavam por nos iam nos olhando intensamente, o que faz com que eu pense que ele talvez seja uma lenda viva daquela regiao. Quando perguntei seu nome, ele me disse " no underground eu sou conhecido como o wizzard" e fora dele perguntei eu? " freddie". E porque Wizzard? " Por que eles querem saber como eu faco dinheiro". Eu naturalmente nao fiz questao de saber, mesmo porque a esta altura estavamos chegando do outro lado da ponte. E ele de repente tentou nos beijar. Um beijo no dedo dele, meio melado, vindo em minha direcao e eu disse que nao. Ele tentou tocar o dedo na minha prima que desesperadamente resistiu. Ele foi ficando tao insistente, que quando passaram 3 garotos do meu lado, agarrei- me a eles e pedi que por favor nos salvassem. O wizzard ficou parado no sinal. do outro lado da rua, como uma pintura, um dom juan meio decrepito.. E ele dizia insistentemente, "it is fate, we were meant to meet!!! It is god who put us together!!!!
Virei para agradecer o meus salvadores e vi que eles carregavam no peito um placa escrita jesus cristo. Nao quis perguntar nada, mas logo eles se identificaram como missionarios. Pergunta vai, pergunta vem, e eles vinham de Utah, e eu nao pude conter minha curiosidade " Mormons?" Sim! Tirou um cartao e me entregou. Eram gentis, mas a Ironia era tamanha que eu tive que me controlar para nao rir. Se o Wizzard tinha razao e foi deus que o colocou no nosso caminho, quem sera que mandou os mormons para nos salvar?
sábado, julho 26, 2008
A vida
Eu sei que faz muito tempo que eu não escrevo mas são tantas as coisas que tem acontecido, que quando eu penso em escrever fico sem saber no que focar. Mal de quem passa muito tempo sem falar nada :) No entanto, esse período de digestão dos meus sentimentos talvez tenha sido importante. Minha avó, tias, e prima estão aqui em Londres, eu estive na Grécia por 10 dias com elas na semana passada, estou indo para Romenia na próxima semana, e desisti de ir a India e ao Nepal em setembro. Não por falta de vontade, mas por não poder fazer tudo já que eu escolhi ir para a Romênia passar o mês num acampamento de Yoga. E tem Yoga na Romênia?? Tem. E eh sobre isso que eu quero escrever hoje. Sobre o acampamento de Yoga na Inglaterra onde fui passar uma semana faz mais ou menos um mês.
Eu decidi ir a este tal acampamento no ultimo minuto. Tinha tido uma semana difícil, ou melhor, um ano cheio de reviravoltas, e quando eu angustiadíssima liguei para o meu professor de Yoga ele me perguntou porque eu não me juntava a eles no acampamento de Yoga. Eu nem sabia do acampamento, fazia tempos que nem estava indo a Yoga, mas eu estava tao desesperada que aceitei na hora, aceitei embarcar numa viagem no dia seguinte. Depois de horas de mudança de opinião, as 11:30 da noite do Domingo ficou decidido que eu iria para o Ashram no dia seguinte as 7 da manha.
Eu acordei nervosa, ansiosa, perdida, e sem vontade de ir. Tinha medo de me sentir totalmente fora de lugar, presa sem acreditar em nada, num lugar cheio de pessoas diferentes de mim. Coloquei minha mochila nas costas, e decidi que iria, assim como se fosse fazer trabalho de campo, como se fosse para uma experiencia antropológica.
Eu me juntei ao acampamento de yoga e meditação não inteiramente aberta a ele, mas tambem nao totalmente fechada. Eu fui meio assim por acaso e logo no primeiro dia algo aconteceu. Eu que sempre analiso rituais, simbolismos, comportamento social, talvez na tentativa de me afastar do evento, eventualmente me abandonei. Isso aconteceu num momento que dançamos juntos de olhos fechados. Eu dancei e enquanto eu dançava, e sentia as pessoas a minha volta, eu transbordei em lagrimas, em "energia" que eu não conseguia entender. Pela primeira vez nem tentei. E de repente, eu senti como se estivesse reencontrando com partes minhas que eu tinha perdido em algum lugar.
Aos poucos eu fui sendo reapresentada a criança, a mulher, a artista, a musicista etc.. Elas estavam la, mesmo eu tendo lutado tao fortemente contra elas, elas continuavam la, pedindo para sair, para respirar, para vir a tona. E eu percebi que eu nem sabia quando, ou como, ou por que eu tinha resolvido ser um dia apenas a cientista social. Eu tinha por alguma razao rejeitado a tudo que eu sou sem nem saber direito o porque. E de repente, me pareceu tao claro o porque eu tinha ficado doente. O porque eu tinha lutado organicamente contra meu cerebro. E eu senti a musica em mim, em cada celula, assim como eu nao havia sentido em muito tempo. Eu senti a perfeicao daquilo tudo, o ritmo, a harmonia, um total sentido.
Os dias que se seguiram foram importantes, as meditacoes, as sessoes de Yoga, a vida comunal, mas eu guardo o primeiro dia como o mais importante. Durante a semana, eu tive todos os tipos de pensamentos, experiencias, sentimentos, e no final eu me senti como se tivesse completado um circulo. Eu tinha comecado a constuir uma pontezinha entre as partes tao segregadas de mim.
Eu eu mudei em muitos aspectos e mudanca nao e sempre tao facil. Eu continuo me sentindo espantada com todas essas coisas novas dentro de mim que eu nao entendo direito. Eu sinto um amor enorme pelas pessoas a volta. Eh claro que eu ainda analiso muito, ainda tenho muitas duvidas. No entanto, eu sinto que o acampamento de yoga, foi o apice de um processo que comecou um ano atras com a minha doenca, e de ser apresentada ao Yoga como caminho e nao apenas posturas. O acampamento foi parte desse acordar, desse "wake up call" para me trazer de volta a viver a vida, porque enquanto eu ficava so assistindo e analisando eu estava aos poucos matando tudo o que eu sou.
Eu decidi ir a este tal acampamento no ultimo minuto. Tinha tido uma semana difícil, ou melhor, um ano cheio de reviravoltas, e quando eu angustiadíssima liguei para o meu professor de Yoga ele me perguntou porque eu não me juntava a eles no acampamento de Yoga. Eu nem sabia do acampamento, fazia tempos que nem estava indo a Yoga, mas eu estava tao desesperada que aceitei na hora, aceitei embarcar numa viagem no dia seguinte. Depois de horas de mudança de opinião, as 11:30 da noite do Domingo ficou decidido que eu iria para o Ashram no dia seguinte as 7 da manha.
Eu acordei nervosa, ansiosa, perdida, e sem vontade de ir. Tinha medo de me sentir totalmente fora de lugar, presa sem acreditar em nada, num lugar cheio de pessoas diferentes de mim. Coloquei minha mochila nas costas, e decidi que iria, assim como se fosse fazer trabalho de campo, como se fosse para uma experiencia antropológica.
Eu me juntei ao acampamento de yoga e meditação não inteiramente aberta a ele, mas tambem nao totalmente fechada. Eu fui meio assim por acaso e logo no primeiro dia algo aconteceu. Eu que sempre analiso rituais, simbolismos, comportamento social, talvez na tentativa de me afastar do evento, eventualmente me abandonei. Isso aconteceu num momento que dançamos juntos de olhos fechados. Eu dancei e enquanto eu dançava, e sentia as pessoas a minha volta, eu transbordei em lagrimas, em "energia" que eu não conseguia entender. Pela primeira vez nem tentei. E de repente, eu senti como se estivesse reencontrando com partes minhas que eu tinha perdido em algum lugar.
Aos poucos eu fui sendo reapresentada a criança, a mulher, a artista, a musicista etc.. Elas estavam la, mesmo eu tendo lutado tao fortemente contra elas, elas continuavam la, pedindo para sair, para respirar, para vir a tona. E eu percebi que eu nem sabia quando, ou como, ou por que eu tinha resolvido ser um dia apenas a cientista social. Eu tinha por alguma razao rejeitado a tudo que eu sou sem nem saber direito o porque. E de repente, me pareceu tao claro o porque eu tinha ficado doente. O porque eu tinha lutado organicamente contra meu cerebro. E eu senti a musica em mim, em cada celula, assim como eu nao havia sentido em muito tempo. Eu senti a perfeicao daquilo tudo, o ritmo, a harmonia, um total sentido.
Os dias que se seguiram foram importantes, as meditacoes, as sessoes de Yoga, a vida comunal, mas eu guardo o primeiro dia como o mais importante. Durante a semana, eu tive todos os tipos de pensamentos, experiencias, sentimentos, e no final eu me senti como se tivesse completado um circulo. Eu tinha comecado a constuir uma pontezinha entre as partes tao segregadas de mim.
Eu eu mudei em muitos aspectos e mudanca nao e sempre tao facil. Eu continuo me sentindo espantada com todas essas coisas novas dentro de mim que eu nao entendo direito. Eu sinto um amor enorme pelas pessoas a volta. Eh claro que eu ainda analiso muito, ainda tenho muitas duvidas. No entanto, eu sinto que o acampamento de yoga, foi o apice de um processo que comecou um ano atras com a minha doenca, e de ser apresentada ao Yoga como caminho e nao apenas posturas. O acampamento foi parte desse acordar, desse "wake up call" para me trazer de volta a viver a vida, porque enquanto eu ficava so assistindo e analisando eu estava aos poucos matando tudo o que eu sou.
domingo, maio 18, 2008
Fora de Casa
Conheci uma pintora esses dias. Uma pintora Iraniana. "Pintora mesmo!" meu amigo me disse ao apresentá-la. Irã que para mim é tão querido, por seus filmes, historia, e pelas pessoas que eu conheci de la. Uma delas, em particular, que me faz muita falta é a minha amiga Sara.
Conheci a Sara, anos atrás quando eu ainda morava e estudava em NY. Se eu nao me engano, foi dentro de um trem, eu conversava em francês com minha roomate, e ela nos abordou pois adorava francês. Por coincidência, estudávamos na mesma faculdade, ela jornalismo e francês, e eu cinema e musica. Hoje ela volta a Columbia para estudar cinema, e eu que me formei em antropologia e politica Internacional, vou me meter na área de antropologia do aprendizado e da cognição, aqui em Londres na LSE.
Não demorou nada para eu me apaixonar por aqueles olhos azuis cor de piscina e toda aquela intensidade Iraniana. E em pouco tempo ficamos muito amigas. Junto de uma americana de igual sensibilidade, e uma chinesa de total leveza formamos um grupo de encontros. Fazíamos diversos jantares, que terminavam em infidáveis conversas que se passavam em todos os continentes.
Me lembro perfeitamente, de quando a Sara nos contou de sua saída e volta ao Iran. A revolução já tinha acontecido, a Sara ainda criança, lembrava de homens com armas fora do portão de casa. Ela ja não podia brincar na rua, e a família ia sobrevivendo como podia. Um dia, se nenhum aviso, a mãe a acordou e disse que eles estavam indo embora.Ela não sabia para onde, e provavelmente nem porque. Saíram, assim como muitos outros, fugidos, carregando o que podiam e se tornaram umas das muitas famílias Iranianas espalhadas pelo mundo.
Depois de muitos anos, voltou. E a casa ainda estava la. Igualzinha. Tudo no mesmo lugar, a cama desarrumada, os objetos no chão, o dinheiro já sem valor na parede. O mundo ruíra la fora, na casa tudo continuava o mesmo, com um pouco de poeira, mas tudo no mesmo lugar. Ela não, ela já não podia viver mais lá.
Eu nunca vou me esquecer da intensidade daquele momento, de entrar assim na memoria de uma outra pessoa, de enxergar as rugas no lençol. De por um segundo dividir um mundo a parte, num momento tao forte como o de ser expulso da sua própria casa.
E nesses 60 anos de Israel, eu tenho que pensar nisso. Na violência que é arrancar alguem do seu lugar. Não só do seu lugar físico que para um materialista representa a base da cultura, mas de arrancar alguem do seu lugar social. Lugar onde a pessoa se define por suas relações. Mais difícil ainda é para os que nascem nesse "limbo" ( fora do lugar de onde se julgam de origem), presos entre a idéia de uma passado perfeito e inexistente, e um presente inaceitável.
Eu e a pintora, trocamos e-mails, eu vi seus quadros e me encantei. E ela me escreveu naquela intensidade da Sara de quem aprecia os pequenos momentos do dia. No meio do e-mail me perguntou, quanto tempo eu ficaria em Londres. Se eu estava de passagem. E eu entendi, pois tendo morado em muitos países também sinto o mesmo medo. Medo de ser arrancada da minha casa, não da casa física, mas da social. Dessa que me define como pessoa. Ser arrancada e levada para um outro lugar onde de repente sou menos. Sem relação com o outro acabamos não sendo ninguém.
Conheci a Sara, anos atrás quando eu ainda morava e estudava em NY. Se eu nao me engano, foi dentro de um trem, eu conversava em francês com minha roomate, e ela nos abordou pois adorava francês. Por coincidência, estudávamos na mesma faculdade, ela jornalismo e francês, e eu cinema e musica. Hoje ela volta a Columbia para estudar cinema, e eu que me formei em antropologia e politica Internacional, vou me meter na área de antropologia do aprendizado e da cognição, aqui em Londres na LSE.
Não demorou nada para eu me apaixonar por aqueles olhos azuis cor de piscina e toda aquela intensidade Iraniana. E em pouco tempo ficamos muito amigas. Junto de uma americana de igual sensibilidade, e uma chinesa de total leveza formamos um grupo de encontros. Fazíamos diversos jantares, que terminavam em infidáveis conversas que se passavam em todos os continentes.
Me lembro perfeitamente, de quando a Sara nos contou de sua saída e volta ao Iran. A revolução já tinha acontecido, a Sara ainda criança, lembrava de homens com armas fora do portão de casa. Ela ja não podia brincar na rua, e a família ia sobrevivendo como podia. Um dia, se nenhum aviso, a mãe a acordou e disse que eles estavam indo embora.Ela não sabia para onde, e provavelmente nem porque. Saíram, assim como muitos outros, fugidos, carregando o que podiam e se tornaram umas das muitas famílias Iranianas espalhadas pelo mundo.
Depois de muitos anos, voltou. E a casa ainda estava la. Igualzinha. Tudo no mesmo lugar, a cama desarrumada, os objetos no chão, o dinheiro já sem valor na parede. O mundo ruíra la fora, na casa tudo continuava o mesmo, com um pouco de poeira, mas tudo no mesmo lugar. Ela não, ela já não podia viver mais lá.
Eu nunca vou me esquecer da intensidade daquele momento, de entrar assim na memoria de uma outra pessoa, de enxergar as rugas no lençol. De por um segundo dividir um mundo a parte, num momento tao forte como o de ser expulso da sua própria casa.
E nesses 60 anos de Israel, eu tenho que pensar nisso. Na violência que é arrancar alguem do seu lugar. Não só do seu lugar físico que para um materialista representa a base da cultura, mas de arrancar alguem do seu lugar social. Lugar onde a pessoa se define por suas relações. Mais difícil ainda é para os que nascem nesse "limbo" ( fora do lugar de onde se julgam de origem), presos entre a idéia de uma passado perfeito e inexistente, e um presente inaceitável.
Eu e a pintora, trocamos e-mails, eu vi seus quadros e me encantei. E ela me escreveu naquela intensidade da Sara de quem aprecia os pequenos momentos do dia. No meio do e-mail me perguntou, quanto tempo eu ficaria em Londres. Se eu estava de passagem. E eu entendi, pois tendo morado em muitos países também sinto o mesmo medo. Medo de ser arrancada da minha casa, não da casa física, mas da social. Dessa que me define como pessoa. Ser arrancada e levada para um outro lugar onde de repente sou menos. Sem relação com o outro acabamos não sendo ninguém.
sexta-feira, maio 09, 2008
Onde Andaras?
Estava colocando fotografias on-line, quando de repente me deparo com uma foto de um amigo, desses de viagem, com quem subi o Wayna Pichu. Como eu já escrevi aqui antes, fui a Bolívia por causa da Vesna, fui junto do meu amigo Sho, mas como ele tinha menos tempo do que eu para viajar nos separamos no terceiro dia já em La Paz ( depois da saga Santa Cruz- La Paz by bus). Sho desceu rumo ao Salar do Uyuni no Sul da Bolívia, e eu decidi cruzar a fronteira para o Peru.
Fui sozinha, e mais uma vez fui enganada pela companhia do ônibus que me prometera um ônibus que não existia. Aquela velha estoria, eu queria um ônibus com banheiro, a mulher me garantiu que tinha, e naturalmente não existia. A esta altura eu já tava acostumada. Viajei do lado de um Sueco que tinha estado nos lugares mais inóspitos do mundo. Dentre eles Afeganistão ( onde ele inclusive havia sido preso aos 18), Ruanda e Burundi (onde ele pagou o exercito para poder viajar e ter mais "segurança"),e mais alguns outros lugares de que já nem me lembro mais. O cara era muito simpático, e dentre as pessoas que eu conheci continua sendo ate hoje o viajante que esteve em mais países.
Acabei chegando na rodoviária de Cuzco muito mais tarde do que eu imaginava. A chegada inesquecível, com um monte de vendedores, e agentes de turismo gritando a toda altura para tentar te convencer a ir com eles. Eu, preparada, ja tinha reservado minha pousada, e deveria estar sendo aguardada. E claro que não os encontrei. A essas alturas, depois de um monte de horas em um ônibus desconfortável, resolvi correr um risco, resolvi ir com uma agente dessas gritantes. Escolhi uma mulher que eu achei de cara confiável e fui. A mulher de quem tbm já não me lembro o nome era ótima, e acabou meu ajudando em tudo que eu precisei.
No dia seguinte, resolvi ir conhecer o vale sagrado, peguei uma dessa excursões, e levei comigo dinheiro mais do que necessário para passar o dia fora. Passeamos por lugares lindos, subimos e descemos ruínas, e mais ruínas, e eventualmente paramos num desses mercados peruanos. Eu nao sou nem um pouco consumista ( voltei do marrocos sem trazer nada!), nao gosto de fazer compras, mas fiquei encantada com as coisas do tal mercado. Acabei comprando um tapete ( que alias me salvou do frio na Bolívia mas isto eh uma outra estoria), e umas pinturas. Naturalmente, sem saber ainda muito bem a conversão, sem ter nenhum lugar que aceitasse cartão, acabei voltando para o ônibus sem nem perceber que estava sem nenhum tostão.
Quem me salvou foi uma senhora Peruana, que me deu ( quer dizer emprestou pq eu a encontrei para devolver no dia seguinte) dinheiro para comida, e para pagar a entrada de algum lugar. Mais tarde eu a reencontraria em Aguas Calientes onde ela mais uma vez agiria com um anjo da guarda para mim. Isto também fica para um outro post.
Enfim, o fato eh que eventualmente eu cheguei no Machu Pichu e conheci um bombeiro de brasília que me convenceu a subir com ele o Wayna Pichu ( montanha mais alta que fica ao lado do Machu Pichu). Ao passar pelo portão que nos levaria a montanha tivemos que assinar uma lista. So depois eu ficaria sabendo que era para conferir que ninguém tinha caido. Fomos conversando sobre musica, se nao me engano ele tocava trompete, sobre a viagem dele pela america latina, ele pretendia chegar ate a América Central. Ele bombeiro florestal, tinha chegado ao Macchu Pichu seguindo a linha do trem. Estava com os pés doloridos por causa das pedras, mas cada real economizado, seria um km a mais na sua viagem. Sei que subimos, ate a ultima pedra, e vimos la de cima o Machu Pichu. Vimos la de cima uma das mais belas vistas que eu já vi.
Sentamos, apreciamos a paisagem, mortos de sede, esperando que quem sabe uma Cholita aparecesse milagrosamente de algum lugar :) Depois disto nunca mais nos vimos. Nao me lembro o nome dele, ainda que esteja na ponta da língua, e ao ver essa foto hoje tive que pensar sobre isso. Como as coisas são inusitadas. As vezes dividimos momentos preciosos com perfeitos desconhecidos. E eh impressionante como esses momentos tornam desconhecidos mais próximos do que muitos próximos. Ainda que eu não me lembre o nome, ainda que infelizmente não tenhamos trocado e-mails, ainda que eu não saiba ate que pais ele chegou, eu olho para essa foto e sei que dividimos esse momento. Olho e sei que ele esta la. Sei que na fotografia dele eu estou, como a invisível fotografa, de quem o nome ele talvez também nem se lembre. Olho e fico muito grata por ele ter insistido para que eu subisse ate la.
quarta-feira, abril 23, 2008
Pelo sul da Africa
Vesna está no sul da Africa. Falei com ela esses dias e ela já esta em Malawi. Vesna, minha amiga, de quem alias ja falei em muitos posts. Eslovena, que conheci na Ilha Grande no final da sua viagem de um ano pelo mundo. Meses depois, por sua recomendação, fui parar na Bolívia. Bolivia, que alias,continua sendo um dos lugares que mais gostei de conhecer. Quase um ano depois fui cumprir minha promessa feita em tom jocoso na Ilha grande, fui finalmente visita-la la na Eslovênia. Juntas fomos para Croacia, onde conheci sua tia Jelka de quem também tanto já falei.
Vesna, foi picada, pelo o que aqui chamam de travel bug. Depois de voltar para Europa trabalhou um pouco e foi para o Egito. Voltou, e foi para Israel e Jordânia. Ela que viajou sozinha India, China, indonésia, Egito achou a Jordânia difícil. Foi depois dessa viagem que nos encontramos aqui em Londres. Um ano depois de nosso primeiro encontro na Ilha Grande. Logo em seguida, fui visitá-la. Nunca vou me esquecer da estoria que ela contou durante a nossa viagem da Eslovênia a Croácia. Nos viajávamos de trem, e ela contava da rodoviária num vilarejo Jordano há alguns kms da fronteira de Israel. Rodoviária sem funcionários, sem avisos, sem horários e sem ônibus. So com um homem que queria levá-la de taxi ate Petra. Ela ficou. E esperou por 4 horas ate o ônibus, que ela nem sabia se existia, chegar.
Eu que dizia que Vesna já não podia mais me surpreender tive que morder minha língua quando há alguns meses recebo uma mensagem dela dizendo que ela ia a Africa. Para onde você vai?- pergunto. "Estou planejando entrar pelo Quênia e sair pela Africa Sul". E como você vai do Quênia a Africa do Sul? "Por terra". Sou tomada por uma grande emoção. Adoro viagens adoro ver o mundo. " Com quem?" . "Sozinha." Sou tomada por um misto de admiração e apreensão. Não digo nada, desejo boa sorte, pois eu sei que as estas alturas a decisão já foi tomada. Também sei que ela quase nunca vai estar sozinha, pois viajantes são assim, vão se juntando, se conhecendo pelo caminho, se reencontrando, e não importa quão cansativa, difícil tenha sido a viagem, assim que chegam em casa já começam a planejar a próxima saída.
segunda-feira, abril 14, 2008
A Massai Branca
Assisti esses dias o filme a Massai Branca. Na hora eu até gostei um pouco, pois achei a fotografia muito bonita, e afinal de contas não é toda hora que temos a chance de ver um guerreiro Samburu. Durante o filme, no entanto, eu tive uma sensação constante de desconforto. Antes de escrever sobre ela, vou falar um pouco sobre a estória do filme.
O filme é baseado na estória real, de uma suíça, que ao passar ferias no Kenya, se apaixona por um guerreiro Samburu. Ela abandona o namorado ( que está com ela no Kenya), a loja que ela tem na suíça e vai atrás do tal guerreiro. Depois de pegar um monte de ônibus, ela vai parar num vilarejo onde ela encontra um padre italiano, e uma outra mulher européia. A mulher também casada com um Kenyano explica a ela que se o guerreiro quiser, ele a encontra, que no Kenya a mulher espera. E é o que ela faz: espera até o guerreiro ir buscá-la. Então, eventualmente ela muda para tribo do guerreiro, e engravida. No total fica uns dois anos la antes de voltar meio que fugida para Suiça.
Em poucas linhas, essa é a estória do filme. Como eu já disse antes, eu tive sentimentos mesclados ao assisti-lo. A fotografia é bonita, o Kenya é lindo, as cores, as pessoas, e a tribo dos Samburu são fascinantes. O filme é bem manipulador, pois força ao espectador constantemente a visão dessa suíça. Tudo bem, a estória é escrita por ela.
No entanto, alguns aspectos me incomodam, alguns deles são: primeiro que obviamente o que ela sentiu pelo cara que ela viu um segundo não foi amor mas atração sexual que alias termina em pouquíssimo tempo quando ela o conhece mas já está grávida. Ate ai, tudo bem, todo mundo sente. O que me deixa um pouco incomodada é essa noção bem ocidental que temos direito a experimentar tudo. Muitas vezes sem levar em consideração as consequências para os outros.
O filme mostra o lado dela, o que ela sofreu, como foi difícil, e de fato, foi. O que me deixa bem decepcionada é o pouco crédito que é dado a tribo, que a recebe de braços abertos. Uma européia que acha todos os costumes deles meio bárbaros, e que quer mudar a maneira das pessoas se relacionarem como se ela estivesse em Zurich.
Para culminar o descaso total, ela basicamente rouba a filha do pai, mente para ele dizendo que vai passar ferias na Suiça, e vai embora. É claro que eu não estou dizendo que ela tinha que ficar la, nem nada disso. Eu só acho, que o filme é uma grande ´romantização´ ( como deve ser o livro), de uma estória na verdade de uma mulher meio egoísta e impulsiva. Que não mediu as consequências dos seus atos na vida dos outros em nenhum momento. O filme, a retrata como a grande aventureira que foi la, se apaixonou, ficou, e quando não deu mais partiu. Ta certo, é o lado dela. Para mim, pareceu um pouco mais aquela velha estória do ocidental que tem direito de fazer o que quer, e ir embora quando não quer mais. O guerreiro Samburu, a tribo, e todas as pessoas pessoas que se abriram, que a aguentaram, que tiveram de certa forma um membro da familia ( a filha) roubado, são quem pagam o preço. São os que aliás não têm nem seu nome escrito na capa do livro ou filme. Em vez de Samburu, ela escolheu a palavra Massai, um tribo relacionada aos Samburu mais conhecida mas distinta.
segunda-feira, março 31, 2008
Cinema, Aspirinas e Urubus
A minha primeira aula de antropologia, foi sobre as populações indígenas da América do Sul. Peguei meio por acaso, pois tinha conhecido o professor que a ensinava andando pelo jardim da faculdade. Gostei tanto, que no semestre seguinte me inscrevi em mais duas aulas dele. Uma delas era uma aula sobre documentários e filmes etnográficos.
Eu sempre gostei de cinema europeu, de fellini, truffaut, dos iranianos por isso achei que seria natural para mim esta aula. Não foi, logo no primeiro filme,achei difícil me focar. Percebi que me faltava a atenção, talvez maturidade, ou mesmo paciência. E dessas coisas que acontecem por acaso, assim que eu desisti eu comecei a achar cada vez mais interessante.
Os detalhes. A humanidade, não aquele discurso de filme que quer ser cult, mas o olhar perdido num cinema verite, ou detalhe posto numa cena, que no meio da correria do dia a dia nem percebemos. Comecei a gostar cada vez mais destes filmes liricos, humanos. E paralelamente comecei a desgostar daquela formula simples do cinema (primeiro cada um na sua, depois conflito e resolução) onde todo mundo se transporta e sai resolvido.
Meio como a musica que tem formulas cada vez mais repetitivas e simples. Tenho a impressão que sempre gostamos dos momentos de reconhecimento. Estes também acontecem em qualquer sinfonia, ou sonata, demoram mais do que na musica moderna, os temas vem meio modificados ou em outro tom, mas da um prazer enorme quando eles reaparecem. Parece-me no entanto que as pessoas parecem ter cada vez menos paciência. Menos paciência para esperar esses momentos, que de esperados se tornam tao belos e poéticos.
Fui assistir um dia desses o cirque de soleil. Gostei, eh impressionante mas eh muito. Achei demais. O James Thieree com 5 pessoas criou um espetáculo para mim, bem mais bonito. Um espetáculo que ainda conseguimos nos relacionar com quase tudo do que ta acontecendo.
Este meu texto de pura divagação era para falar do filme Cinema, Aspirinas e Urubus, que eh lindo. Com momentos absolutamente plásticos e tocantes. Quando fui aluga-lo perguntei se o filme era bom. O moco me olhou serio e disse, 'olha eh parado então eh meio chato ne ?'
terça-feira, março 25, 2008
Bom tempo
Estou bem. A todos que mandaram energias, pensamentos muito obrigada! Estou bem. Me sinto bem assim como me senti todos os dias antes, todos os dias no hospital, e todos os dias depois. Quer dizer, tirando o intervalo de uma reação alérgica que tive a um remédio. irônico, eu que ja odeio remédios halopaticos, tive sintomas muito piores por causa do remédio do que da minha pequena, muito pequena, convulsão parcial.
Me sinto bem e eu já fui para Gonçalves no sul de Minas passar a pascoa. Subi montanha, fiz horas de Yoga, entrei em cachoeira gelada e ate assisti Indiana Jones. Alias como e racista aquele começo de filme. Com os índios todos terríveis, e o americano bom, professor de arqueologia indo ROUBAR artefatos!!! Enfim. Para não falar nos outros estereótipos.. alemães, árabes etc..
Em busca de bons tempos, coloco aqui um vídeo gravado em Marrakech por minha amiga Mounia. Um video de mim, enrolando tragicamente em Bom Tempo do Chico. Mas em busca de bons tempos, e na celebração da minha decisão de voltar a musica, eu celebrarei tbm os meus erros :)
Me sinto bem e eu já fui para Gonçalves no sul de Minas passar a pascoa. Subi montanha, fiz horas de Yoga, entrei em cachoeira gelada e ate assisti Indiana Jones. Alias como e racista aquele começo de filme. Com os índios todos terríveis, e o americano bom, professor de arqueologia indo ROUBAR artefatos!!! Enfim. Para não falar nos outros estereótipos.. alemães, árabes etc..
Em busca de bons tempos, coloco aqui um vídeo gravado em Marrakech por minha amiga Mounia. Um video de mim, enrolando tragicamente em Bom Tempo do Chico. Mas em busca de bons tempos, e na celebração da minha decisão de voltar a musica, eu celebrarei tbm os meus erros :)
terça-feira, março 04, 2008
A vida
Faz hoje exatamente 1 semana que eu sai do Hospital. Sai bem, e no dia seguinte já fui fazer Yoga. Achei que depois de 10 dias meio que numa cama, ia ficar cansada, mas não, foi tudo tranqüilo. Ainda bem.
Neste post no entanto, não quero falar nem em doença, nem no meu processo de cura, mas da vida. Sexta passada, acordei e vim tomar cafe da manha para descobrir que minha prima que tinha trabalhado um dia antes, e estado comigo na tarde anterior com sua barriga enorme, tinha ido para a maternidade. Fui tomada por uma emoção sem limites. Claro que eu já tinha estado perto de outras gravidas, ja tinha me emocionado antes, mas saber que a minha prima estava na maternidade me arrebatou.
Liguei la, não queria ser um incomodo, mas o marido dela, disse que eu podia ir para la se quisesse. Sai correndo, queria vê-la antes de ir para a cesária. A cesária tava marcada para as 9, cheguei as 8:58. Corri, e cheguei a tempo, mesmo pq ela so foi mesmo para a sala as 10:30.
Minha prima uma rocha, muito diferente de mim que estaria gritando e reclamando. ela não. austera, controlada, com contrações a cada 2 minutos, fazia as vezes umas caretas. não muitas. E de repente ela foi, com minha tia que queria muito assistir ao parto. E eu fiquei do lado do de fora, com o pai, calmo. mais que calmo que eu umas mil vezes. Ficamos aguardando, o que se sabe que vai dar certo, mas ansiosos mesmo assim.
E de repente fomos chamados, na porta e através do vidro, vimos, eu e o pai, aquelas 3 pequeninas deitadas de toquinha. E a vida ela eh arrebatadora, porque ali na sua forma mais frágil e forte sai derrubando tudo e todos pela frente.
Minha prima, que viveu sempre para ser discreta, teve num ano bissexto, no dia 29 de fevereiro três lindas meninas.
Neste post no entanto, não quero falar nem em doença, nem no meu processo de cura, mas da vida. Sexta passada, acordei e vim tomar cafe da manha para descobrir que minha prima que tinha trabalhado um dia antes, e estado comigo na tarde anterior com sua barriga enorme, tinha ido para a maternidade. Fui tomada por uma emoção sem limites. Claro que eu já tinha estado perto de outras gravidas, ja tinha me emocionado antes, mas saber que a minha prima estava na maternidade me arrebatou.
Liguei la, não queria ser um incomodo, mas o marido dela, disse que eu podia ir para la se quisesse. Sai correndo, queria vê-la antes de ir para a cesária. A cesária tava marcada para as 9, cheguei as 8:58. Corri, e cheguei a tempo, mesmo pq ela so foi mesmo para a sala as 10:30.
Minha prima uma rocha, muito diferente de mim que estaria gritando e reclamando. ela não. austera, controlada, com contrações a cada 2 minutos, fazia as vezes umas caretas. não muitas. E de repente ela foi, com minha tia que queria muito assistir ao parto. E eu fiquei do lado do de fora, com o pai, calmo. mais que calmo que eu umas mil vezes. Ficamos aguardando, o que se sabe que vai dar certo, mas ansiosos mesmo assim.
E de repente fomos chamados, na porta e através do vidro, vimos, eu e o pai, aquelas 3 pequeninas deitadas de toquinha. E a vida ela eh arrebatadora, porque ali na sua forma mais frágil e forte sai derrubando tudo e todos pela frente.
Minha prima, que viveu sempre para ser discreta, teve num ano bissexto, no dia 29 de fevereiro três lindas meninas.
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
10 dias no Hospital
Estou no Hospital faz 10 dias. Estar no hospital nem eh tao ruim assim. Em outubro um dia antes de voltar do Marrocos, senti um choque na mão. senti de novo no avião, em casa e ai acabei indo ao hospital. La chegando achando que eu tinha uma nervo pinçado me fizeram ir fazer uma tomografia. Saindo da tomografia ainda tranqüila, vi o neurologista chegando com cara de pesar e me informando que eu tinha uma assimetria no cérebro. Quis me jogar pela janela. Eu que nunca tomei nem aspirina. Medrosa. Fui mandada para fazer ressonância... usei todos os exercícios de respiração que eu conhecia para me acalmar. Fui internada. Queriam que eu fizesse uma punção (exame onde se tira um liquido da espinha), e eu que morro de medo disse que não. Fugi do hospital e joguei o meu ateísmo pela janela para ir procurar todas as pessoas religiosas e templos que eu conhecia.
Haiko, ateu, e Juliana agnóstica, me acompanharam em tudo. Apesar de terem opiniões distintas eles respeitaram as minha decisões. Por isso serei eternamente grata! . Conheci um Yogi, que falou comigo, e disse que eu precisava mudar minha vida. Ele,um homem moderado, me falou para continuar tomando os anti-convulsivos que me tinham sido dados e mudar a minha vida. Eu que não estava estudando, nem trabalhando meio que definhando e arrumando um milhão de viagens para fugir da minha vida tinha que mudar. Mudei radicalmente no começo, e me lembro do Yogi me dizer que moderação e longevidade seria mais importante do que radicalismo a curto prazo. Foi categórico: senão isso desaparece nesse lugar e aparece em outro.
Então, eu que não gosto nem de tomar aspirina fui procurar um medico que me mandasse parar de tomar o remédio. O encontrei.Parei. Passou outubro, novembro, dezembro, janeiro, e no dia 15 de fevereiro enquanto eu falava com minha mãe no telefone perdi a fala. Não o pensamento, não a voz, mas a articulação. Eu que estava ansiosa há 4 meses, soube na hora que nao havia mais desculpa eu precisava entra ir ao medico.
Sem articular muito bem consegui contatar o Haiko que em 20 minutos estava em casa. Fomos ao GP (clinico geral), que a 1 da tarde me mandou voltar as 3:50. Esperei ate as 3:50 e ao ver meu histórico a GP achou melhor marcar uma consulta com o neurologista. Quanto tempo?? perguntei. Dentro de 3 semanas. E se eu tiver outros ataques??? Ao que ela respondeu 1 por dia tudo bem, mas se tiver mais que isso vá ao Hospital.
Quando relatei isso aos meus pais, eles me mandaram pegar o avião imediatamente. Encontro meu pai comprava uma passagem para 4 horas depois, eu jogava umas coisas na mala. saímos direto para o aeroporto. E mais uma vez a Juliana e o Haiko foram me apoiar la.
Cheguei em são paulo no sábado de manha e vim direto para o hospital. Como minha mãe já havia falado com o medico, já me esperavam aqui. O primeiro achou meus sintomas meio difusos parecia mais uma coisa psicológica . De qualquer jeito imediatamente me mandou para ressonância. 2 horas depois estava la meu resultado e de fato com uma anomalia. Não tinha mais jeito, eu ia ter que fazer a punção. Todo o meu medo tinha sido injustificado. O medico um artista, tirou licor da minha espinha sem eu sentir NADA!
Ai veio o time de neurologistas. Eu tenho 4. E me contaram que eu tinha 2 lesões do lado esquerdo. Fiquei em estado de choque.. Como esquerdo, em Londres era no direito?? Os médicos acharam que eu estava enganada, mas eh claro que não me disseram isso. Haiko no entanto, conseguiu mandar os exames.... e um por um ficou perplexo. Fui mandada ate ao Sao Jose, novo hospital da Beneficiencia Portuguesa para que um outro medico avaliasse. La passei 1 hora e 50 minutos dentro da melhor maquina de ressonância de sao paulo.
Quando sai de la. Os médicos tinham um diagnostico. Nao totalmente claro, pois eu tenho algumas contradições. O que eu tenho são lesões causadas por desmielinação ( em termos simples a perda das capas dos fios do cérebro). Bom, isso pode ser causado por Adem (ACUTE DISSEMINATED ENCEPHALOMYELITIS), uma doença aguda que acontece uma vez por contato com vírus ou bactéria. Ou Múltipla Esclerose uma doença cronica que não se sabe porque acontece. De qualquer maneira são doenças auto-imunes, ou seja ou meu corpo reagindo contra meu corpo.
Das ironias da vida, meu Yogi deu esse diagnostico sem nem ver nenhum exame. Para ele eh de fundo psicosomatico , mas que eu preciso tratar do orgânico e depois e junto do resto. Do lado positivo eu fui aceita para fazer mestrado na LSE de Antropologia da Aprendizado e da cognição.
A equipe aqui eh um doce. E eu serei eternamente grata a cada enfermeiro, assistente de enfermeiro, faxineiro, medico, nutricionista que não apenas me atenderam mas que me fizeram sentir da melhor forma possível num hospital sem saber o que eu tinha.O choque eh você entrar achando que não tem nada e ter. Depois eh torcer pelo menos pior. Coloca-se as coisas em perspectiva, e faz repensar a vida. Aceitei e sou grata a cada prece e pensamento positivo que tenho recebido de muçulmanos, espiritas, católicos, budistas, yogues, adventistas, agnosticos e ateus. Hoje sou capaz de compreender não só intelectualmente mas emocionalmente por que os dervixes viram, porque os muçulmanos se abaixam 5 vezes, porque tem que vá a missa. Indepentemente de se acreditar em deus ou não, nesse momentos da uma forca enorme pensar no seu poder próprio de mudar as coisas, e da mais conforto ainda saber que os que crêem um pouquinho e ate os que nao creem se manifestam.
Haiko, ateu, e Juliana agnóstica, me acompanharam em tudo. Apesar de terem opiniões distintas eles respeitaram as minha decisões. Por isso serei eternamente grata! . Conheci um Yogi, que falou comigo, e disse que eu precisava mudar minha vida. Ele,um homem moderado, me falou para continuar tomando os anti-convulsivos que me tinham sido dados e mudar a minha vida. Eu que não estava estudando, nem trabalhando meio que definhando e arrumando um milhão de viagens para fugir da minha vida tinha que mudar. Mudei radicalmente no começo, e me lembro do Yogi me dizer que moderação e longevidade seria mais importante do que radicalismo a curto prazo. Foi categórico: senão isso desaparece nesse lugar e aparece em outro.
Então, eu que não gosto nem de tomar aspirina fui procurar um medico que me mandasse parar de tomar o remédio. O encontrei.Parei. Passou outubro, novembro, dezembro, janeiro, e no dia 15 de fevereiro enquanto eu falava com minha mãe no telefone perdi a fala. Não o pensamento, não a voz, mas a articulação. Eu que estava ansiosa há 4 meses, soube na hora que nao havia mais desculpa eu precisava entra ir ao medico.
Sem articular muito bem consegui contatar o Haiko que em 20 minutos estava em casa. Fomos ao GP (clinico geral), que a 1 da tarde me mandou voltar as 3:50. Esperei ate as 3:50 e ao ver meu histórico a GP achou melhor marcar uma consulta com o neurologista. Quanto tempo?? perguntei. Dentro de 3 semanas. E se eu tiver outros ataques??? Ao que ela respondeu 1 por dia tudo bem, mas se tiver mais que isso vá ao Hospital.
Quando relatei isso aos meus pais, eles me mandaram pegar o avião imediatamente. Encontro meu pai comprava uma passagem para 4 horas depois, eu jogava umas coisas na mala. saímos direto para o aeroporto. E mais uma vez a Juliana e o Haiko foram me apoiar la.
Cheguei em são paulo no sábado de manha e vim direto para o hospital. Como minha mãe já havia falado com o medico, já me esperavam aqui. O primeiro achou meus sintomas meio difusos parecia mais uma coisa psicológica . De qualquer jeito imediatamente me mandou para ressonância. 2 horas depois estava la meu resultado e de fato com uma anomalia. Não tinha mais jeito, eu ia ter que fazer a punção. Todo o meu medo tinha sido injustificado. O medico um artista, tirou licor da minha espinha sem eu sentir NADA!
Ai veio o time de neurologistas. Eu tenho 4. E me contaram que eu tinha 2 lesões do lado esquerdo. Fiquei em estado de choque.. Como esquerdo, em Londres era no direito?? Os médicos acharam que eu estava enganada, mas eh claro que não me disseram isso. Haiko no entanto, conseguiu mandar os exames.... e um por um ficou perplexo. Fui mandada ate ao Sao Jose, novo hospital da Beneficiencia Portuguesa para que um outro medico avaliasse. La passei 1 hora e 50 minutos dentro da melhor maquina de ressonância de sao paulo.
Quando sai de la. Os médicos tinham um diagnostico. Nao totalmente claro, pois eu tenho algumas contradições. O que eu tenho são lesões causadas por desmielinação ( em termos simples a perda das capas dos fios do cérebro). Bom, isso pode ser causado por Adem (ACUTE DISSEMINATED ENCEPHALOMYELITIS), uma doença aguda que acontece uma vez por contato com vírus ou bactéria. Ou Múltipla Esclerose uma doença cronica que não se sabe porque acontece. De qualquer maneira são doenças auto-imunes, ou seja ou meu corpo reagindo contra meu corpo.
Das ironias da vida, meu Yogi deu esse diagnostico sem nem ver nenhum exame. Para ele eh de fundo psicosomatico , mas que eu preciso tratar do orgânico e depois e junto do resto. Do lado positivo eu fui aceita para fazer mestrado na LSE de Antropologia da Aprendizado e da cognição.
A equipe aqui eh um doce. E eu serei eternamente grata a cada enfermeiro, assistente de enfermeiro, faxineiro, medico, nutricionista que não apenas me atenderam mas que me fizeram sentir da melhor forma possível num hospital sem saber o que eu tinha.O choque eh você entrar achando que não tem nada e ter. Depois eh torcer pelo menos pior. Coloca-se as coisas em perspectiva, e faz repensar a vida. Aceitei e sou grata a cada prece e pensamento positivo que tenho recebido de muçulmanos, espiritas, católicos, budistas, yogues, adventistas, agnosticos e ateus. Hoje sou capaz de compreender não só intelectualmente mas emocionalmente por que os dervixes viram, porque os muçulmanos se abaixam 5 vezes, porque tem que vá a missa. Indepentemente de se acreditar em deus ou não, nesse momentos da uma forca enorme pensar no seu poder próprio de mudar as coisas, e da mais conforto ainda saber que os que crêem um pouquinho e ate os que nao creem se manifestam.
sexta-feira, fevereiro 08, 2008
Carnaval em Maastricht
Passamos o carnaval em Maastricht, cidade onde o Haiko cresceu. Maastricht eh uma cidade medieval no sul da holanda. Holanda, ou melhor, Paises Baixos que sao divididos em sul catolico e norte protestante, no sul celebra-se o carnaval.
A primeira vez que o Haiko me falou para irmos passar o carnaval la, fiquei um pouco apreensiva imaginando como seria o carnaval holandês... Dessa vez levei um casal de amigos com o filho e uma amiga... todos brasileiros. O Haiko nao se cansava de explicar a eles as maravilhas do carnaval de Maastricht e eu imagino que eles devam ter ficado como eu no passado: meio na duvida.
E assim como eu, eles se encantaram. Cada um com seu motivo. O meu encanto eh ver todo mundo fantasiado na rua. Da para ver que as pessoas planejam, fazem a mao, se preparam. E o resultado eh um mar de cores, de idéias, de lirismo.
As criancas, os velhinhos, os adultos todos vao para rua cantar e dancar. Cantam musicas carnavalescas que parecem as nossas marchinhas de antigamente, as vezes em ritmo meio de valsa, noutras um pouco mais alegrinha. Em meio a festa ouvimos ate hilarie em holandes!
Meus amigos acharam surpreendente perceber que com toda essas gente na rua, toda a cerveja, toda a musica nao vimos sequer uma briga, um desentendimento, ou um policial. Chama a atencao. Nao so chamou a nossa mas também de uma outra brasileira que conhecemos no aviao.
E eh incrível perceber o poder desses 3 dias na vida das pessoas. Tres dias onde ha troca de papeis e todo mundo volta a criar. Volta a pintar o rosto, dancar, rir, dividir, cantar. E eh bonito de ver as pessoas criando. Criando fantasias, personagens, ideias, pinturas, atos. E percebe-se que dentro do ambiente 'certo' todo mundo volta a brincar.
sexta-feira, janeiro 25, 2008
What´s love got to do with it?
Depois que eu escrevi sobre a sociedade doente, adoeci. Nada grave, e mais fruto da minha exaustão do que qualquer outra coisa. Estive viajando nesse final de ano. Passei pela holanda, belgica, luxembourgo, espanha e irlanda. No final de noites mal dormidas e caminhadas sob a chuva eu fiquei doente. Mal estou me recuperando e ja embarco para Maastricht na sexta que vem.
Na espanha fiquei num apartamento de estudantes onde conheci um menino que me tocou com suas palavras. Um Venezuelano que pensa muitas coisas que eu nao penso, que viveu em Miami muitos anos e agora vive em Madrid.
Discutimos muitas coisas logo nos primeiros dias. Deixando de lado, tudo que eu discordei dele no principio vou direto a tal noite. Uma noite onde eu estava sentada rodeada por um brasileiro, uma francesa, uma espanhola, e o Venezuelano.
Nao sei do que falávamos, e como foi que chegamos ao tópico. Eventualmente, nao sei como, Carlos, o venezuelano, disse que tinha amigos neo nazistas. Eu, fiquei estarrecida. COMO??? Como ASSIM?? Ele explicou que nao concordava com a visao deles, mas que como eles o tratavam bem, não os destratava. Cada um tem sua opinião.
Quem me conhece pode imaginar o que isso me causou. Total desespero. ´Como assim???´ O cara propaga o ódio mas é legal com vc entao é seu amigo???? ~sim~ E se fosse um cara da KKK e te tratasse bem??? ~tbm trataria~ eu realmente nao sabia o que dizer. me senti tão revoltada. fraca. perplexa. como assim????? um cara que batesse aqui no nosso amigo que é gay?? ou estuprasse a sua amiga e te tratasse bem???
Carlos, dizia que ele o trataria bem. E eu dizia que precisamos de legislação para evitar isso. Carlos dizia que eu estaria fazendo o mesmo. Como o mesmo?? ~Sao diferenças de opinião~Como diferença de opinião?? Diferença de opinião é : eu gosto de amarelo e você de azul, não eu acho que você não deve existir!!!!
E eu argumentava, argumentava, e ele me explicava que não concordava com as opinioes do neo nazi, mas que os tratava bem. e de repente veio
`eu sei que voces não acreditam, mas eu sou evangélico, e acredito que só há mudança através do amor. eu os trato bem porque espero que assim eles reconsiderem seu comportamento. Isola-los não resolve.´
Me nocauteou. E eu nem sabia direito porque. E eu concordo com o Carlos que isolar, detestar não traz mudança positivas. No entanto, não podemos viver numa sociedade onde eu como mulher tenha que esperar o amor, a transformação dos outros para poder votar, ganhar o mesmo, não ser discriminada.Não podemos esperar o amor do do outro para o chico poder casar com quem ele quer. Para o Ahmed, ou Chinua, ou Severino serem bem tratados.
Me nocauteou porque toca num ponto polêmico. Eu reconheço que muitas das lutas por defesa dos direitos humanos, segue mais uma agenda política e econômica do que real interesse nos tais seres. Também reconheço que são muitas vezes coloniais. O que é mais difícil de reconhecer é que sim, respeitar os direitos humanos é um paradigma arbitrário como qualquer outro. Isso é mais difícil de aceitar. Assim como é difícil aceitar que não existe liberdade de expressão e que nem seria bom existir. Que alguns tem mais liberdade do que outros, dependendo de quem são, do que dizem de onde estão.
Frases como ~meu direito acaba onde o do outro começa~ são vazias. Não dizem quase nada e são mais para terminar discussões. O que toda essa discussão me faz perceber é que apesar de todo a minha luta por querer respeitar o outro, nela eu sempre ferirei o direito do que quer um mundo distinto.
Será que só há realmente mudança positiva através do amor altruísta e respeito?? Num mundo mais avançado, num outro zeitgeist eu até acredito que sim. Por enquanto, no entanto, acho imprescindível que nos que acreditamos na defesa dos direitos humanos os defendamos. Acho que é importante que nós, mesmo correndo o risco de sermos um pouco arbitrários continuemos advogando por respeito e mais igualdade.
Na espanha fiquei num apartamento de estudantes onde conheci um menino que me tocou com suas palavras. Um Venezuelano que pensa muitas coisas que eu nao penso, que viveu em Miami muitos anos e agora vive em Madrid.
Discutimos muitas coisas logo nos primeiros dias. Deixando de lado, tudo que eu discordei dele no principio vou direto a tal noite. Uma noite onde eu estava sentada rodeada por um brasileiro, uma francesa, uma espanhola, e o Venezuelano.
Nao sei do que falávamos, e como foi que chegamos ao tópico. Eventualmente, nao sei como, Carlos, o venezuelano, disse que tinha amigos neo nazistas. Eu, fiquei estarrecida. COMO??? Como ASSIM?? Ele explicou que nao concordava com a visao deles, mas que como eles o tratavam bem, não os destratava. Cada um tem sua opinião.
Quem me conhece pode imaginar o que isso me causou. Total desespero. ´Como assim???´ O cara propaga o ódio mas é legal com vc entao é seu amigo???? ~sim~ E se fosse um cara da KKK e te tratasse bem??? ~tbm trataria~ eu realmente nao sabia o que dizer. me senti tão revoltada. fraca. perplexa. como assim????? um cara que batesse aqui no nosso amigo que é gay?? ou estuprasse a sua amiga e te tratasse bem???
Carlos, dizia que ele o trataria bem. E eu dizia que precisamos de legislação para evitar isso. Carlos dizia que eu estaria fazendo o mesmo. Como o mesmo?? ~Sao diferenças de opinião~Como diferença de opinião?? Diferença de opinião é : eu gosto de amarelo e você de azul, não eu acho que você não deve existir!!!!
E eu argumentava, argumentava, e ele me explicava que não concordava com as opinioes do neo nazi, mas que os tratava bem. e de repente veio
`eu sei que voces não acreditam, mas eu sou evangélico, e acredito que só há mudança através do amor. eu os trato bem porque espero que assim eles reconsiderem seu comportamento. Isola-los não resolve.´
Me nocauteou. E eu nem sabia direito porque. E eu concordo com o Carlos que isolar, detestar não traz mudança positivas. No entanto, não podemos viver numa sociedade onde eu como mulher tenha que esperar o amor, a transformação dos outros para poder votar, ganhar o mesmo, não ser discriminada.Não podemos esperar o amor do do outro para o chico poder casar com quem ele quer. Para o Ahmed, ou Chinua, ou Severino serem bem tratados.
Me nocauteou porque toca num ponto polêmico. Eu reconheço que muitas das lutas por defesa dos direitos humanos, segue mais uma agenda política e econômica do que real interesse nos tais seres. Também reconheço que são muitas vezes coloniais. O que é mais difícil de reconhecer é que sim, respeitar os direitos humanos é um paradigma arbitrário como qualquer outro. Isso é mais difícil de aceitar. Assim como é difícil aceitar que não existe liberdade de expressão e que nem seria bom existir. Que alguns tem mais liberdade do que outros, dependendo de quem são, do que dizem de onde estão.
Frases como ~meu direito acaba onde o do outro começa~ são vazias. Não dizem quase nada e são mais para terminar discussões. O que toda essa discussão me faz perceber é que apesar de todo a minha luta por querer respeitar o outro, nela eu sempre ferirei o direito do que quer um mundo distinto.
Será que só há realmente mudança positiva através do amor altruísta e respeito?? Num mundo mais avançado, num outro zeitgeist eu até acredito que sim. Por enquanto, no entanto, acho imprescindível que nos que acreditamos na defesa dos direitos humanos os defendamos. Acho que é importante que nós, mesmo correndo o risco de sermos um pouco arbitrários continuemos advogando por respeito e mais igualdade.
quarta-feira, janeiro 02, 2008
Sintomas de Uma Sociedade Doente II
Queria falar de duas estorias nesse topico. A relacao entre elas nao é tao obvia mas por alguma razao meu cerebro as ligou imeditamente assim que ouvi a segunda. Uma se passou no EUA em contraponto com a Holanda, e a outra na Holanda em contraponto com a India. Mas nao é bem a holanda o ponto em comum, mas deixemos ele mais para frente.
Passei um ano estudando em Amsterda, e no dia de voltar para NY, para finalmente me formar, meu voo foi cancelado. Com um dia extra, Haiko e eu decidimos fazer algo de diferente: ir a um parque aquatico. Passamos o dia inteiro para chegar até la, e quando chegamos o lugar estava lotado de criancas. Criancas pequenas, correndo de la pra ca no chao molhado, subindo em pequenos cogumelinhos de cimento e pulando de um um cogumelo para o outro. Algumas caiam, choravam e logo depois levantavam e continuavam a brincar. Havia alguns salva-vidas mas ninguem interferiu. Comentei com o Haiko que aquilo ali seria impossivel nos EUA, haveria placas para todos os lados proibindo tais atitudes.
No dia seguinte, vooei para NY, e assim que cheguei fui nadar na piscina da Universidade. Havia um aviso novo, cartazes pelas paredes com letras garrafais "IT IS FORBIDEN TO PLAY BREATHING GAMES!" Espantada e curiosa, fui perguntar o que aquilo significava. O salva vida com cara de pesar me explicou que era muito perigoso atravessar a piscina sem respirar, e que era proibido faze-lo. Nossa, eu realmente estava de volta ao EUA! NA hora, achei aquilo hilario, mas depois pensando mais a respeito achei triste.
A minha segunda estoria, diz respeito a um casal holandes que foi viajar pela India durante 6 meses. Viajaram por muitas regioes, participaram de rituais, e fizeram inumeras fotografias. Quando voltaram a Holanda, mostraram essas fotografias numa noite de slides e estorias. O homem tambem contou que desde que voltara estava um pouco deprimido. Claro que a diferenca de realidades entre os dois paises é suficiente para um choque cultural mas esse choque foi exacerbado por um cartaz. O homem, professor de universidade na holanda, contou que ao voltar ao trabalho tinha encontrado no banheiro da faculdade um cartaz absurdo. O cartaz dizia:"por causa de possivel mal cheiro e barulho é proibido defecar neste banheiro!"
Quando eu ouvi esta estoria, imediatamente me veio a cabeca a proibicao na piscina. O problema nao sao exatamente estes dois cartazes que isolados sao ate engracados. O problema esta nessa tendencia. Como é que nos estamos deixando um geracao de criancas crescer sem ter direito a cair??? Sem poder aprender a levantar, sem tomar uma decisao sem ligar no celuluar dos pais??? Sem se arranhar, sem calcular riscos, sem planejar??? O que acontece numa sociedade onde deslocamos a nossa responsabilidade para os outros, para o governo, processando a tudo e a todos???? Como é que chegamos ao ponto que um banheiro nao é mais lugar para defecar, como se tivessimos que nos "aperfeicoar" tanto, que tenhamos que nos "desvencilhar" das nossa funcoes vitais ??? Como se tivessemos que nos afastar da nossa humanidade.
ps: continuo viajando sem acesso a um teclado que eu conheca.
--
Passei um ano estudando em Amsterda, e no dia de voltar para NY, para finalmente me formar, meu voo foi cancelado. Com um dia extra, Haiko e eu decidimos fazer algo de diferente: ir a um parque aquatico. Passamos o dia inteiro para chegar até la, e quando chegamos o lugar estava lotado de criancas. Criancas pequenas, correndo de la pra ca no chao molhado, subindo em pequenos cogumelinhos de cimento e pulando de um um cogumelo para o outro. Algumas caiam, choravam e logo depois levantavam e continuavam a brincar. Havia alguns salva-vidas mas ninguem interferiu. Comentei com o Haiko que aquilo ali seria impossivel nos EUA, haveria placas para todos os lados proibindo tais atitudes.
No dia seguinte, vooei para NY, e assim que cheguei fui nadar na piscina da Universidade. Havia um aviso novo, cartazes pelas paredes com letras garrafais "IT IS FORBIDEN TO PLAY BREATHING GAMES!" Espantada e curiosa, fui perguntar o que aquilo significava. O salva vida com cara de pesar me explicou que era muito perigoso atravessar a piscina sem respirar, e que era proibido faze-lo. Nossa, eu realmente estava de volta ao EUA! NA hora, achei aquilo hilario, mas depois pensando mais a respeito achei triste.
A minha segunda estoria, diz respeito a um casal holandes que foi viajar pela India durante 6 meses. Viajaram por muitas regioes, participaram de rituais, e fizeram inumeras fotografias. Quando voltaram a Holanda, mostraram essas fotografias numa noite de slides e estorias. O homem tambem contou que desde que voltara estava um pouco deprimido. Claro que a diferenca de realidades entre os dois paises é suficiente para um choque cultural mas esse choque foi exacerbado por um cartaz. O homem, professor de universidade na holanda, contou que ao voltar ao trabalho tinha encontrado no banheiro da faculdade um cartaz absurdo. O cartaz dizia:"por causa de possivel mal cheiro e barulho é proibido defecar neste banheiro!"
Quando eu ouvi esta estoria, imediatamente me veio a cabeca a proibicao na piscina. O problema nao sao exatamente estes dois cartazes que isolados sao ate engracados. O problema esta nessa tendencia. Como é que nos estamos deixando um geracao de criancas crescer sem ter direito a cair??? Sem poder aprender a levantar, sem tomar uma decisao sem ligar no celuluar dos pais??? Sem se arranhar, sem calcular riscos, sem planejar??? O que acontece numa sociedade onde deslocamos a nossa responsabilidade para os outros, para o governo, processando a tudo e a todos???? Como é que chegamos ao ponto que um banheiro nao é mais lugar para defecar, como se tivessimos que nos "aperfeicoar" tanto, que tenhamos que nos "desvencilhar" das nossa funcoes vitais ??? Como se tivessemos que nos afastar da nossa humanidade.
ps: continuo viajando sem acesso a um teclado que eu conheca.
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